Fonte: Boletín BOCA A BOCA – Articulación Feminista Marcosur
O Julho das Pretas é uma agenda de intervenções criada pelo Instituto Odara que, há sete anos, vem mobilizando em todos os cantos do Brasil grupos e organizações de mulheres para dar visibilidade a esta luta e à força das mulheres negras. Nós, mulheres negras, indígenas e brancas que integramos a Articulação de Mulheres Brasileiras-AMB, em todas as regiões e em diversos estados do país, vimos nos somando nesta ação, fortalecendo e/ou realizando ações próprias de mobilização e de luta contra o racismo, contra a violência de Estado e em defesa da democracia, dos direitos e do bem-viver.
Especialmente neste mês de julho de 2019, nós da AMB reverenciamos todas as mulheres negras que vieram antes de nós e que lutaram contra a escravidão, o racismo, o machismo e contra todas as injustiças de raça/etnia, de gênero e de classe. A elas prestamos nossa homenagem e nelas nos inspiramos para seguir lutando por nossos direitos e por nossas vidas.
Neste ano, em que vivenciamos um contexto de retirada dos direitos sociais mais básicos e de uma agenda antidemocrática implementada pelo governo fascista de Jair Bolsonaro, em que vemos se aprofundar o racismo na sociedade e no Estado, com práticas cada vez mais violentas, vimos a público denunciar todas as formas de racismo, em especial aquelas que recaem sobre as mulheres negras, não brancas e indígenas e rechaçar todas as formas de violência e discriminação praticadas contra a população negra e indígena brasileira.
Em tempos de retrocessos e de ataque às liberdades democráticas, são as mulheres negras as mais cruelmente atingidas pela violência doméstica e sexual e as maiores vítimas do feminicídio, que se aprofundam pelo contexto de racismo, de machismo e lesbotransfobia que marcam e estruturam essas violências. Aquelas que afirmam sua ancestralidade africana e praticam religiões de matriz africana são discriminadas e perseguidas, assim como as que exibem com orgulho seu cabelo crespo e seus traços físicos. As mulheres negras são também as que mais trabalham e as que tem menor remuneração, sem proteção à saúde, sem garantia de direitos trabalhistas e que serão as mais atingidas pelo desmonte do sistema de seguridade social, posto em execução pela reforma da previdência que capitaneada pelo governo federal e a presidência da Câmara Federal.
As mulheres negras, sobretudo, as que vivem nas periferias urbanas, são também maioria entre aquelas que têm seus filhos e filhas assassinadas/os e exterminadas/os todos os dias, seja pela polícia, por traficantes ou pelas milícias, hoje espalhadas por todo o país. Em 20 anos o número de jovens negros assassinados no Brasil aumentou 429%. Eles são 4 em cada 5 jovens mortos no país. Para cada um desses jovens temos uma mulher (mãe, filha, tia, avó, companheira) vítima também dessa violência.
Os que não são mortos acabam atrás das grades: correspondentes a quase 95% do total de pessoas presas no Brasil, jovens e negros em sua maioria, respondem majoritariamente pelos crimes de roubo ou tráfico de drogas. E as mulheres não estão livres do cárcere. O Brasil aumentou 698% o número de mulheres encarceradas em 16 anos e, assim como os homens, quase 7 em cada 10 são negras e os índices de condenação por tráfico de drogas seguem a mesma proporção.
Neste contexto, nós da Articulação de Mulheres Brasileiras queremos reafirmar nossa luta contra todas as formas de racismo e nosso compromisso com a luta feminista antirracista, pautada também no apoio e fortalecimento das ações dos coletivos, redes, movimentos e articulações de mulheres negras do Brasil.
E neste 25 de Julho – Dia da Mulher Negra Latino-americana e
Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela, exigimos do Estado
brasileiro:
– Fim do genocídio da juventude negra;
– Fim da violência de Estado;
– Combate à violência contra as mulheres e ao feminicídio;
– Fim das violações dos direitos das mulheres e dos povos indígenas;
– Fim das intervenções militares e das milícias nas comunidades e favelas;
– Identificação e penalização de quem matou e mandou matar Marielle Franco;
– Fim da política de hiperencarceramento das mulheres negras e do povo negro;
– Fim da violação e ataques aos templos dos povos de matriz africana;
– Fim da mortalidade materna, com foco nas mulheres negras, principais vítimas.
– Fim do racismo estrutural e da lesbotransfobia e homofobia de Estado;
– Fim do fascismo e fundamentalismo instalado nas três esferas de Poder;
– Um Estado democrático e laico;
– O direito à justiça reprodutiva para as mulheres negras, não negras e indígenas;
– A manutenção das Cotas Raciais nas universidades públicas;
– A adoção de uma política antiproibicionista e de cuidado com a/os usuário/as de drogas;
– Uma política de reparação histórica para as mulheres negras, indígenas e do povo negro.
Por nós, por Marielles, por Cláudias e por todas as mulheres negras dizemos: XÔ Racismo! XÔ Violências!
Queremos vida plena para as mulheres negras e seus filhos e filhas!
Queremos o respeito para as mulheres negras!
Queremos saúde e qualidade de vida para as mulheres negras! Pelo bem-viver!
MULHERES NEGRAS VIVAS E LIVRES!
#JulhodasPretas #TransformandooMundopeloFeminismo