Realizado em Montevidéu, no Uruguai, o espaço reuniu agentes da cooperação internacional, agências do sistema ONU, articulações e movimentos feministas da América Latina e Caribe para debater os cenários da cooperação diante da atual conjuntura política
| Texto: Fran Ribeiro – Comunicação SOS Corpo | Fotos: Cortesia X Diálogos Consonantes |

Nos dias 27 e 28 de março, o SOS Corpo esteve presente em Montevidéu, capital do Uruguai, para participar da 10ª edição dos Diálogos Consonantes, espaço de intercâmbio que foca no diálogo entre agentes da cooperação internacional, agências do sistema ONU, articulações e movimentos feministas da América Latina e Caribe, representantes de Estatais e agências de cooperação não governamental.
O Encontro, que acontece há 17 anos, tem o objetivo de fomentar a reflexão coletiva e impulsionar ações de coordenação e articulação entre as agências de cooperação com as organizações e movimentos feministas da região. Nesta 10ª edição estiveram presentes mais de 30 representantes de organizações e articulações feministas, como a Articulación Feminista Marcosur (AFM), uma das articulações que convocam e mobilizam a realização dos Diálogos Consonantes.
No centro do debate se concentram análises da conjuntura geopolítica, social e econômica, como a cooperação pode fortalecer e fomentar a luta por igualdade de gênero e a ação politica feminista na região. A socióloga e pesquisadora do SOS Corpo, Betânia Ávila, foi a representante do Instituto no encontro, sendo uma das convidadas para o painel de abertura, que discutiu a crise da democracia, da globalização e da multilateralidade no contexto global e regional, ao lado da senadora uruguaia, Constanza Moreira. O painel foi moderado por Lilian Celiberti, da organização Cotidiano Mujer.
A pesquisadora avaliou a importância da realização da 10ª edição dos Diálogos diante do atual momento do mundo. “A questão central do debate foi justamente o problema de perdas significativas para o movimento feminista na programação dos recursos da cooperação, pensando na cooperação como recursos financeiros, mas também como apoio político e como cooperação internacional para democracia. O que está em questão nesse momento são os riscos que as organizações feministas e os movimentos feministas, de uma maneira particular na América Latina, correm com as novas definições da cooperação internacional e com tudo o que implica isso”, explicou Betânia Ávila.

A análise de Betânia parte do contexto de avanço da extrema-direita em países onde a democracia vem enfrentando o cenário de crise, com eleições que colocaram no centro do poder figuras da política ultraconservadora. Esse cenário foi amplamente debatido nos dois dias do encontro, onde também foram aprofundados diálogos sobre a perspectiva dos movimentos feministas sobre o contexto de desigualdade e o impacto sobre a vida e os direitos das mulheres na região.
Outro ponto de destaque no intercâmbio, foi a avaliação de como há a tendência de acentuação das desigualdades sociais e de gênero diante do recuo da cooperação no financiamento da ação de organizações e movimentos que defendem os direitos humanos, mas, sobretudo, o recuo acentuado em relação à questão do financiamento para igualdade de gênero.
De acordo com a representante do SOS Corpo, trazer o debate diante da conjuntura política, social e econômica é importante para sensibilizar as agências de cooperação internacional sobre os riscos e para garantir a permanência da sustentabilidade das ações do movimento feminista.
“Os Diálogos Consonantes fortalecem esse campo de relação na América Latina. A partir desses diálogos, nós fortalecemos ideias, proposições e estratégias que levam a apoios muito importantes. E essa permanência, essa sustentabilidade também é parte da discussão, e evidentemente que nesse momento, nessa correlação de força profundamente desfavorável e de crescimento da extrema direita, de crescimento do uso dos recursos do mundo para as armas, para as guerras e para outras formas de destruição da vida humana e de todas as vidas no planeta, é também um momento de sensibilização crítica de quem representa a cooperação nesse diálogo”, salientou Betânia Ávila.