Nota da Frente contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto contra o PL 1904/24

A Frente Nacional contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto denuncia mais um ataque orquestrado por grupos conservadores que atuam no Congresso Nacional contra a vida e os direitos das mulheres, meninas e todas as pessoas que gestam.

Está na pauta da Câmara dos Deputados  o PL 1904/2024, que altera o Código Penal de 1940 para regredir os direitos conquistados em relação ao aborto legal no Brasil.

Conhecido como PL da Gravidez Infantil, o projeto de Lei 1904/2024, proposto pelo Deputado Sóstenes Cavalcante (PL/RJ),  poderá ir a plenário hoje ou nos próximos dias, proibindo a realização do aborto legal acima de 22 semanas em caso de estupro e de risco à vida da pessoa gestante e torna a pena igual a de homicídio.

Efetivamente, pessoas que precisem acessar este direito nos serviços públicos de saúde poderão ser condenadas a até 20 anos de prisão, e meninas menores de 14 anos, vítimas de estupro, que muitas vezes precisam realizar o procedimento acima das 22 semanas, por sua condição de maior vulnerabilidade, serão levadas à tortura por uma gestação que ameaça suas vidas, seguida de maternidade forçada.

No Brasil, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2023), mais de 74 mil pessoas foram vítimas de estupro. As vítimas são, em sua grande maioria, meninas (88,7%) com até 13 anos de idade (61,4%), negras (56,8%) e tendo a violência sexual acontecido dentro de casa (68,3%). É necessário levar em consideração ainda a subnotificação nos casos de violência sexual, ou seja, é provavel que esses numeros sejam muito maiores. Também em 2023, o Estado brasileiro revitimizou 17 mil meninas de 8 a 14 anos quando negou o direito ao aborto legal, as condicionando a seguir até o parto com gestações decorrentes de violências sexuais que, como demonstram os dados, foram muitas vezes cometidos dentro de suas próprias casas. 

Ao excluir a possibilidade de vítimas de violência sexual acessarem serviços de aborto legal sem serem criminalizadas, o PL 1904/2024 pune direitos já garantidos (embora ainda insuficientes) de meninas, mulheres e pessoas que gestam e fragiliza a politica pública de aborto legal na medida em que opta por punir a vitima ao invés de tratar o caso como uma questão de saúde pública e de enfrentamento às injustiças reprodutivas. Também pune profissionais da saúde, que poderão ser condenados por realizarem procedimentos para os quais são aptos e que salvam vidas. 

Nesta semana também houve a apresentação do relatório da PEC 164/2021 de Eduardo Cunha (PMDB/RJ) e João Campos (PSDB/GO). Ela altera o art. 5º da Constituição para estabelecer o direito à vida desde a concepção. A PEC estava aguardando definição da relatoria desde 2012 e teve seu parecer de admissibilidade emitido pela Deputada Chris Tonietto/RJ, representante do PL na Câmara, e que apresentou a PEC na Comissão de Constituição e Justiça  no último dia 07.  A parlamentar também é  relatora do PL 1904 e lidera há duas legislaturas as principais tentativas de avanço de pautas antidireitos e ultraconservadoras. 

Assim como ela, dezenas de outros parlamentares tentam insistentemente aprovar uma legislação que regrida totalmente o direito ao aborto legal no Brasil, como foi com o Estatuto do Nascituro (2022), Estatuto da Gestante (2021), Pl 5069/2013 (2015) já mencionados anteriormente, ameaçando a vida de mulheres, meninas e pessoas que gestam.

Às vésperas do processo eleitoral, estes representantes demonstram o tratamento desrespeitoso que dão ao Estado Democrático de Direito: avançando com suas pautas conservadoras no Congresso Nacional e na sociedade, tratando a democracia como uma ameaça à ordem racista, violenta, patriarcal e lgbtfóbica que defendem com unhas, dentes e vultuosas emendas parlamentares, sentindo-se isentos de suas responsabilidades como parlamentares eleitos apenas por bradarem slogans que evocam Deus, Pátria e Família. 

Grupos fundamentalistas conservadores controlam recursos dessas emendas ao bel prazer dos interesses de seus fiéis financiadores (a saber: as bancadas da Bíblia, Boi e Bala), fortalecendo sua capacidade de manobra de forma desonesta e antidemocrática, fragilizando o poder de resposta do Governo Federal na defesa da cidadania plena e irrestrita a toda população do país. 

A FNPLA chama a ação contra o método desta ação fundamentalista coordenada  no e pelo Congresso Nacional e que se espalha também pelas Assembleias Legislativas nos estados, Câmaras Municipais e governos em âmbito local. 

Convocamos todas as Organizações, Redes, Frentes para pressionarem seus parlamentares nos estados e a tomarem as ruas e as redes para  dizer NÃO ao PL1904/24 e barrar toda e qualquer tentativa de retrocesso no direito ao aborto que ocorra em território nacional,  bem como exigir a já demorada legalização do aborto como princípio para a efetivação do direito constitucional das mulheres, meninas e pessoas que gestam à sua autonomia! 

Não aceitaremos a imposição do Estado, dos parlamentares, dos juízes, da igreja, muito menos dos hipócritas fundamentalistas e conservadores, nós somos as únicas capazes de decidir sobre os nossos corpos e nossos destinos!

Nenhuma mulher, criança e pessoa que gesta deve ser presa, punida, maltratada ou humilhada por ter feito um aborto. 

#NãoAoPL1904/24

#NãoPLGravidezInfantil

#CriançaNãoÉMae

#LegalizarOAborto

#GravidezForçadaéTortura

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Next Post

Nota de posição do SOS Corpo contra o PL 1904/2024

sex jun 14 , 2024
Este PL é assustadoramente violento e expressa o ódio institucionalizado, em que legisladores constroem leis para criminalizar mulheres, sobretudo meninas, que são aquelas que mais precisam realizar um abortamento acima de 22 semanas. São meninas vítimas de violências sexuais sucessivas e agora, revitimizadas pelo Estado que não as protegeu quando deveria.