Amores Subversivos: debate provoca reflexões sobre afetos em uma sociedade cisheteropatriarcal e racista

Ação Cultural Feminista Amores Subversivos reuniu vozes dissidentes em noite de muito forró feminista para questionar o amor romântico, a construção do desejo e propor novas formas de se relacionar com autonomia, afeto e consciência política.

|Texto Fran Ribeiro – Comunicação SOS Corpo | Fotos: Layane Santos – Elas Fotografando

No dia 11 de junho, o SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia realizou a 2ª edição da Ação Cultural Feminista Amores Subversivos, encontro que contou com a participação de Samantha Vallentine (Nova Associação de Travestis e Pessoas Trans de Pernambuco/NATRAPE) e Fran Ribeiro (SOS Corpo) e trouxe à tona reflexões críticas sobre como o amor romântico e o desejo são construídos sob as bases do patriarcado, racismo e capitalismo.

A Ação Cultural Feminista colocou no centro do debate político a análise daquilo que costuma ser invisibilizado, sobretudo nessa época do ano, onde o amor romântico e desejo estão nas narrativas dos festejos, músicas e tradições juninas. O objetivo de dialogar sobre Amores Subversivos foi de desnudar como o amor e o desejo são produzidos socialmente, hierarquizando corpos e relações.

Para as debatedoras, o amor romântico, exaltado pela indústria cultural, pelo cristianismo e o mercado de consumo, atua como ferramenta de controle. A monogamia, por exemplo, é apontada como uma invenção colonial da Igreja que estabelece uma lógica binária de exclusão, alimentando ciúmes, violência e a ideia de que amar é sinônimo de sacrifício. “Desejo e amor são construções políticas e sociais que se ancoram na perspectiva colonial, usados para organizar e hierarquizar as relações afetivas”, destacou Fran Ribeiro, comunicadora e educadora do SOS Corpo.

A partir de suas vivências, Fran compartilhou o processo de ruptura com modelos afetivos impostos. “Viver uma relação amorosa como uma mulher negra e sapatão é um ato de resistência”, afirmou. Ela enfatizou a importância da autonomia, do compromisso ético e da valorização de vínculos para além da lógica de consumo dos afetos.

Já Samantha Vallentine, travesti negra e transfeminista, trouxe uma crítica contundente sobre o apagamento afetivo que corpos dissidentes enfrentam: “O primeiro ato de subversão é nossa existência. O afeto não chega para a gente: nem na família, nem nas relações mais próximas. A gente precisa aquilombar”, afirmou. Para ela, o amor romântico é uma promessa que sequer contempla os corpos trans e travestis, sendo uma expressão da violência estrutural que nega o direito à existência plena.

O debate também abordou caminhos possíveis para uma subversão desses padrões, como a não monogamia política (NMP), que questiona a hierarquia relacional e propõe uma reorganização dos afetos com base em ética, autonomia e consciência política. “Padronizar pessoas e relações tira a possibilidade de vivermos as suas pluralidades”, lembrou Fran.

Além da roda de diálogo, a 2ª edição de Amores Subversivos teve o forró feminista, com a apresentação da cantora e compositora Poli, comidas típicas e a celebração dos festejos juninos de forma crítica e coletiva. Ao reunir arte, cultura, política e afeto, a Ação Cultura Feminista foi, mais uma vez, muitas reflexões e reinvenção. Um convite à construção de novos modos de se relacionar que rompam com as lógicas opressoras e valorizem a liberdade, o diálogo e a potência dos corpos dissidentes. Que possamos seguir aprofundando este debate!

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