No primeiro semestre de 2022, realizamos a roda de diálogo: Ações de solidariedade: quais os desafios do agora?, atividade do Centro Cultural Feminista do SOS Corpo. A proposta era ter as experiências das organizações, coletivos e movimentos sociais como ponto de partida. A partir das falas das mulheres das organizações convidadas e que lidaram no cotidiano com a ausência da ação estatal, nas três esferas, diante de um contexto de crescente desemprego, insegurança alimentar e fome.
Esse contexto imbuído pela crise sanitária em meio a uma onda conservadora e negacionista, atravessou os lares da população trabalhadora, em especial das mulheres chefes de família. Mulheres essas que se deparam no cotidiano com as mazelas do racismo ambiental em territórios periféricos na cidade, marcado pela dificuldade de acesso à água, ao saneamento básico e uma moradia digna. Então, como se isolar e manter o distanciamento social em um contexto de desigualdades sociais e territoriais?
A solidariedade neste momento foi fundamental, a aproximação com a realidade, com o cotidiano em um contexto marcado pelo luto, mas também pelas incertezas e abandonos. Um tempo de pandemia, algo novo na vida da maioria da população e que não tem a memória de tempos tão árduos, como o vivenciado com a gripe espanhola, vírus da influenza H1N1, no início do século XX (1918), uma pandemia e dizimou mais de 50 milhões de pessoas no mundo. E, passados 92 anos desse fato mundial que também desafiou a ciência, nos deparamos com uma nova pandemia. No Brasil foram mais de 689 mil de pessoas mortas e ainda segue sendo um alerta e que requer medidas articuladas no campo da economia, política, sanitária, cultural.
A palavra solidariedade ganhou corpo, materialidade na vida social, nas comunidades, na ação articulada dos movimentos sociais do campo e da cidade, mulheres, população negra, jovens, dentre tantas experiências. Todos falavam e defendiam que não se tratava de assistencialismo, mas de uma ação política de classe. De reconhecer que nas desigualdades reveladas na pandemia era a classe trabalhadora, população negra, população tradicional, povos originários, jovens e idosos de classes populares os maiores atingidos com o cenário pandêmico.
O que o intercâmbio de experiências e práticas de solidariedade nos apresentou, nestes 2 anos de pandemia, é que a luta coletiva nos territórios foram marcados por resgates de ancestralidades, de práticas de cuidado, de escutas solidárias, e sobretudo, em atender o imediato. Enfrentar a fome e o vírus com a aquisição de cestas básicas, kit de segurança e proteção à covid-19, com máscaras e álcool 70%. E em meio a ação comunitária, o diálogo, a roda de conversa, a bicicleta de som, o rádio, foram formas e meios para politizar a discussão em um cenário de omissão estatal.
Os resultados foram de indicativos para luta coletiva, para desvelar o impacto da falta de política pública de saúde preventiva de um plano nacional de vacinação eficaz na vida da população, que se revela na relação social de classe – pobres, na raça – negros e negras, no sexo-gênero – mulheres.