Regada a muito samba e emoção, a última Ação Cultural Feminista do ano encheu a sede do SOS Corpo.
| Texto: Lara Buitron | Fotos: Camila Silva|
Na última quinta-feira (14 de dezembro) a sede do SOS Corpo abriu suas portas e recebeu, aproximadamente, 150 pessoas. Foi emocionante ver a casa cheia, sabendo que as pessoas estavam ali para celebrar o fim desse ano tão agridoce, de reconstrução da democracia e dos caminhos para a justiça social, com as portas abertas e a casa cheia de crianças, o clima geral foi de esperança e celebração. Bonito demais ver que as pessoas foram para a Ação Cultural Feminista não só para festejar e socializar ao som de um sambinha, mas também para escutar as reflexões de nossas companheiras a partir de suas pesquisas.
O lançamento dos livros marca um momento importante para o Instituto neste fim de ano, lançar três livros ao mesmo tempo negrita a cristalização do trabalho de todo o ano no SOS Corpo. Os temas das publicações fazem referência aos temas-causa que movem a ação política do Instituto, à primeira vista, não têm conexão entre si, afinal o que trabalho doméstico, justiça reprodutiva e violência contra a mulher teriam em comum? Além do debate teórico-político feminista e de gênero, todas as pesquisas faziam os recortes de classe e, principalmente, raça. Mediado por Daniela Rodrigues, o diálogo entre as autoras confirmou o peso do racismo estrutural em toda a nossa sociedade, seja nas experiências das trabalhadoras domésticas, no serviço de proteção às mulheres ou na hora do parto.
O diálogo entre as pesquisas de nossas companheiras Rivane Arantes (“Trabalhadoras Domésticas: Conflitos na luta por direitos no Brasil”), Talita Rodrigues (“Gestar, Parir, Morrer: Mulheres Negras, Morte Materna e o Racismo na Saúde”) e Natália Cordeiro (“Violência Contra as Mulheres: (Re)produção de desigualdade nas políticas públicas”) foi finalizado com uma linda homenagem às companheiras de diversos sindicatos de trabalhadoras domésticas do país, que tanto lutaram para ver seus direitos trabalhistas consolidados. A ilustradora Nathalia Queiroz foi quem deu forma e cor ao tributo às companheiras (da esquerda pra direita) Eunice do Monte, Creuza Oliveira, Lenira Carvalho, Luiza Batista e Nila Cordeiro.
A Feira das Mulheres Pretas e a Feira de Livros foram um sucesso! A biblioteca de referências do SOS Corpo fez a alegria das pessoas, todo mundo tinha pelo menos um livrinho embaixo do braço. Espalhadas na entrada da sede, a Feira das Mulheres Pretas coloriu demais nossa festa, entre roupas, bolsas, pratas, bijuterias e cosméticos naturais. Só não fez as compras de natal quem não quis.
Em uma noite de tantas emoções não poderia faltar uma surpresa, que foi a estreia do vídeo da Ação Cultural de setembro: “Feminismos e Lutas em Comum – visões desde o Sul Global”, que você pode conferir aqui. Em um pequeno resumo do que foi uma noite de muitas trocas entre companheiras de diversos países ao sul do mundo, o público pôde refletir sobre como nossos problemas locais não são diferentes dos de nossas companheiras africanas, sul-americanas e caribenhas. Pelo contrário, a violência da colonização atravessou e atravessa nossos territórios de maneira muito semelhante, seja em El Salvador, no Brasil, em Moçambique ou no México, a luta das mulheres permanece sendo o ponto de inflexão e resistência na luta por uma vida livre de violência e de equidade de direitos.
E para brindarmos ao ano novo que virá o samba não podia faltar! As fantásticas Amanda Ganimo e Poli abriram os trabalhos musicais com “Identidade”, música de Jorge Aragão, nada mais simbólico, em uma noite tão especial! A roda de samba não poderia começar de forma diferente, para nos lembrar sempre que “quem cede a vez não quer vitória” e fortalecer nosso compromisso com a luta antirracista. As crianças curtiram o samba tanto quanto os adultos, uma rodinha dos pequenos se formou na frente do palco, até um coco a pedido delas teve! E é assim, em clima de festa e renovação que o SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia fecha o ano de 2023 e que ano que vem tenhamos mais e mais vezes nossas portas abertas.