Margaridas seguem em marcha por acesso à terra, direito à água e em defesa da agroecologia

FONTE: Comunicação Marcha das Margaridas 2019 – Vanessa Marinho

Já imaginou um Brasil em que todas as famílias agricultoras tivessem direito à terra e à água, com liberdade e autonomia para plantar como quisessem? Agora imagina se essas mesmas famílias pudessem alimentar todo o país com comida de verdade, sem veneno, respeitando a vida e o meio ambiente. As mulheres do campo, da floresta e das águas acreditam que essa pode ser sim uma realidade e defendem que a agroecologia e a agricultura familiar são bases concretas de transformação para a nossa sociedade. É o que também acredita Irene Maria Cardoso, professora da Universidade Federal de Viçosa e grande referência da agroecologia no Brasil. 

Nas últimas décadas tem sido difundida na sociedade a ideia de que não é possível produzir sem agrotóxicos. Nesse mesmo sentido, existe também um discurso de que a agroecologia não é capaz de produzir alimentos suficientes para alimentar o mundo. A professora Irene Cardoso argumenta que se existir uma pessoa no mundo capaz de produzir sem agrotóxicos, todas podem produzir. “É uma questão de aprender a fazer. Eu costumo dizer que quem não tem competência para fazer, tem que ter a humildade de aprender com quem sabe. Hoje existem inúmeros agricultores(as) no mundo que produzem sem veneno. É com eles que nós temos que aprender. Quem fala que não é possível produzir sem agrotóxico tem que falar assim: eu não tenho competência para produzir sem agrotóxico. Vários estudos mostram que a agroecologia tem potencial para alimentar o mundo, mas é preciso de apoio da sociedade”, afirma.   

A agroecologia é um modo de vida e de produção que garantem a soberania e a segurança alimentar, que pressupõem o cuidado com os bens comuns, além de relações sociais, econômicas e políticas justas entre as pessoas e o respeito a todos os seres do planeta. Entretanto, além do apoio da sociedade, o acesso à terra e à água são imprescindíveis para que as famílias pratiquem a agroecologia. Num país de proporções continentais como o Brasil, as estatísticas demonstram que a concentração de terra ainda é altíssima. Para as mulheres do campo, da floresta e das águas a garantia do direito à terra é bandeira de luta central. 

Já imaginou um Brasil em que todas as famílias agricultoras tivessem direito à terra e à água, com liberdade e autonomia para plantar como quisessem? Agora imagina se essas mesmas famílias pudessem alimentar todo o país com comida de verdade, sem veneno, respeitando a vida e o meio ambiente. As mulheres do campo, da floresta e das águas acreditam que essa pode ser sim uma realidade e defendem que a agroecologia e a agricultura familiar são bases concretas de transformação para a nossa sociedade. É o que também acredita Irene Maria Cardoso, professora da Universidade Federal de Viçosa e grande referência da agroecologia no Brasil. 

Foto: CONTAG

Se existem grandes latifúndios que não cumprem sua função social, enquanto inúmeras trabalhadoras e trabalhadores rurais não tem terra para morar e/ou trabalhar, a constituição prevê que é dever do Estado desapropriar essa terra e distribuí-la entre as famílias que precisam. Assim como a reforma agrária, a demarcação dos territórios tradicionais é também um direito constitucional que cumpre o importante papel de reparar a violência e injustiças vividas pelos povos indígenas e populações quilombolas ao longo da história. Ao lutar pela demarcação de suas terras, eles estão reafirmando o direito ao seu território ancestral, à preservação de suas culturas, modos de vida, rituais e tudo que os formam como povos. 

Mas se o acesso à terra é um sonho inalcançado para muitos, para as mulheres é ainda mais inacessível. Considerando todas as propriedades de terra no Brasil, apenas 18,6% têm mulheres como titulares (Censo Agropecuário, IBGE, 2017) – o que reflete, além das desigualdades econômicas, uma sociedade que ainda acredita que terra e espaço de produção são direitos só dos homens.

Ao longo da história, a divisão sexual do trabalho vem separando e hierarquizando trabalho de mulheres e homens. Nesse sentido, se na luta pela terra as mulheres são as mais prejudicadas, a dificuldade de acesso à água de qualidade amplia a sobrecarga de trabalho e as desigualdades que vivenciam. Em momentos de escassez, são elas que sofrem para buscar água para toda a família, mesmo que para isso seja necessário caminhar quilômetros, esperar em filas ou carregar litros de água na cabeça, enfrentando sol, chuva e até mesmo o medo da violência sexual. E mais uma vez, todo seu trabalho não é reconhecido.  

O acesso à água potável é um dos graves problemas da atualidade. Estudos demonstram que as indústrias e o agronegócio são responsáveis pela maior quantidade de consumo e desperdício, sem contar a contaminação das águas por agrotóxicos e o plantio de monoculturas, como o eucalipto, que contribuem para o esgotamento dos lençóis freáticos. Outra questão fundamental é o impacto da mineração que, além de grandes consumidoras de água, com seu sistema de barragens produzem rejeitos que contaminam as águas utilizadas pelas comunidades. É diante deste cenário (e por entenderem que a água é um bem comum, e não uma mercadoria) que as mulheres do campo, da floresta e das águas denunciam esta apropriação privada e predadora dos bens comuns, reafirmando que é importante repensar a mineração, de forma soberana e popular, reconhecendo que o solo e a água do nosso país devem estar a serviço do povo.   

As Margaridas seguem em marcha construindo alternativas para produção de alimentos saudáveis, pautando o respeite ao meio ambiente, as relações justas entre as pessoas, e um novo projeto de desenvolvimento para o Brasil a partir da agroecologia. Elas ainda defendem que a agroecologia só é possível com democracia, pois para que germine é necessário ter políticas públicas inclusivas, espaços de participação social e fortalecimento das redes, de forma a potencializar a ação dos sujeitos que produzem alimentos, como agricultoras (es) familiares, camponesas (es), mulheres, jovens, indígenas e quilombolas.  

Quer saber mais sobre o tema, clica no caderno de debates da Marcha das Margaridas 2019 (POR TERRA, ÁGUA E AGROECOLOGIA AQUI

A Marcha das Margaridas 2019 é uma ação protagonizada por mulheres do campo, da floresta e das águas, realizada pela CONTAG, Federações e Sindicatos filiados à Confederação, e apoiada por 16 organizações parceiras.   

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Next Post

“Os detentores dos meios de produção do capital são os mesmos controladores dos grupos de mídia no Brasil”

qua jul 31 , 2019
A elite midiática e sua influência no atual cenário político brasileiro foi o tema da conversa com Ana Veloso, do Fórum Pernambucano de Comunicação, durante o curso Caleidoscópio. Para a ativista, a luta pela democratização dos meios de comunicação no Brasil enfrenta o avanço dos fundamentalismos.