Vídeo que debate racismo será lançado hoje, dia 7, no Pátio de São Pedro

O Comitê Pernambuco da Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver divulga lançamento de vídeo hoje à noite, a partir das 19h, no Pátio de São Pedro, no Recife.

O vídeo é uma realização do Comitê e do SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia e mobiliza para a grande marcha de mulheres negras que acontecerá em Brasília, no próximo dia 18 de novembro.

O ato de lançamento contará com apresentações do Afoxé Alafin Oyó, Afoxé Oya Tokole Owo, além de performances poéticas negras e da banda Casas Populares da BR 232.

Assista o clipe teaser https://youtu.be/P6dTMUoR-aY

Sobre a Marcha*

A Marcha de Mulheres Negras está sendo construída em todos os estados do Brasil e, em Pernambuco começou a ser organizada desde março de 2014. Será realizada em Brasília no próximo dia 18 de novembro, com mulheres negras de todos os estados do Brasil.

A proposta da Marcha é articular as mulheres negras brasileiras para dar maior visibilidade a situação de opressão secular da população negra, especialmente das mulheres; homenagear a ancestralidade e exigir do Estado brasileiro, bem como de todos os setores da nossa sociedade, respeito e compromisso com a promoção da equidade racial e de gênero, a fim de que as mulheres negras tenham as condições para exercer plenamente seus direitos como cidadãs e construtoras históricas deste país chamado Brasil.
  • MARCHAMOS PARA SUPERAR O RACISMO E VIVER PLENAMENTE!

Somos 64% das pernambucanas, o que significa mais de 3 milhões de mulheres, e as desigualdades geradas pelo racismo são cotidianas: entre famílias chefiadas por mulheres, 65% são por mulheres negras; a renda domiciliar per capita dos homens brancos pernambucanos é em média de R$ 907,70 e a das mulheres negras de R$ 582,50; Pernambuco está entre os estados com maiores índices de assassinatos de jovens negros: nossos filhos, irmãos, maridos, companheiros, pais.

Os avanços nas políticas públicas nos últimos 10 anos favoreceram algumas mudanças nas condições de vida das mulheres negras, como a elevação de nossa escolaridade. A partir de nossos esforços, transformando poucas oportunidades em conquistas, hoje temos mais anos de escolaridade e estamos em maior número no ensino superior que os homens negros, mas ainda há desigualdades em relação aos homens brancos e às mulheres brancas. E esse avanço na escolaridade não tem se refletido na inserção no mercado de trabalho, porque o racismo e o sexismo ainda impedem que tenhamos acesso a postos com salários que correspondam a esse novo perfil profissional conquistado com a elevação de nossa escolaridade e formação profissional. Inúmeras mulheres negras qualificadas estão hoje em empregos mal pagos e desprotegidos porque o mercado as recusa em outras funções.

Por outro lado, sempre contribuímos para o desenvolvimento deste estado, com nossa força de trabalho e diferentes talentos. Para citar apenas um exemplo, somos nós mulheres negras que alavancamos uma das maiores fontes de riqueza de Pernambuco, que é o “carnaval multicultural”.

Para nós, estas manifestações significam muito mais que a “economia do carnaval”. Representam, historicamente, formas de resistência à desumanização gerada pelo racismo. São um elogio à nossa beleza estética, musical, artística. São estratégias para manter nossas famílias e comunidades unidas em torno da cultura, que alimenta alma e corpo. Nossa alma negra se alegra nesse universo herdado de nossa ancestralidade africana, vivida na cultura e nos terreiros de candomblé, sustentados, em sua maioria, por mulheres negras que são líderes generosas, firmes e acolhedoras.

Nesta Marcha das Mulheres Negras, estamos mais uma vez organizadas e denunciando que já não é mais possível negar a existência do racismo ou invisibilizar as desigualdades geradas por ele. O mito da democracia racial, criado em terras pernambucanas por Gilberto Freyre, há muito foi desconstruído pelo movimento negro brasileiro. A população negra afirma cada vez mais sua identidade racial e avança em diferentes campos na sociedade.

  • ESTAMOS EM MARCHA POR UMA VIDA SEM VIOLÊNCIA

Todos os dias, mulheres, jovens e meninas, no Brasil e no mundo, são submetidas a formas de violência. Nos dados nacionais, uma em cada cinco mulheres, considera já ter sofrido “algum tipo de violência de parte de algum homem, conhecido ou desconhecido” (Fundação Perseu Abramo, 2010).

Marchamos pelo fim da violência simbólica que deixa insegura uma nova geração. E quem nos diz isso, não são apenas as manifestações de violência que sofremos todos os dias nas praças, lojas, ônibus, postos de saúde, cinemas, escolas, universidades, igrejas, templos, terreiros, em nossas casas, no trabalho, nas calçadas, nas delegacias… São dados oficiais: segundo o Mapa da Violência, em 2012, foram mortos no Brasil cerca de 30 mil jovens entre 15 a 29 anos. Destes, 23 mil eram negros. Em um mês, foram mais de 1.900 jovens negros mortos. Ou seja, cerca de 76 a cada dia, mais de três a cada hora, ou um assassinato a cada 20 minutos. Já os dados de 2013 da Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, apontam que 59,4% dos registros de violência doméstica no serviço se referem a mulheres negras.

É preciso ampliar e fortalecer as políticas públicas de combate ao racismo e à violência, assim como as políticas de inclusão social para a população negra.

  • O SENTIDO DO BEM VIVER PARA AS MULHERES NEGRAS

O conceito de Bem Viver se fortalece na América Latina com a denúncia e crítica do modelo desenvolvimentista exploratório: trata da recuperação do sentido de ligação com a terra e seus recursos, de forma equilibrada e sustentável, sendo garantido aos povos indígenas, quilombolas e das florestas o direito às terras tradicionais.

A expulsão dos indígenas de suas terras e a exploração do trabalho negro escravizado se justificaram em torno das etnicidades e das racialidades, estruturando uma sociedade racista em que os sujeitos indígenas e negros constituíam os grupamentos oprimidos. As mulheres negras também, além de serem exploradas no trabalho produtivo, eram submetidas ao trabalho reprodutivo, gerando mais seres humanos escravizados. A constituição de representações sociais em torno das mulheres negras situou-as no lugar de trabalhadoras manuais e sexuais, além de mães destituídas de seus filhos e filhas para promover mais escravidão.

Do escravismo colonial para o capitalismo, o critério étnico, racial e sexual do modo de produção colonial migrou para a divisão de trabalho. A industrialização se estruturou sobre a exploração sem limites dos recursos naturais e humanos, atingindo fundamentalmente os povos indígenas e a população negra, com a exploração desumana de sua força de trabalho supostamente assalariada e a negação dos direitos políticos, civis, econômicos, sociais e culturais. Muitas vezes, o trabalho “assalariado” escondia novos modelos de escravização, como se deu no desenvolvimento de um trabalho doméstico assalariado majoritariamente feito por mulheres e negras. Como mães, as mulheres negras continuaram a assumir um trabalho reprodutivo racialmente orientado, a partir de uma política de embranquecimento cuja mestiçagem propagava um modelo desenvolvimentista racista.

Em poucas palavras, o Bem Viver, para as mulheres negras, significa uma vida na qual:

  • os direitos produtivos e reprodutivos sejam garantidos plenamente;

  • o trabalho não se constitua um epicentro de exploração racista e sexista, mas uma força social

  • orientada pela solidariedade e sentido de coletividade, com equilíbrio e justiça social;

  • as mães negras não tenham seu terreno familiar e afetivo assaltado e destroçado com a

  • violência policial e urbana que vitima a infância e juventude negras;

  • os direitos políticos oportunizem a ampla participação feminina negra, com direito a voz e contestação;

  • os direitos civis sejam maximamente respeitados, garantindo integridade física, psicológica e simbólica dos corpos e das cosmovisões das mulheres negras;

  • em que os direitos econômicos reconstituam o tecido social, extinguindo a concentração de

    renda;

  • os direitos sociais garantam vida plena, saúde integral, educação de qualidade, moradia digna, acesso à terra e à utilização responsável dos recursos socioambientais;

  • os direitos ambientais constituam um ambiente social e naturalmente sadio;

  • os direitos culturais reconheçam as expressões, criações, manifestações e visões de mundo características e específicas das comunidades negras, nas quais o protagonismo feminino se destaca.

 (*Fonte: Fragmentos do Boletim da Marcha de Mulheres Negras em Pernambuco, organizado por Mônica Oliveira e Nathalia D’Emery)

 

SERVIÇO

Lançamento do Vídeo sobre a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver no Recife

Dia: Hoje, dia 07/10/15

Hora: 19h

Local: Pátio de São Pedro, no Recife.

Realização: Comitê Pernambuco da Marcha de Mulheres Negras e do SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia.

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