No dia 16 de abril o quintal feminista do SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia recebeu o psicanalista e escritor Douglas Barros, para o lançamento de seu mais novo livro .
|Texto: Lara Buitron| Revisão: Fran Ribeiro| Fotos: Lara Buitron|

No atual contexto, de acirramento do conservadorismo e da extrema direita no mundo, o tema da identidade tem perturbado nossa reflexão. O Movimento Feminista tem sido acusado, tanto pela esquerda quanto pela direita de ser um movimento identitário, como se isso fosse algo ruim. E não somos as únicas, o movimento negro, o movimento indígena e o movimento LGBTQIA+ também o são. Mas o que, de fato, significa isso? A luta desses movimentos é a luta contra o sistema capitalista, patriarcal, colonial e racista que molda nossas subjetividades, nos faz querer consumir o tempo todo, explora nossa força de trabalho até nos exaurir completamente, suga a natureza até não poder mais e joga as populações subalternizadas para a precariedade.
Para nos ajudar na reflexão e compreensão do problema convidamos Douglas Barros para debater conosco. Douglas é psicanalista, escritor e Doutor em Ética e Filosofia Política pela Unifesp, também é professor filiado ao Laboratório de Experiências Coloniais Comparadas da Universidade Federal Fluminense e integrante do ÍMPAR – Laboratório de Estudos Críticos da Família da USP.
A educadora e pesquisadora do SOS Corpo, Talita Rodrigues, fez companhia a nosso convidado na mesa, mediando e provocando o debate, trazendo a perspectiva da luta feminista. Talita é graduada em Psicologia, especialista em Saúde da Família, Mestra em Saúde Pública e militante feminista da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco.


Durante o debate na nossa Ação Cultural Feminista o escritor nos contou que foi a partir de sua história pessoal, da sua militância no movimento negro, na luta pela implementação das cotas raciais no ensino superior, que o problema da identidade apareceu a primeira vez para ele. Afinal, como ensina a teoria feminista, o pessoal é político, não existe uma construção política que ignore as singularidades do indivíduo, é a partir dos marcadores sociais raciais, de gênero e de sexualidade que se constroi a relação política com o mundo social. Se vivemos em uma sociedade de classes não podemos ignorar que elas são constituídas de indivíduos, esses corpos tem raça e tem gênero.
A identidade é uma criação, o que Douglas traz em seu livro é que essa criação é uma marcador colonial, foram os colonizadores os primeiros a categorizar um segmento social a partir de uma identidade, é o nascimento do outro. Se a identidade foi criada a partir da visão colonial, onde a negativação deste outro foi o que possibilitou o domínio, é preciso compreendê-la como uma ilusão, forjada na perspectiva daquilo que dá horizonte de sentido para a realidade.
O neoliberalismo opera no sentido de manter a ordem colonial identitária, criando uma engenharia que administra essas identidades a partir do controle das mesmas. Ou seja, cristalizado o pensamento colonial, o neoliberalismo, que constrói nossas subjetividades a partir dos desejos de um consumismo narcisista cada vez mais feroz, administra as possibilidades para cada identidade, a partir da violência e do discurso.

Quer saber mais sobre esse debate tão instigante? Na nossa página do instagram (@soscorpo.feminista) você pode assistir o debate na íntegra:
https://www.instagram.com/p/DIhswUNunez/




