[LEITURA CRÍTICA] “O machismo é mais uma epidemia trazida pelos europeus”

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Como mulheres não indígenas e feministas antirracistas e anticapitalistas, unimos nossas vozes aos gritos das mulheres indígenas da Amazônia Brasileira. A política do governo Bolsonaro-Mourão é uma política de destruição intencional e sistemática dos modos de vida e da cultura dos povos indígenas. Queremos explicitar como este modelo é devastador dos corpos e dos territórios e se sustenta na depredação da natureza, na espoliação colonial do trabalho, dos corpos e das vidas das mulheres indígenas.

Este trabalho foi elaborado por Rivane Arantes, pesquisadora do SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia e militante da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), a partir da escuta das mulheres indígenas participantes do Fórum Social Panamazônico, do diálogo com a liderança indígena Telma Taurepang, Coordenadora Geral da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (UMIAB).

As mulheres indígenas são as responsáveis pelo cuidado com a saúde e a alimentação das comunidades. Elas estão sobrecarregadas pela ampliação da necessidade de cuidados com a saúde da comunidade, por conta da precarização do SUS, das inúmeras tentativas de destituição da política de saúde diferenciada indígena.

Para Telma, “a pandemia trouxe a tristeza para dentro de casa, porque se perde vidas, porque o vírus ataca as mulheres que tentam sobreviver, afeta a esperança que as mulheres tentam construir. Houve perda de mulheres lideranças indígenas de frente, porque as mulheres indígenas têm a responsabilidade de cuidar, como papel nas aldeias e comunidades. Se rompe o ciclo de vida tradicional em seus territórios”.

O aprofundamento da fome no interior das aldeias, com a pandemia e, a política de instigação do racismo contra os povos indígenas, por parte de representantes do Estado, que insuflam a sociedade não-indígena contra a população indígena, como a campanha promovida pelo governo Bolsonaro de descredibilização da APIB, COIAB e Conselho Indígena de Roraima (CIR), segundo ela, sugerindo malversação de recursos públicos no enfrentamento da pandemia, é uma realidade que se tornou ainda mais cotidiana entre os povos indígenas e que contribui para o genocídio dessa população, interditando ainda mais, as condições de vida das mulheres indígenas.

As mulheres indígenas também estão sujeitas às mesmas violências pelas quais passam as mulheres não-indígenas, pois o estudo apontou que os BO’s registraram crimes de lesão corporal, ameaças, ameaças de morte, calúnia, difamação e injúria, estupro, violência doméstica e familiar, onde, na maioria das situações, o agressor tem alguma relação com a vítima. É importante destacar que as situações de empobrecimento e fome também empurram as mulheres indígenas às situações de aliciamento para a prostituição, especialmente nos contextos das grandes obras.

A transmissão da Covid-19 e outras doenças das populações não-indígenas, chega por parte dos invasores, trabalhadores/as do governo federal e missionários cristãos. As mortes têm significado e impacto muito maior entre os povos indígenas, porque não se trata só de uma vida em si, se perde também um patrimônio cultural.

Resistir, neste contexto de devastação de tudo, se transforma no ato mais radical que essas mulheres indígenas podem realizar no presente.

Por isso, juntamos nossas vozes aos gritos dessas mulheres e seguimos afrontando a monocultura desse modelo extrativista, que captura nossos desejos, destitui nossas humanidades e, ao nos dissociar da Terra, esse grande organismo vivo do qual somos parte, vende nosso presente e nos des-envolve de nós mesmos/as. Juntemo-nos pois às mulheres indígenas e aos demais povos da Panamazônia Andina, na tarefa urgente da recuperação material e simbólica de nossa necessária Abya Yala.

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