Esse período de pandemia mundial, tem escancarado as desigualdades sociais, trazido muita angústia e oscilações de sentimentos, enxurrada de informações e desinformações. Mas também pode nos fazer fortalecer nossos laços de solidariedade política e de afeto em nossas relações interpessoais. Em um momento onde temos discursos que polarizam a economia e a vida, podemos afirmar como nosso projeto de transformação da sociedade é necessário.
Esse mundo explorador e opressor NÃO NOS SERVE. Quando essa sociedade, mesmo em isolamento, nos cobra ou exige uma nova produtividade, Quando a divisão sexual do trabalho doméstico permanece forte nos lares, mesmo com mais pessoas na casa, Quando há casas onde não há espaço para todos, Quando ainda há pessoas sem casa, Quando a violência doméstica aumenta e o despresidente usurpa essa pauta para convencer as pessoas a saírem de casa culpando a quarentena, percebemos que esse mundo NÃO NOS SERVE.
Longe de romantizar esse período de isolamento, escrevo para compartilhar essa experiência pessoal que tive com meu pai. Ao me trazer de volta para casa, tivemos essa experiência conjunta de ressignificar uma porta com arte. Esse processo durou um dia inteiro. Foi demorado, com vária etapas e eu, da arte, sou só admiradora, não gozo de talentos ou habilidades, mas me permiti a tentar. A porta mais sem graça da minha casa, hoje está cheia de vida e flores. É ela que vejo sentada do meu sofá, nas múltiplas reuniões que tenho participado. Ela diante da angústia me traz alguma beleza.
Uma porta que me lembra que há vida, há possibilidade de transformar o que NÃO NOS SERVE. Marx e Engels, na Ideologia Alemã, já falavam que em outra sociedade, livre dessa exploração, poderíamos não ter uma esfera de atividade exclusiva, “fazer hoje uma coisa, amanhã outra, caçar de manhã, pescar à tarde, pastorear à noite, fazer crítica depois da refeição, e tudo isto a meu bel-prazer, sem por isso me tornar exclusivamente caçador, pescador ou crítico”. Ah! A humanidade pode tanto, podemos ser tantas coisas! Viver, com certeza não cabe no currículo lattes.
Que a gente possa desenvolver nossas potencialidades, nossa crítica, nossos laços, nos permitir. Isso não ocorrerá por causa de um vírus. Isso acontecerá quando nos organizarmos para MUDAR O QUE NÃO NOS SERVE!
Relato enviado por Emily Marques, do Espírito Santo