Nota de solidariedade ao MST e contra o despejo do Centro de Formação Paulo Freire

Na condição de Instituto Feminista para Democracia, cujo projeto político institucional a educação popular é um eixo estruturador, vimos somar nosso repúdio às vozes das mulheres e homens que fazem o Movimento das/os Trabalhadoras/es Sem Terra, o MST, que, com compromisso com as causas populares, vem mantendo e coordenando o Centro de Formação Paulo Freire, ameaçado de despejo pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), através do juiz federal da 24ª Vara Federal de Caruaru, que determinou imediata reintegração de posse.

Nos solidarizamos com o MST e nos somamos à luta em defesa dos territórios de resistência, na democratização das terras a partir da política de Reforma Agrária, que há anos vem mostrando por meio das produções das famílias assentadas que a agroecologia, como construção de alternativa, é o caminho de coexistência dos seres humanos com a terra, sem a exploração dos recursos naturais a qualquer preço. No Assentamento Normandia, onde o Centro está localizado, funcionam três agroindústrias de beneficiamento de carne, raízes e tubérculos e a de pães e bolos, que pertencem ao coletivo de boleiras. A tentativa de despejo irá destruir todas estas iniciativas, além de atentar contra o direito universal à educação, ao trabalho e contra a sobrevivência econômica de famílias trabalhadoras do campo que dali retiram e produzem seu sustento. 

O Centro de Formação Paulo Freire vem promovendo há 20 anos formação técnica orientada para beneficiar as populações do campo no nordeste brasileiro, colocando ao dispor da sociedade sua estrutura para a realização de atividades de formação política, teórica e no desenvolvimento de pesquisas em parceria com Universidades, com a exemplo da Fiocruz, e ainda, a parceria com o próprio governo, no Estado de Pernambuco, na promoção de diversos cursos de especialização. O Centro é referência nacional e internacional ao sediar cursos de especialização, mestrado e doutorado. Em um governo de extrema direita, que ignora a sua população e que desde o seu início ataca o legado internacionalmente reconhecido de Paulo Freire à educação popular e em defesa dos povos oprimidos, perseguido pela ditadura militar pelo seu envolvimento na luta contra a repressão, entendemos essa ordem de despejo como um ataque a todo o conjunto dos movimentos sociais brasileiros. 

Denunciamos ainda que essa ordem de despejo solicitada pelo INCRA, atualmente gerido por militares, vem a cumprir seu papel ideológico em favor da indústria do agronegócio no Brasil, que produz alimentos em larga escala a partir do uso de agrotóxicos, responsáveis pelo adoecimento do nosso povo, pela poluição dos nossos rios e lençóis freáticos, e pelo envenenamento das populações originárias, como vem sendo denunciado há anos pelas populações ribeirinhas, pescadoras, marisqueiras, indígenas, quilombolas em diferentes regiões e territórios do país.

Entendemos que essa tentativa de despejo é mais um ataque ofensivo aos movimentos de trabalhadoras e trabalhadores do campo, em um processo de disputa de terras acirrado pelo projeto neoliberal entreguista do governo Bolsonaro, que visa claramente a destinação das terras da reforma agrária ao agronegócio e a criminalização dos movimentos sociais e sobretudo, um ataque ao MST, movimento que vem historicamente resistindo ao projeto capitalista de exploração de nossos territórios, apresentando uma alternativa de projeto de sociedade voltado à soberania nacional a partir da produção agroecológica de alimentos saudáveis, com distribuição de terras para quem realmente precisa delas. Somos e seremos sempre resistência em favor do Centro de Formação Paulo Freire, assentado na Fazenda Normandia e ao próprio MST.

Pela preservação, valorização e defesa do Centro de Formação Paulo Freire!

Em defesa dos empreendimentos de pequenas famílias de produtores/as rurais! Se o campo não planta, a cidade não janta!

Pela justiça, democracia e por Reforma Agrária! 

Pelo direito de existir e resistir do MST!

SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia

Recife, 06 de setembro de 2019.

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Next Post

Programa da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político apresenta temas discutidos no Congresso Nacional

sex set 6 , 2019
A Casa é Sua estreou no final de agosto no canal da Plataforma no Youtube e na sua terceira edição mostra como a proposta de aumento do Fundo Partidário não vai contribuir para o aprimoramento do Sistema Político.