25/11/15 – Mulheres da Mata Sul articulam debates sobre a questão racial e a violência contra as mulheres.

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No dia de hoje (25), Dia Internacional de Luta pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, as associações de mulheres, coordenadorias e associações de bairros dos municípios de Joaquim Nabuco, Palmares, Catende e Escada vão sediar exibições de vídeos sobre formas de violência contra as mulheres e rodas de conversa ao final das sessões. No município de Água Preta, a atividade aconteceu ontem à tarde.

O movimento de mulheres da Mata Sul também vem realizando, desde a última sexta (20), Dia Nacional da Consciência Negra, palestras nas escolas da região com o tema mulher negra e violência. “Estamos percebendo boas interações entre as mulheres. Estamos também procurando dar visibilidade às questões. Tivemos participações em um programa de rádio local para falar da violência e da participação de mulheres da Mata Sul na Marcha das Mulheres Negras, no último dia 18, em Brasília. E seguimos com nossas ações até fecharmos os 25 dias de ativismo”, comenta Eliane Nascimento, da Centro de Mulheres de Joaquim Nabuco. Entre as ações previstas, há uma apresentação do grupo teatral Loucas da Mata Sul no Centro da Cidade do Cabo de Santo Agostinho, no próximo dia 10.

Conhecendo as Loucas da Mata Sul

“Em briga de marido e mulher se mete a colher sim”. Esta é uma das frases ouvidas por quem acompanha as apresentações do grupo teatral Loucas da Mata Sul pelo centro dos municípios da região. Trata-se de uma iniciativa coletiva do Centro de Mulheres de Joaquim Nabuco, da Associação de Mulheres de Água Preta, do Centro de Mulheres de Catende, do Grupo Mulheres Vitória, da Associação de Mulheres de Catende, do Grupo Mulher – Ação Escada, da Associação de Mulheres de Terreiro e CEAS Rural-Palmares. Todos grupos que integram a AMMS.

De forma criativa e lúdica, as mulheres vem promovendo intervenções político-contraculturais de rua que permitem o diálogo com a população local, através de apresentações teatrais com informações sobre a Lei do Feminicídio, a Lei Maria da Penha e a Lei do Estupro; palavras de desordem como “mexeu com uma, mexeu com todas”; toré feminista sobre situações machistas enfrentadas em seu cotidiano; violência doméstica e a forma como são atendidas nos serviços públicos, especialmente as mulheres negras. As situações servem como temáticas para performances realizadas pelo grupo, deixando claro que o machismo é um problema de toda a sociedade e que o movimento feminista busca enfrentá-lo. “Indo para as ruas, passamos informações sobre as leis, mostramos que as mulheres que passam por violência não estão sozinhas”, comenta Nika Santos, integrante do Loucas da Mata Sul.

Alda Maria e Janikelle Maria, também integrantes do grupo, destacam a conexão que acontece com os olhares do público durante as apresentações, o que torna o processo verdadeiro e as fortalecem. “Percebemos no olhar das mulheres que estão assistindo a identificação com a questão da violência, como na cena em que a médica do hospital público despreza a paciente negra. Ou os olhares constrangidos dos homens na cena do assédio enquanto uma jovem dança. Muitas vezes, as pessoas demoram a reconhecer que aquilo ali já é uma forma de violência”, diz Alda Maria. As encenações e o contato com o teatro de rua mudaram o comportamento das integrantes, que vem deixando de lado a timidez e conquistando confiança e autoestima, assim como influenciaram também na atuação dos grupos de mulheres durante o enfrentamento a violência.

A região da Mata Sul tem altos números de violência contra as mulheres, o que confirma que ações que visibilizem o enfrentamento a esta situação são necessárias. Segundo o Mapa da Violência 2015, publicado pela Flacso Brasil, Catende é a segunda cidade de Pernambuco com maior número de homicídios de mulheres, ocupando a 84ª posição entre as cidades brasileiras. O trabalho em grupo das mulheres da Mata Sul possibilita também a cobrança pela estruturação de uma rede de serviços de enfrentamento à violência e por uma delegacia regional da mulher.

As Loucas da Mata Sul também procuram provocar reflexões sobre o fato das mulheres negras serem o maior número entre as vítimas de homicídio. São elas que recebem um tratamento diferenciado em escolas e hospitais, por exemplo, já que o racismo impede que as mesmas políticas públicas cheguem de forma igual para todas. As apresentações teatrais também provocam o debate sobre o preconceito às religiões de matriz africana, o que leva mulheres a serem discriminadas e agredidas.

Para Ítala Samara, que integra as Loucas da Mata Sul e foi uma das representantes do grupo na Marcha das Mulheres Negras, as apresentações do grupo passam a ideia da rua como um espaço de liberdade, de direito, onde se deve falar sobre o racismo. “O racismo faz parte do meu dia a dia desde que nasci, em episódios na escola, por exemplo. O trabalho com as outras mulheres através do teatro fez com que eu me reconhecesse como negra. Eu sou bonita e não preciso de chapinha, posso assumir meu cabelo do jeito que ele é”, comenta Ítala.

Já para Vanessa Mirela, também integrante do grupo, ser mulher, negra e lésbica não torna nenhuma mulher inferior ou com menos direitos. “As apresentações podem dar um pouco de coragem para que outras mulheres comecem a mudar a situação de violência a que estão submetidas. Enquanto os machistas continuarem, vamos seguir trabalhando”.

As Loucas da Mata Sul contam com apoio da Articulação de Mulheres da Mata Sul – FMPE, do SOS Corpo e do grupo teatral Loucas da Pedra Lilás.

por Nathália D’Emery, com edição de Silvia Camurça

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