Nossa história

Em 1981, um grupo de mulheres fundou em Recife uma organização chamada SOS Corpo – Grupo de Saúde da Mulher. Militantes do movimento feminista, profissionais de várias áreas trabalhando em lugares diversos queriam, naquele momento, inventar uma outra forma de articular projetos políticos com projetos profissionais. Mais do que isso, queriam trabalhar as questões políticas e sociais com outras mulheres; experimentar novos meios de educação popular para a cidadania e para a transformação social; produzir conhecimento e criar experiências alternativas; construir novos direitos, através do fortalecimento da luta coletiva, voltados para a liberdade e a igualdade das mulheres, considerando a superação das desigualdades enfrentadas pelas mulheres como questão principal para fundamentar as estratégias de ação da nova organização que se formava.

O SOS CORPO – Instituto Feminista para a Democracia – como passou a ser chamado a partir de 2003, é esta organização que, guardando os compromissos de sua origem, segue atuando em prol da democracia no país, defendendo a igualdade de gênero e raça com justiça social e ambiental. Atua na defesa dos direitos civis, políticos, sociais, econômicos, culturais e ambientais que fortalecem a cidadania das mulheres e fazem avançar a transformação social.

Assim como outras organizações feministas, o SOS CORPO se forma no processo de reconstrução democrática pós Ditadura Militar, ao mesmo tempo, em uma relação dialética, a existência dessas organizações feministas alargam e reestruturam o sentido da democracia e da cidadania. Na abordagem que orienta a ação institucional, a democracia política está inextricavelmente associada à democracia como uma forma de organização de toda vida social. Em outras palavras, pode-se dizer que nessa perspectiva a democracia está relacionada à transformação das relações políticas, das relações sociais, da relação produção/reprodução e da relação dos seres humanos com a natureza.

O SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, de caráter político profissional, fundado em 1981, cuja sede está em Recife, capital do estado de Pernambuco, no nordeste do Brasil.

Teatro Vida de Mulher

Realizado pelo SOS CORPO, Grupo de Saúde da Mulher, na cidade do Recife (PE)

Ilustrar a história do SOS Corpo

3º Encontro de Mulheres

Organizado pelo SOS CORPO, em Recife (PE), em Maio de 1983

Treinamento em Psicodrama

Grupo de treinandas em psicodrama. Encontro de avaliação e treinamento em psicodrama realizado em Camaragibe (PE)

#8M 1987

Ato público do 8 de Março de 1987, na Praça do Diário, em Recife.

Caminhada de mulheres lutando por melhores condições de saúde em bairro do Recife. 1983

Encontro de mulheres organizado pelo SOS Corpo para conversar sobre Dupla Jornada de Trabalho

Trabalho de educação acontecendo durante o 2º Encontro de Mulheres de Paulista (PE), em 1987, sob coordenação do SOS CORPO.

#18ANOSOSCORPO

Parte da equipe celebrando 18 anos do Instituto, 1999.

#eSPIRALfEMINISTA

Curso O mundo do trabalho e a vida das mulheres, Recife 2024.

Reunião Conselho Político do SOS Corpo. Abril 2024

#AçãoCulturalFeminista

Noite das Entendidas, homenagem a Josenita Duda. Agosto 2024

Parte da equipe, no final dos anos 1980.

Curso Nacional sobre Aborto. Setembro 2024

Ação nos bairros. Recife, 1983

Ação de conscientização contra HIV/AIDS. Recife, 1998.

#AçãoCULTURALFEMINISTA

Enfrentando o Fundamentalismo, setembro 2024

#Caleidoscópio

Participantes do curso Para onde Vamos? Feminismo como Movimento Social, agosto 2019.

#EspiralFeminista

Registro do 1º curso Espiral Feminista, novembro 2019.

#FonteseVEREDAS

Curso Vamos falar sobre o Tempo? Recife, 2019.

#FeminismoTerritóriodeVida

Ação da Campanha, setembro 2025.

Atividade na sede do Instituto, 2005.

#JULHODASPRETAS

Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, Recife 2025

Curso de Formação no Semiárido – João Cândido (RN), 2010.

Reunião na 1ª sede do Instituto, Recife, final dos anos 1980.

#VígiliapeloFIMVCM

Vigília do movimento feminista pelo fim da violência contra as mulheres. Recife, novembro 2019.

Parte do coletivo de trabalhadoras do SOS Corpo em 2008.

Esta história começa nos anos 80, quando os sinais de que uma nova situação política estava se forjando no Brasil apareciam com mais evidência, denotando, com isso, o avanço da luta por democracia. Nesse cenário, emergiam novos sujeitos políticos e seus movimentos ganhavam significado na história recente, naquele momento da abertura política. O movimento feminista tornava-se visível, trazendo consigo a tarefa histórica de construir a cidadania das mulheres e, dessa forma, incluí-las como sujeito do projeto da democracia, tornando-o assim, desde o início, mais radical. Muitas organizações de mulheres que hoje constituem a sociedade civil organizada no Brasil nasceram dessa conjunção e nessa conjuntura, onde o feminismo ganhava e dava sentido ao movimento geral em torno da liberdade.

Sediado no Recife, o SOS CORPO é um projeto coletivo, onde a permanência e a continuidade se fazem através das mulheres que aqui estão ou estiveram, com tempos distintos – de 40 anos até alguns meses de ação e pensamento na instituição – com localizações diferentes – no Recife e espalhadas pelo mundo. Estamos em movimento.

Grupo de Saúde da Mulher

O SOS Corpo nasceu dos acúmulos do agrupamento “Ação Mulher”, criado em Pernambuco, na segunda metade da década de 70, no contexto de intensa disputa política pela redemocratização do Brasil.

Nossa caminhada enquanto grupo político iniciou oficialmente em 1981, com uma certeza: importância da ação político-pedagógica vinculada à pesquisa e produção de conhecimento realizada junto aos grupos de mulheres populares e de bairros.

Ainda não carregávamos o feminismo no nome, mas nossa ação já tinha como objetivo enfrentar o imperialismo patriarcal que chegava na América Latina com uma política de controle de natalidade que visava diminuir taxas de crescimento populacional promovendo a esterilização feminina em larga escala. Por isso, os temas relacionados à sexualidade, reprodução, contracepção pautaram o início da nossa ação, dando origem ao nome do coletivo: Grupo de Saúde da Mulher.

Teatro Vida de Mulher

Realizado pelo SOS CORPO, Grupo de Saúde da Mulher, na cidade do Recife (PE)

Ilustrar a história do SOS Corpo

3º Encontro de Mulheres

Organizado pelo SOS CORPO, em Recife (PE), em Maio de 1983

Treinamento em Psicodrama

Grupo de treinandas em psicodrama. Encontro de avaliação e treinamento em psicodrama realizado em Camaragibe (PE)

#8M 1987

Ato público do 8 de Março de 1987, na Praça do Diário, em Recife.

Caminhada de mulheres lutando por melhores condições de saúde em bairro do Recife. 1983

Encontro de mulheres organizado pelo SOS Corpo para conversar sobre Dupla Jornada de Trabalho

Trabalho de educação acontecendo durante o 2º Encontro de Mulheres de Paulista (PE), em 1987, sob coordenação do SOS CORPO.

Com o teatro era possível representar os achados e aprendizados coletivos, envolvendo as mulheres que participavam dos encontros, processos pedagógicos, entrevistas e pesquisas, ações que nos forneciam subsídio para elaborar nossos dramas, alegrias e lutas. Todo conhecimento era produzido com e a partir das mulheres, das realidades em que estavam inseridas e a partir do acúmulo das vivências coletivas auto-organizadas. Na década de 80 destacam-se as ações de articulação entre os grupos de reflexão coordenados pelo SOS Corpo.

Nossa primeira publicação veio mundo em julho de 1981 e oficializou o início da nossa jornada: foi um livreto informativo elaborado a partir desses trabalhos educativos realizados nos bairros populares do Recife, região metropolitana e no interior de Pernambuco, sobre saúde, anatomia, funcionamento do corpo, ciclo menstrual, doenças de mulher e cuidados naturais.

“Corpo de Mulher” estampava em sua capa uma imagem de sereias em xilogravura. A ideia e a concepção estava intimamente ligada à nossa ação política: prestar socorro e resgatar o corpo das mulheres para elas mesmas, a partir do conhecimento delas e experimentações sobre o próprio corpo, onde revelavam-se descobertas umas com as outras. A sereia foi por isso: metade mulher, metade animal: estávamos construindo o corpo das mulheres, ceifado pelos homens e pelo imperialismo. A abertura da edição comemorativa explicava a razão do resgate e as revisões realizadas e conta:

Quando o publicamos, pela primeira vez, em julho de 1981, tínhamos vivido durante quase um ano nossa primeira experiência de autoexame ginecológico. Estávamos encantadas com tudo o que havíamos descoberto, juntas, sobre o corpo e seu funcionamento. De lá para cá muitas coisas aconteceram. (…) É claro que nessa trajetória muita coisa se transformou, inclusive cada uma de nós. (…) O que não mudou também foi o nosso interesse pelo corpo e a vontade de desvendar cada vez mais os tabus e medos que tanto nos atrapalham, impedindo ou limitando uma vivência mais inteira como mulheres.”

Capa da primeira cartilha educativa utilizada pelo grupo que fundou o coletivo
Desenho feito por uma adolescente de um grupo do Morro da Conceição, Recife (PE)
Guia de pronto socorro vegetal ensina mulheres a usarem diversas ervas para auto-cuidado

“Se colocarmos um espelhinho
entre as nossas pernas abertas,
poderemos ver a nossa genital,
também chamada de vulva.”

Tal convite vinha junto com os materiais, que informam sobre os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, a partir da apresentação de desenhos dos órgãos genitais femininos baseados em estudos acadêmicos feitos por mulheres. Imagens dos corpos das mulheres, útero, ovários, pequenos e grandes lábios, ânus e clitóris. Havia uma parte dedicada ao prazer feminino, que se dava por meio de uma conversa muito franca e avançada sobre orgasmo no sentido explicar que o clitóris tem uma função importante na excitação e que a sensação do prazer se transfere para outros lugares. Ou seja, o prazer está presente em todo o corpo das mulheres.  O material sobre o tema do corpo e sexualidade, também reunia relatos de mulheres populares sobre as dificuldades de acesso à informação sobre exames preventivos, como o Papanicolau.

Nossa contribuição feminista contava com processos educativos que incluíam massa de modelar, dinâmicas de autorreflexão, como linha da vida, além de oficinas de identidade e sexualidade. O campo subjetivo, as emoções, as experiências vividas, foram incorporados nos diferentes espaços em que atuamos, do posto de saúde ao clube de mãe. E a reprodução das práticas eram incentivadas por meio dos primeiros materiais audiovisuais desenvolvidos pelo SOS Corpo: série de slides acompanhados de áudios em fita cassete e um texto para guiar a exibição do material.

O recurso do vídeo também era recorrente. Em 1985 lançamos três produções em parceria com a TV Viva. “O que faço com esse tesão?“, nossa primeira produção de ficção destinado ao público jovem sobre o seu comportamento diante da contracepção, “Tá ligada nessa?” documentário sobre a esterilização voluntária no Recife, discutindo as alternativas de contracepção oferecidas às mulheres, a grande procura pela ligação de trompas e o processo para se conseguir esta cirurgia, e o “Atreve-te a saber” (ainda indisponível online) era o registro de um encontro de mulheres do bairro de Casa Amarela, resultado da articulação entre os diferentes grupos de reflexão coordenados pelo SOS Corpo na época.

https://youtu.be/g91E8IvJ9OM

Essa era a metodologia feminista que as “meninas do SOS” estavam pondo em movimento. Uma publicação que disponibilizamos ao público, “Seminário de práticas feministas”, sistematiza as reflexões sobre práticas que vinham se dando no âmbito do movimento feminista, junto a grupos de mulheres, equipes de saúde do meio popular e também profissionais de saúde vinculados às instituições públicas. O debate foi realizado em maio de 1988, na cidade de Olinda.

Nesse, que é um dos primeiros documentos de sistematização de práticas, fica exposto a urgência de uma sistematização das reflexões acumuladas. Era necessário teorizar o vivido, para as ideias não se perderem no cotidiano, nas palestras, oficinas e vivências. Assim, no ano seguinte, as produções de 1984 a 1989 foram organizadas e publicadas no livro “Direitos Reprodutivos e a condição feminina”. O conceito de Direitos Reprodutivos, compreendido tanto a maternidade como a contracepção, tomando como base o desejo e a autonomia, tão vital hoje para o movimento feminista, foi analisado em seu contexto nacional por Sônia Corrêa e Maria Betânia Ávila.

Aos poucos, e com bastante enfrentamento, as ideias feministas construídas pelo SOS Corpo vieram a ser implementadas como políticas públicas. Entre 1983 e 1988, no período inicial da transição democrática, o Estado absorveu, ainda que parcialmente, algumas das propostas políticas para a ação no campo da atenção à saúde das mulheres. O governo sai de uma postura oficialmente natalista (como as ações do Materno-Infantil que, no início dos anos 70, expressava a omissão quanto aos direitos reprodutivas) e passa, a partir de 77, a fazer proposições de ações e programas específicos para a mulher: inicialmente a prevenção da gravidez de alto risco, depois o Prev-Saúde e, finalmente o PAISM. O SOS Corpo se tornava uma referência nacional em políticas públicas de saúde para a mulher.

Gênero e Cidadania

Após dez anos, nossa organização passou por uma reformulação de seu sentido no mundo, deixando de lado a identificação como “Grupo de saúde” e passando a tratar a si mesmo como um coletivo feminista político-profissional. Ao assumir pautas mais amplas das relações de gênero, desenvolvimento e trabalho, repaginamos a marca do SOS Corpo e reformulamos nosso nome, adotando “Gênero e Cidadania”

Dez anos depois, em 1991, instalou-se um
debate sobre o sentido de o SOS CORPO ampliar o
seu campo de ação, pois a conjuntura e o próprio
resultado do trabalho exigiam essa tarefa. Nesse
momento, o nome foi mudado para SOS CORPO – Gênero e Cidadania, como signo de uma trans formação em sua ação institucional.

Transformar a prática feminista ela militância
em uma base para construir uma organização de
trabalho foi/ é um grande desafio que se renova a cada
momento.

Nesta nova década, era necessário teorizar mais, por isso buscamos contribuir para a circulação de textos acadêmicos estratégicos, especialmente para as temáticas de gênero, desenvolvimento e trabalho, com perspectivas feministas. Nossa contribuição estava sempre informada pelo movimento de compressão do mundo por meio da práxis feministas, ou seja, nós colocamos em diálogo a discussão acadêmica e conceitual com as práticas e experiências concretas de mulheres populares, rurais e urbanas. Politizando, assim, as ausências das mulheres e de suas experiências nas diversas teorias e áreas do conhecimento.

Cadernos de textos

Gênero: uma categoria útil para a análise histórica” de Joan Scott

Traduzido para o português por uma de nossas companheiras e publicado com autorização da autora, o texto analisa os usos e significados da categoria gênero no pensamento contemporâneo e
apresenta questões importantes sobre o
desenvolvimento de estratégias feministas que articulem gênero, classe e raça, na luta pela igualdade política e social.

“As mesmas diferenças”,
de Françoise Collin

Aborda os dilemas que acompanham as formulações teóricas e as práticas feministas. Discute a necessidade de repensá-las no que se refere às relações de poder; ao reconhecimento da
impossibilidade de se chegar a uma definição única do ser “mulher” e consequente aceitação da pluralidade de projetos feministas.

“Aborto: uma abordagem da conjuntura nacional e internacional”,
de Ana Paula Portella

Pesquisa desenvolvida por Ana Paula Portella e publicada no documento final do Seminário Nacional “A Realidade do Aborto no Brasil”. O artigo demonstra como o aborto passou de um assunto de foro íntimo para a legislação criminal, descrevendo as origens do moralismo religioso e dando um panorama das situações de legalidade e criminalidade da prática aborto em diferentes regiões do mundo.

TA LIGADA NESSA?

o que eu faço com esse tesão?

https://drive.google.com/file/d/1hvPUjce2-_ZtifNoQ5FuDULUqi0iWe7D/view?usp=sharing


Sexo na classe!

https://drive.google.com/file/d/12UYHXu_1fJPpEKX-xUj8edDAbVszBADN/view?usp=sharing

Instituto Feminista para a Democracia

“Assumimos que só ter direitos nesta sociedade não era suficiente, era preciso transformar a sociedade mesmo. Coisa que a gente já sabia, mas não tinha assumido como causa institucional do coletivo. E assumimos que realmente a questão do poder era central no feminismo e que era muito importante se definir como instituto. E foi aí que a gente mudou pra Instituto Feminista para a Democracia, compreendendo instituto como uma organização político-profissional que institui novas questões na sociedade na perspectiva do feminismo, que não tava ainda no nosso nome, e na perspectiva da democratização das relações sociais, tomando a democracia como uma forma geral de organização da sociedade.”

Silvia Camurça em entrevista a Camila Santana, em fevereiro de 2017

40 anos de existência