Cultura machista ceifa vida das mulheres todos os dias!

Por Analba Brazão Teixeira (*)

Filmes de terror? Não. Apenas a vida real ao longo de cinco dias em nosso país. Todos estes casos aconteceram entre os dias 19 a 24 de junho de 2015, e estas cinco mulheres entraram nas estatísticas. 

Uma das mais fortes insígnias do movimento feminista é: o Machismo MATA. Nossa luta existe para transformar esta realidade na qual, apesar de lutas de anos a fio, o machismo continua a matar a nós, mulheres. Matam a alma, a dignidade e finalizam tirando-nos o que temos de mais caro: a vida!

A violência contra as mulheres é a forma encarnada da dominação da opressão patriarcal e a sua expressão se concretiza através da combinação das ideologias conservadoras, machistas e misóginas. Materializam as relações sociais de poder. O poder patriarcal sobre as mulheres, que as atinge em vários contextos de suas vidas.

A luta do movimento feminista tem sido incansável, por isso as formas cruéis como as mulheres estão sendo mortas – estupradas, violadas, trucidadas -, assustam-nos e  têm nos desafiado cada dia mais a lutar para transformar esta realidade.

Mesmo atuando nesta frente desde que entrei no movimento feminista − por sinal, entrei por esta porta −, movida pela indignação diante da morte de uma companheira, é duro constatar que ainda me indigno da mesma forma. Ainda nos indignamos e continuaremos a nos indignar e a lutar pelo fim desta violência, e contra estas cenas de terror que seguem se repetindo a cada dia.

Na última semana, acompanhamos nos jornais alguns casos estarrecedores. E novamente nos erguemos para dizer que não podemos deixar que imagens como essas das manchetes fiquem impunes. Foram dois casos entre Paraíba e Pernambuco e outro no Espírito Santo. Por que “elas” foram mortas e estupradas? Por serem mulheres.

Mas, os algozes queriam também ceifar-lhes a vida. Como se não bastasse todo o sofrimento, o medo, a violação dos seus corpos, ainda foram condenadas por eles. Tinham que morrer. Após os estupros, passaram por cima dos seus corpos com o carro de uma delas. E o bebe de 9 meses que estava no carro foi jogado na mata. Glória morreu. Caroline sobreviveu. Mas as marcas do sofrimento nunca vão cicatrizar. O que seria um assalto e roubo de carro, transformou-se em estupro e morte. Eram mulheres e o DESEJO de estuprá-las foi maior.

Em Pernambuco, Maria Alice, criada por seu padastro desde os quatro anos de idade, aos 19 anos foi estuprada e morta por ele. Seu algoz passou a desejá-la, segundo ele, quando ela completou 16 anos. A menina passou a objeto do DESEJO de seu Padrasto, e este decidiu que iria possuir o seu corpo, porque queria. Maria Alice já estava namorando e foi aí que o sentimento de posse se agudizou e o Padrasto resolveu possuí-la. Matar o seu desejo e matar a sua vítima. Estuprou, assassinou e abandonou o corpo no canavial.

Na Região Metropolitana de Vitória, no Espírito Santo, Mayara Silva de Jesus, 16 anos, foi morta a pauladas e esquartejada pelo seu “companheiro” no último dia 19 de junho. A morte neste caso foi “motivada”, segundo o agressor, por suspeita de traição. Mayara trocou mensagens com um homem numa rede social e esta foi a sua sentença de morte. O acusado não “suportou” a suposição de ser traído. E como em tantas histórias já contadas, lavou a sua honra com o sangue da “companheira”.

Aldenize Firmino da Hora (PE) 36 anos, desapareceu no último domingo 21 de junho e seu corpo foi encontrado dentro de um balde, em 24 de junho, na casa em que seu companheiro morava. Estes dois últimos casos configuram enredos repetitivos de assassinatos violentos entre pessoas que tinham uma relação afetivo-conjugal.

Filmes de terror? Não. Apenas a vida real ao longo de cinco dias em nosso país. Todos estes casos aconteceram entre os dias 19 a 24 de junho de 2015, e estas cinco mulheres entraram nas estatísticas.

Os dados sobre a violência no país são gritantes e assustam ainda mais por sabermos que este tipo de crime historicamente é marcado pela subnotificação. Segundo o IPEA (pesquisa de 2013), 15 mulheres são mortas por dia no país. Estima-se que ocorram 527 mil estupros no Brasil a cada ano. Estes casos também têm cor. O índice de mortes de mulheres negras tem aumentado.

Apesar de grandes conquistas contra o silêncio e a impunidade na aprovação da Lei Maria da Penha e, mais recentemente, da do Feminicídio, a punição dos agressores ainda demanda mobilização social. Precisamos entender que as leis não findam em si mesmas. Este é um problema estrutural de uma cultura machista, racista e homo-lesbo-transfóbica.

Se deixamos por conta da morosidade da justiça e da falta de sensibilização do sistema, a impunidade se perpetua. Temos que cobrar punições, e de imediato. Em paralelo aos avanços nas legislações, que precisam ser implementadas verdadeiramente, temos também que lutar por uma transformação das mentalidades de homens e mulheres. De toda a sociedade. É preocupante o que vimos nesta última semana: a orquestração nas casas legislativas Brasil afora para a retirada, nos Planos de educação, do tema “gênero”.

A transformação das mentalidades passa pela educação. Sobretudo pelo ensino básico, na escola. Esse processo de incidência conservadora no ensino, sem qualquer justificativa plausível e deslegitimando o pensamento crítico de educadores comprometidos com mudanças na sociedade, leva ao recrudescimento de um pensamento também conservador, que acirra a desigualdade e a discriminação, impedindo a formação das crianças e jovens para a tolerância e o respeito.

Será que é repetitivo alardear sempre que o Brasil está em sétimo lugar entre os países onde mais ocorrem assassinatos de mulheres? Será que a população brasileira ainda não se deu conta desta situação e não consegue reconhecer que as relações entre homens e mulheres são estabelecidas sob códigos desiguais de poder, que admitem a perspectiva de que mulheres devem viver sob o mando de um dono? Esta mentalidade traz estas consequências gravíssimas. Será que não conseguimos enxergar que as mulheres estão sendo vítimas, dentro e fora de casa? Que por maiores que sejam os avanços que conquistamos, ainda não temos o direito de ir e vir?

Ler estas notícias e acompanhar estes casos nos cansa e nos maltrata. Mas não nos paralisa. Nossa REVOLTA não permite que silenciemos. Temos cada vez mais convicção do quanto o movimento feminista é necessário na luta incessante pelo fim da violência contra as mulheres.

Assim como é necessário que esta luta não seja só nossa. Mas de toda a sociedade brasileira. Temos que continuar indo para as ruas denunciar esta violência que assola o país e grava no nosso corpo dor e revolta. Iniciamos este texto-desabafo com uma insígnia do movimento e terminamos com outra: POR MIM, POR NÓS E PELAS OUTRAS! Esta é a nossa luta pelo fim da violência contra as mulheres no nosso país.

(*) Analba Brazão Teixeira – Militante da Articulação de Mulheres Brasileiras e Educadora do SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia

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