No começo de maio o SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia participou do Seminário “Cúpula dos Povos Frente ao G20”, nesse texto Daniela Rodrigues compartilha suas reflexões de seu diário de bordo da viagem.
| Texto de *Daniela Rodrigues | Revisão: Lara Buitron | Fotos: Daniela Rodrigues|
Como parte do processo de mobilização e preparação da Cúpula dos Povos, que ocorrerá no Brasil em novembro deste ano (em crítica ao G201). O seminário aconteceu nos dias 09 e 10 de maio, na sede da CUT do Rio de Janeiro, reunindo cerca de 50 representações de movimentos sociais, ONG’s, grupos locais, fóruns e outras articulações nacionais.
A programação contou com momentos de análise de conjuntura, de explanação político-ideológica sobre o G20 e a Cúpula dos Povos, discussões e trabalhos em pequenos grupos e a elaboração de indicativos temáticos e metodológicos para a Cúpula no final do ano.
Foi negritado o “lugar crítico” da Cúpula dos Povos à lógica de desenvolvimento capitalista (e sua especulação financeira atual) e à política ultra-neoliberal que o vem sustentando, às custas de vidas humanas e do ataque à natureza e toda sua forma de reprodução.
A Cúpula dos Povos, como o nome já sugere, é o espaço de organização política dos movimentos sociais e sociedade civil no qual estas/es sujeitas/es políticas/os apresentam coletivamente outros caminhos possíveis de governança local, nacional e global. Os princípios de soberania dos povos e suas nações, respeito às culturas e enfrentamento às desigualdades que estruturam e mantém “o jeito capitalista” de viver no mundo são centrais para essa discussão.
Dada a diversidade de representações de movimentos e organizações locais, regionais e nacionais, o Seminário também impulsionou “mobilizações políticas específicas” dentro desta construção coletiva, a exemplo da criação de uma articulação nacional feminista na Cúpula dos Povos, puxada pelos movimentos feministas presentes, na qual o SOS Corpo se integrou.
Sobre isso, em uma de nossas falas articulamos a dimensão de Justiça Socioambiental, com a necessária contribuição teórico-política da crítica ao Racismo Ambiental, no esforço de olharmos para uma das questões centrais do mundo hoje, considerando que as mudanças climáticas serão tema desta reunião do G20.
Trouxemos para roda uma reflexão sobre a exploração do trabalho reprodutivo, que é realizado majoritariamente por mulheres (em sua maioria negras) aqui no Brasil e na América Latina, e que a manutenção dessa forma exploratória e opressora sobre a vida das mulheres é uma estratégia racista e patriarcal para manter esse sistema que se atualiza sistematicamente em sua “capital instrumentalidade”.
Não há superação do capitalismo sem o enfrentamento a essas estruturas sistêmicas; e o Feminismo crítico aponta a importância das mulheres (em suas mais diversas representações) estarem na organização da Cúpula dos Povos enquanto sujeitas políticas estratégicas na construção de propostas de uma outra forma de viver no mundo.
Ao longo desse encontro, precisávamos responder “quais desafios tínhamos diante de nós para organizarmos a Cúpula dos Povos, em um período tão curto?” Encaminhamos que cada região faria sua própria articulação para facilitar a mobilização local e a organização das pautas. Outra questão posta foi a necessidade de criarmos Grupos de Trabalho para dividirmos as tarefas; como indicativo, houve as sugestões de GT´s de Comunicação, Finanças, Metodologia/Formação, Logística/Infraestrutura e Mobilização/Articulação internacional.
Ao final do Seminário reafirmamos nossa crítica radical ao G20 como espaço de manutenção e fortalecimento do capitalismo, que captura subjetividades e impõe modos de sociabilidade insustentáveis às pessoas; que produz ideologias hegemônicas de consumo através da destruição da natureza e do adoecimento das pessoas, que oprime, violenta e criminaliza àquelas pessoas ou grupos que desafiam seu sistema de espoliação da vida.
As organizações, articulações e movimentos presentes anunciaram, ao final deste encontro, que a Cúpula dos Povo frente ao G20 Brasil de 2024 está em processo de construção coletiva ao longo deste ano e terá sua culminância em novembro, com a presença mais diversa de pessoas, grupos e representações locais, regionais, nacionais e internacionais!
*Daniela Rodrigues é assistente social, educadora e pesquisadora do SOS Corpo. É militante feminista da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco.
- “O Grupo dos 20 (G20) é uma plataforma para a cooperação econômica e política entre vinte importantes economias do mundo. Foi fundado em 1999 como um fórum intergovernamental composto pelos ministros das finanças e chefes de Bancos Centrais de dezenove países e a União Europeia. Ele teve como objetivo responder às crises econômicas que vinham ocorrendo naquele período, como a do México (1994), Tigres Asiáticos (1997) e Rússia (1998). A partir da quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, em 2008, o G20 se torna o principal espaço de coordenação econômica internacional, passando a incluir, também, os chefes de Estado destes vinte países-membros, o que lhe garante maior relevância política.”(Caderno para entender o G20; Ana Garcia e Marta Fernádez. RJ, 2024. PUC Brics policy Center). ↩︎