Potência Feminista é Capacidade Desejante

Inspiradas no livro de Verônica Gago, “A Potência Feminista ou o Desejo de Transformar o Mundo”, o SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia trás vídeo do ato de 8 de março de 2024 da cidade do Recife.

Há décadas as mulheres, por toda parte do mundo, ocupam as ruas para denunciar injustiças, questionar a ordem, reivindicar direitos, propor alternativas, inventar uma nova sociedade, reinaugurar a vida! E neste 8 de março nós, do SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia, nos juntamos ao movimento feminista de Pernambuco pela vida de todas as mulheres, pela legalização do aborto, contra o racismo ambiental e as violências e dizemos não às privatizações.

Nossa diversidade é refletida na riqueza do mote do 8 de março deste ano, porque o feminismo é um projeto político radical para enfrentar o patriarcado, o racismo e o capitalismo! O sistema capitalista global é uma máquina de moer gente e meio ambiente! O capitalismo funciona a partir do seu projeto de dizimação, explorando os recursos naturais até não sobrar nada, desumanizando os povos negros e indígenas e expropiando os territórios que sustentam a produção de riqueza, justificam toda forma de violência e negação de direitos.

A luta das mulheres fez do feminismo um sujeito político importante, capaz de pautar a agenda pública das últimas décadas. Algumas dessas questões se tornaram conquistas e direitos, outras foram distorcidas e apropriadas pela direita, pelas empresas, pelo Estado e pelos meios de comunicação. O fato é que balançamos as estruturas e vieram os contra-ataques e é justamente por isso que é urgente ocupar as ruas, disputar as narrativas e seguir na luta pela ampliação dos direitos das mulheres e pela transformação social.

O golpe de 2016 pavimentou os caminhos para o autoritarismo dos anos seguintes e foi sustentado pelos grupos conservadores, identificados com setores fundamentalistas religiosos e econômicos. Neste período, esses setores alcançaram posições de poder e influência nas instituições, autoridades se de claram “pró-vida” e “pró-família e atuam sistematicamente nas Câmaras de Vereadores, Assembleias Legislativas, no Congresso e no Senado Federal para derrubar os direitos das mulheres, da população LGBTQIAP+, da população negra, da classe trabalhadora e dos povos indígenas. Os direitos sexuais e os direitos reprodutivos são alvos permanentes da ação conservadora: enquanto as mulheres seguem morrendo na ilegalidade provocada pela criminalização do aborto ou tendo seu direito de acesso ao aborto legal negado, os fundamentalistas se alastram pela institucionalidade fortalecendo a injustiça reprodutiva como política de Estado.  Enquanto isso, permanece sendo o trabalho reprodutivo feito pelas mulheres que sustenta o mundo!  

Nosso feminismo segue colocando no centro do debate público a justiça social e a ampliação da democracia, por isso ocupamos as ruas exigindo a garantia de vagas em creches e escolas públicas, atenção integral e humanizada à saúde, políticas de distribuição de renda, enfrentamento ao racismo, garantia de direitos trabalhistas e previdenciários, moradia digna, acesso a saneamento básico, justiça socioambiental, segurança alimentar e garantia de que os direitos das mulheres estão sendo respeitados pelo Estado. 

Tomamos as ruas atentas às eleições municipais, pois é nessa esfera em que acessamos muitas das políticas que impactam no nosso cotidiano e é também no nível local que as forças fundamentalistas estão consolidando seu projeto de poder com suas igrejas, cargos em conselhos e serviços públicos, assentos na Câmara de Vereadores e milícias. 

Na prática da solidariedade, tão cara ao movimento feminista, vamos às ruas também para expressar nosso repúdio ao genocídio do povo Palestino! Capitaneado pelo governo de extrema direita de Israel, em um projeto político colonialista e racista que, ao atacar indiscriminadamente mulheres e crianças, impede a reprodução da vida de um povo. Não podemos, enquanto feministas, nos calar diante disso!

Neste 8 de março reafirmarmos que a luta feminista busca uma reorganização profunda e complexa das relações públicas e privadas, de trabalho e de afeto, relações pessoais e coletivas. Assim, propomos um caminhar consciente para um novo sistema de relações sem dominação e sem exploração, não somente para nós mulheres, mas para todas as pessoas! O feminismo é uma teoria e uma prática, não estamos interessadas na ingênua vontade de ocupar o poder, mas sim na potência de desenvolvimento de um contrapoder! A potência feminista expande o corpo graças aos modos como é reiventado pelas lutas feministas e pelas lutas das dissidências de gênero, que uma e outra vez atualizam essa noção de potência. Potência feminista é capacidade desejante. O desejo não é o contrário do possível, mas a força que impulsiona o que é percebido coletivamente. Seguiremos nas ruas movidas pelo desejo de transformação!

Texto: Daniela Rodrigues, Lara Buitron e Natália Cordeiro

Narração: Fran Ribeiro

Produção: Lara Buitron

Edição e Montagem: Maria Cardoso

Apoio: Fondo Mujeres Del Sur e Pão para o Mundo

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