08/06/17, 18h30 – Livro sobre feministas exiladas em Paris será lançado no Recife

 

A experiência e atuação de dois grupos de feministas brasileiras e latinas organizadas em Paris no período das ditaduras latinas é tema de conversa no SOS Corpo

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Por Déborah Guaraná

Ainda é um gesto de rebeldia para as mulheres afirmarem-se como sujeitas da história. Existe uma figura clássica do homem combatente, do militante herói e, enquanto eles são enaltecidos, pouco se fala que já existiam feministas nos tempos de ditadura militar. Depoimentos de muitas militantes brasileiras revela que as mulheres precisavam “embrutecer-se e masculinizar-se” para serem respeitadas nos espaços políticos. A história que queremos contar é a das brasileiras militantes de esquerda que se exilaram em Paris durante o período das ditaduras na América Latina. No exílio europeu, reunidas em pequenos grupos de autorreflexão, essas mulheres organizaram-se através de reuniões semanais, assembleias mensais, conferências e encontros. Escreveram, publicaram e incomodaram com as primeiras ações internacionais contra as ditaduras e pela libertação das mulheres.

Apesar do movimento feminista estar fervilhando na Europa nos anos 60 e 70, a esquerda na América Latina se negava a discutir as questões de gênero. Diferente do Brasil, onde não havia agrupamentos só de mulheres, em Paris, os cartazes convocando para os diversos grupos se espalhavam por toda a capital francesa. A imprensa feminista teve um papel fundamental na disseminação das ideias do movimento: circulavam periódicos de diversos movimentos nas bancas de revistas e entre os grupos e cartazes eram usados para convidar para as reuniões de mulheres. Essa mídia alternativa não apenas fomentava a organização feminista, como também incendiava o mundo com suas ideias.

As mulheres latinas e brasileiras, acompanhando a organização das europeias, começaram se reunir entre si também. Formaram o Grupo Latino-Americano de Mulheres em Paris e o Círculo de Mulheres Brasileiras em Paris, que se articulavam, mas mantinham independência. Enxergavam não apenas que “o pessoal é político”, como pautava o feminismo europeu, mas viam também a necessidade de organizarem-se em torno de questões particulares para o enfrentamento da realidade de seus países.

As latinas, após uma intensa articulação com esses outros movimentos para derrubar a censura sobre um livro de feministas denunciando a ditadura em Portugal, criaram, o boletim Nosotras, com o objetivo de fazer as ideias feministas soarem mais próximas às mulheres latinas e também incentivava a que todas elas falassem e se desenvolvessem. Já o Círculo de Mulheres Brasileiras em Paris reunia semanalmente cerca de 8 mulheres, entre elas uma das fundadoras do Fórum de Mulheres de Pernambuco e SOS Corpo, Betânia Ávila e também a socióloga Suzana Maranhão, uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores.  As Assembleias do Círculo aconteciam mensalmente e reuniam mais de cem mulheres, sendo bastante reconhecido pelo movimento feminista francês e requisitado para reuniões e palestras. Elas também mantinham contato com os jornais “Nós Mulheres” e “Brasil Mulher”, estabelecendo um vínculo para envio de artigos, reflexões e informações.

Os boletins e encontros mostram como a organização das mulheres se dava dentre elas para fora, ou seja, o que as mulheres escreviam para o mundo era pensado a partir das reivindicações vinculadas às suas vivências expostas nos grupos. Isso não era, nem é ainda, era algo vigente ou comum. Por querer, portanto, contar e conversar mais sobre essa história, o SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia, fará próxima quinta (8) o lançamento do livro Feminismo no Exílio. A organização das mulheres brasileiras em Paris é o tema dessa pesquisa realizada por Maira Abreu, doutora em Ciências Sociais pela Universidade de Campinas (Unicamp). Além dela, O SOS Corpo convida também duas das mulheres que participaram do Círculo, Suzana Maranhão e Betânia Ávila. O papo sobre o mundo feminista no exílio vai rolar no Centro Cultural do SOS Corpo, na Madalena, na próxima quarta-feira (8) a partir das 18h30.

O quê? Lançamento do livro Feminismo no Exílio, da Maira Abreu

Quando? Quarta-feira, 8 de junho, às 18h30

Onde: Centro Cultural Feminista – SOS Corpo

Endereço? Rua Real da Torre, 593 – Madalena

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