Transição ou Tran$ação Energética? Seminário denuncia violações e impactos no Nordeste

Realizado entre os dias 21 a 23 de agosto, o II Seminário Nordeste rumo à Cúpula dos Povos na COP 30 discutiu os impactos das mudanças climáticas e denunciou a financeirização dos bens comuns

Cerca de 200 pessoas de 45 organizações, movimentos sociais e coletivos que atuam no Nordeste participaram do Seminário. Foto: Divulgação

Entre os dias 21 e 23 de agosto, Fortaleza (CE) sediou o II Seminário Nordeste rumo à Cúpula dos Povos na COP 30, reunindo cerca de 200 pessoas de 45 organizações, movimentos e coletivos da região. O encontro discutiu os impactos das mudanças climáticas e denunciou a financeirização dos bens comuns, como terra, água e energia, que vêm alterando modos de vida e ampliando desigualdades.

O evento foi parte do processo de mobilização para a Cúpula dos Povos, que acontecerá entre os dias 12 a 16 de novembro, em Belém (PA), como espaço crítico e alternativo à COP 30 oficial. “Queremos revelar ao mundo as contradições do modelo climático em curso e como ele impacta diretamente os territórios, em especial comunidades tradicionais, povos originários, mulheres e populações negras”, afirmou Mércia Alves, pesquisadora e educadora do SOS Corpo, que participou do seminário.

O tema Transição ou Tran$ação Energética? Conflitos, violações de direitos, clima e o poder digital, trouxe o tom provocativo do debate. Para Mércia Alves, a proposta de uma transição energética justa tem sido sequestrada por interesses corporativos. “Na prática, o que vemos é a mercantilização da água, da terra e da energia, ampliando desigualdades estruturais e desterritorializando comunidades que vivem da pesca artesanal e da agricultura familiar”, disse.

As críticas recaíram sobre a instalação de usinas eólicas, solares e de data centers em diferentes estados do Nordeste. Embora apresentados como empreendimentos de energia limpa, esses projetos têm gerado desapossamento de terras, violações de direitos e até adoecimento físico e mental das populações atingidas. Essas iniciativas vêm com o discurso da sustentabilidade, mas promovem deslocamentos forçados e ameaçam modos de vida.

A participação das mulheres foi central no seminário. Representando coletivos de todos os nove estados nordestinos, elas denunciaram os impactos cotidianos desses projetos, que vão desde a alteração na produção de alimentos até o aumento das violências. “Não somos quintal de data centers. No Nordeste, quintal é lugar de vida, de ancestralidade e coletividade. O que está em curso é um modelo que desinstala pessoas para instalar lucro”, pontuou a educadora do SOS Corpo.

O seminário reafirmou a necessidade de fortalecer resistências e propor alternativas que coloquem a vida no centro. Para nós do SOS Corpo, o desafio posto às vésperas da COP 30, é enfrentar as falsas soluções climáticas e construir, de forma popular e coletiva, uma transição energética que seja de fato justa.

Organizações, movimentos sociais e coletivos elaboram documento político com reivindicações para a COP 30

A Carta dos Povos e Populações do Nordeste na COP 30 é um documento político construído por povos do campo, das cidades, das águas e das florestas, comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas, juventude, mulheres, coletivos LGBTQIAPN+ e movimentos sociais da região, com o objetivo é denunciar as violações socioambientais provocadas por grandes projetos energéticos no Nordeste e apresentar demandas para uma transição energética justa, popular e descentralizada, em contraposição às chamadas “falsas soluções climáticas” promovidas por corporações e pelo Estado.

No texto, o SOS Corpo e demais organizações, movimentos e coletivos signatários, afirmam que a crise climática e humanitária é fruto da expropriação de terras e biomas, destacam os impactos das usinas eólicas, solares e do agronegócio sobre territórios tradicionais e denunciam o racismo ambiental e a violência de gênero agravados por esse modelo. A carta reafirma que as comunidades nordestinas são guardiãs de saberes e práticas que oferecem alternativas concretas para o bem viver e exige respeito à Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), além de propor reformas estruturais, como a reforma agrária e urbana, o fortalecimento das tecnologias sociais comunitárias e a responsabilização de agentes poluidores.

O documento convoca a sociedade brasileira a se somar na defesa dos territórios e cobra que a COP 30 seja um espaço justo, popular e descentralizado, capaz de garantir justiça ambiental, social e climática para as presentes e futuras gerações

Leia abaixo o teor da Carta dos Povos e Populações do Nordeste na COP 30

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