Integrante da rede que protegeu a garota capixaba conta: movimento feminista e médico corajoso foram cruciais para garantir o direito à interrupção da gravidez. Mas para avançar, é preciso batalha cultural contra o fundamentalismo.
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Uma cena indescritivelmente cruel marcou o último final de semana. Grupos de fundamentalistas antiaborto aglomeraram-se em frente ao Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros, o Cisam, que faz parte da Universidade de Pernambuco.
O que moveu seu ódio foi o fato de que uma garota de dez anos estava prestes a realizar um procedimento legal de aborto, de uma gravidez gerada por um estupro. Chamavam-na de assassina. Forçaram as portas do hospital. Foram impulsionados por Sara Giromini, extremista que está em prisão domiciliar e vazou informações confidenciais sobre a garota de 10 anos.
Mas houve resistência. Um grupo do Fórum de Mulheres de Pernambuco, ao saber do que estava prestes a acontecer, uniu-se para dificultar a entrada dos fundamentalistas. Usaram seus próprios corpos como correntes. O aborto foi concluído, graças também ao combativo médico obstetra dr Olímpio Barbosa de Moraes Filho, diretor clínico do Cisam.
Hoje conversaremos com Silvia Camurça, educadora popular e integrante da equipe do SOS Corpo Instituto Feminista pela Democracia. Militante feminista do Fórum de Mulheres de Pernambuco. Ela analisa como se deu o crescimento do poder e do alcance de grupos fundamentalistas antiaborto, e como estão ligados ao projeto de poder que hoje tem como principal líder o presidente Jair Bolsonaro.
Silvia também escancara as desigualdades no direito ao aborto, em um país onde mulheres ricas interrompem a gravidez com segurança, enquanto as periféricas são marginalizada. E explica a importância do feminismo na transformação cultural da sociedade, que poderá mudar essa triste realidade no futuro.