Reproduzimos entrevista concedida por Analba Brazão Teixeira ao Comitê Impulsor da Marcha de Mulheres Negras.
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A Marcha das Mulheres Negras 2015 possui várias parcerias que tornam viável este momento de luta, encontro e diálogo. Hoje destacamos a Articulação de Mulheres Brasileiras – AMB com a entrevista de Analba Brazão.
MMN – Qual a importância da Marcha das Mulheres Negras 2015 na opinião da Articulação de Mulheres Brasileiras?
Analba Teixeira AMB – A Articulação de Mulheres Brasileiras tem reafirmado, nas suas ações políticas, o seu compromisso político com a luta pelo fim do racismo. Para nós, o racismo é um dos pilares da desigualdade, portanto o feminismo antirracista disputa o tempo todo na desconstrução da ideologia racista, machista e lesbo – homofóbica, para transformarmos/construirmos uma sociedade mais justa e igualitária. Como movimento feminista, antirracista e anticapitalista, a AMB tem o compromisso de dar visibilidade às lutas das mulheres negras, e manifestar solidariedade e engajamento nas lutas presentes dos movimentos de mulheres negras.
Neste sentido, para a AMB, a Marcha de Mulheres Negras, além de ser uma ação política importantíssima neste contexto, tem sido um pretexto fantástico de organizar as mulheres negras, as que já são engajadas na luta contra o racismo e as que estão chegando a partir deste chamado para a Marcha. Para a AMB, a Marcha de Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e Pelo Bem viver é uma grande expressão de RESISTÊNCIA, e como o nome já aponta, são as mulheres negras as grandes protagonistas desta ação política.
A Marcha de Mulheres Negras já está acontecendo. É um processo que as mulheres negras em várias partes do País estão se organizando, estão debatendo as questões do racismo e construindo estratégias para o seu enfrentamento na nossa vida cotidiana.
O momento da Marcha das Mulheres Negras em Brasília – no dia 18 de novembro – será um momento histórico não só para o movimento de mulheres negras em particular, mas para o conjunto dos movimentos sociais, destacando aí o movimento de mulheres e feminista. Será o momento de exigir que o Estado brasileiro repare as inúmeras violências e desigualdades que oprimem a população negra e em especial as mulheres Negras. Momento de exigir que o Estado brasileiro implementem políticas que enfrentem e condenem o racismo em todos os âmbitos da sociedade , contribuindo assim para constituir relações sociais que reconheçam nas mulheres negras como sujeitos de sua própria história e transformação. A Marcha das Mulheres Negras , para a AMB, é acima de tudo o momento de irmos para a rua, afirmando em alto e bom som: Nós mulheres Negras, Existimos, Resistimos e Exigimos!!!!
MMN – Como a AMB participará da Marcha das Mulheres Negras 2015?
Analba Teixeira AMB – Estamos realizando a marcha nos estados a partir dos nossos agrupamentos e militantes locais. Participamos em vários comitês em diferentes estados e por dentro deles construímos formações abertas com outros movimentos, debates intensos sobre o racismo e a realidade das mulheres negras. Também tiramos como estratégia fortalecer a marcha enegrecendo o 8 de marco deste ano, e construindo junto com os movimentos negros e antirracistas o 25 de julho. Dentre as pautas mais mobilizadoras, a violência contra as mulheres negras , a denúncia e luta contra o extermínio e encarceramento da população negra, e a luta contra a maioridade penal, dando visibilidade a essa situação que recai sobre as mulheres negras ,embora seja muitas vezes invisibilizada.
Em agosto, tivemos a oportunidade de nos reunir em Salvador com a Rede de Mulheres Negras do Nordeste e companheiras militantes negras de alguns estados do Norte, para construirmos estratégias juntas para o fortalecimento da marcha de mulheres negras. Para novembro estamos nos organizando para levar as militantes a Brasília, mobilizando recursos de diferentes formas e buscando engajar as mulheres de organizações parceiras e aliadas. Alguns estados estão planejando e organizando atividades locais e simultâneas para repercutir a marcha e fazer a marcha para além de Brasília. Além de fortalecer nossa luta antirracista, a marcha de mulheres negras tem sido fundamental para construirmos alianças com outros movimentos e identidades negras e feministas no diálogo com as mulheres, independente de estarem em movimentos de mulheres ou comporem a própria AMB.
MNM – Escreva uma narrativa sobre a importância de se reconhecer como Mulher Negra e ser atuante nessa militância.
Analba Teixeira AMB – Esta questão pede mais tempo e espaço maior, porque falar sobre nós mesmas é bem mais exigente, porque nos traz memórias de experiências vividas que, às vezes são um pouco doloridas, mas também mostra a nossa resistência enquanto mulher negra.
Quero dizer que, para mim, não foi fácil me reconhecer como mulher negra. Fui criada numa família negra, que não se reconhecia como negros e sim como pardos, morenos entre outras gradações de cores. Sofri todo tipo de racismo, na infância e na adolescência, mas não compreendia que o que eu estava sofrendo tinha este nome: RACISMO. Só compreendi mesmo o que se passava, quando ainda na adolescência, comecei a me reconhecer como negra e me aceitar como Negra.
Sempre soube que era uma mulher. Mas me descobrir como mulher negra e me afirmar nesta identidade, não foi um processo fácil. Mas, ao me reconhecer, isso me fortaleceu e me deu uma sensação de Liberdade. Sou Mulher e sou Negra! E agora sei meu lugar no mundo e tenho consciência de qual será a minha luta prioritária: Lutar contra o Racismo e o Sexismo.
Sou de Natal, capital do Rio Grande do Norte, e desde cedo me inseri nas lutas dos movimentos sociais me aproximando primeiro do movimento feminista. Como muitas de nós, mulheres negras, também passei pela experiência de testemunhar na organização do primeiro encontro das mulheres do Rio Grande do Norte uma pauta na qual algumas mulheres negras, que já faziam parte (na Universidade) de um núcleo que se formava do movimento negro, proferiam o mesmo discurso: “as mulheres são iguais e portanto não precisa colocar pauta especifica das mulheres negras”.
Poderia citar muitos outros entraves à luta antirracista, em diferentes processos, ao longo de todos esses anos de militância. O que quis ressaltar ao dar esse exemplo foi que nesse encontro, como mulher negra e feminista, eu pude definir como projeto político de vida lutar contra o racismo e o patriarcado. “Ser Mulher e Negra” nos traz uma experiência peculiar em todas as esferas da vida. Experiências inseparáveis. E me inserir nesta luta, reconhecendo-me como mulher negra, contribuiu também para que minha família hoje se reconheça como uma família negra.
Escolhi lutar contra a todas as expressões de opressão – racista, sexista e de classe – atuando na Articulação de Mulheres Brasileiras, este movimento que tem reafirmado, nestes 20 anos de existência o compromisso político com a luta pelo fim do racismo e assim sendo, construindo o seu feminismo antirracista.
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