Fortalecendo a luta das mulheres e de todas as pessoas que lutam pelo direito à cidade, o Ocupe Passarinho aconteceu no último sábado, na Zona Norte do Recife, com a participação de moradoras/es da localidade e de diversas pessoas que chegaram para fortalecer e contribuir, dentro de uma programação composta por apresentações culturais, feira de alimentos orgânicos e outros produtos, além de oficinas que aconteceram o dia todo.
O Ocupe é uma manifestação popular pelo direito à moradia, num momento em que cerca de 5 mil famílias estão sob ameaça de uma ação de despejo, e que seguem resistindo com o apoio de advogadas/os populares.
Criado há 14 anos, o Espaço Mulher deu início à articulação para o Ocupe há alguns meses, e com o apoio de diversas organizações conseguiu realizar a ação do último sábado, que prosseguirá como uma das lutas da Região Metropolitana do Recife pelo direito à cidade.
De acordo com Ediclea Santos, do Espaço Mulher, Passarinho foi sendo construído ao longo de quase três décadas, a partir da força e do empenho dos moradores, sobretudo das mulheres, que até hoje sofrem com a falta de creches, de iluminação, transporte público e calçadas seguras, ficando expostas a assaltos e situações de violência sexual, seja ao sair cedo de casa, seja ao voltar à noite do trabalho. Mesmo depois de todos esses anos da ocupação que deu origem a Passarinho, ainda faltam saneamento básico e posto de saúde com médicas/os e remédios.
Comunicação – Para quem não conseguiu participar do Ocupe, divulgamos trechos de duas matérias – entre as produzidas graças ao trabalho de diversas companheiras -, que registraram tanto o processo de preparação (veja aqui) e o dia do Ocupe, viabilizando textos e imagens que farão parte da memória de lutas e da comunicação realizada pelas organizações populares.
- Ocupe Passarinho mostra que o bairro tem experiências em Agricultura Urbana
por Emanuela Marinho (Casa da Mulher do Nordeste)
No último sábado (10), durante o Ocupe Passarinho, moradores(as) do bairro tiveram a oportunidade de dialogar e trocar informações sobre agricultura urbana, segurança alimentar, agroecologia e sobre os impactos dos agrotóxicos no meio ambiente e na saúde. A ação envolveu ativistas, pesquisadoras e agricultores(as) de produção agroecológica.
O Núcleo de Pesquisas e Práticas Agroecológicas da Geografia/UFPE, contribuiu com uma oficina de Agricultura Urbana: agroecologia e direito à cidade cultivando saúde e comida de verdade. Na oficina, teve uma roda de conversa sobre os dois modelos de produção: agroecológica x agronegócio, e do potencial da agricultura urbana para melhorar a saúde ambiental e das pessoas, aumentando as áreas verdes, tão escassas no bairro. Para Luzia Rodrigues, há 20 anos moradora de Passarinho, que tem um canteiro em casa com hortelã e babosa, foi uma manhã de muito aprendizado. “Acabei de aprender a fazer a compostagem, eu não sabia fazer e usava isopor embaixo. Agora vou pegar as cascas de verdura e não jogar fora, e colocar para secar, depois vem a grama e está pronto para a compostagem”, disse.
A conversa contou com a participação de Dona Maria, do Assentamento Chico Mendes (MST), falando da sua compostagem e do seu sistema produtivo agroecológico. No final da atividade, os(as) participantes trocaram mudas e sementes, e receberam plantios em garrafas pets. A Luzia levou para casa alecrim, cebolinha e tomate pequeno com a intenção de ampliar seu quintal. Durante o Ocupe, a campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, tirou dúvidas sobre o uso e o prejuízo que causa à saúde e ao meio ambiente.
- Ocupe Passarinho e a luta pela resistência
por Nathália D’Emery (SOS Corpo)
Passarinho, comunidade localizada na Zona Norte do Recife, tem uma área equivalente a 33 campos de futebol, aparelhada, ainda que precariamente, com escola, postos de saúde e reservatório d’água. É um bairro com dinâmicas e processos consolidados, passando longe de ser apenas uma invasão. Quase 30 anos depois de sua formação, moradores/as do lugar e ativistas realizaram, no último sábado, 10, o Ocupe Passarinho, com o objetivo de reivindicar a melhoria dos instrumentos públicos que não acompanharam o crescimento do bairro e de defender o direito à moradia de cerca de cinco mil famílias que residem na área há décadas e estão sob ameaça de despejo por conta de uma ação judicial de reintegração de posse.
O ato político-cultural, que durou o dia todo, tomou conta dos pontos mais conhecidos do bairro, como a Praça que abriga o terminal do ônibus complementar que circula pela região e a rua do Marluce Santiago, única Escola Municipal do lugar. Neles foram realizadas oficinas, rodas de conversa, feiras, palanque feminista e apresentações de grupos musicais e de teatro. O dia foi marcado pela luta contra o modelo de gestão excludente que toma conta do Recife e também pela emoção de moradores/as que construíram toda a região a partir de esforço e trabalho coletivos, demonstrando toda capacidade de resistência de Passarinho.
O Ocupe Passarinho contou com o apoio de vários movimentos e organizações, como: Casa da Mulher do Nordeste, Grupo Espaço Mulher, SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia, Ocupe Estelita, Núcleo de Pesquisa e Práticas Agroecológicas/Geografia-UFPE, Campanha permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida (PE), MST, ActionAid, Conselho dos Moradores/as de Passarinho, FeminismoAgora, Diadorim, Zuada, Ou Vai ou Racha e movimentos culturais como o Coco d’Olorum.
O próximo passo desta articulação do Ocupe Passarinho é a entrega ao poder público da carta de reivindicação da comunidade, que será realizada nos próximos dias.
Leia a íntegra das matérias: aqui e aqui.
Fotos: Jaque Pinheiro e Mariana Medeiros.
Edição: Paula de Andrade, da equipe de comunicação do SOS Corpo
Mais textos e fotos: aqui | Publicado também pela Casa da Mulher do Nordeste (texto1 e texto2)