Os impactos impostos pelas tecnologias vão para além do campo da comunicação, mudam a forma como pensamos, como interagimos uns com os outros, como as mercadorias se valorizam, como trabalhamos. Para debater o assunto convidamos: Charô Nunes (Blogueiras Negras), Mariana Gomes (Conexão Malunga), Thayz Athayde (Blogueiras Feministas e Uma Psicanálise Outra) e Déborah Guaraná (SOS Corpo) e pedimos a elas para refletir sobre algumas questões.
Como as mudanças no campo da comunicação impactam nossa forma de fazer lutas? Num momento em que as tecnologias de comunicação ganham centralidade, como viabilizar processos de luta que integrem a comunicação de maneira estratégica e não instrumental? Quais os impactos da hegemonia digital na nossa forma de fazer comunicação para avançar nas lutas anticapitalistas? Fran Ribeiro (SOSCorpo) mediou o debate, realizado pelo SOS Corpo no Museu da Abolição, no dia 19 de outubro.
Mariana Gomes
Mariana Gomes discutiu sobre a colonização digital. Ela aponta a tecnologia definida pela branquitude, que carrega a toda a questão histórica do desenvolvimento da comunicação, da tecnologia e da internet. Com isso, compreender os processos de opressões que se renovam com as tecnologias digitais, entendendo esse espaço enquanto ambiente de disputa, a qual mulheres negras e indígenas devem ocupar, pensando a tecnologia a partir dos saberes afrobrasileiros, questionando para onde esses os dados são enviados, questionando gênero enquanto categoria colonial, a divisão racial provocada pela tecnologia, a governança da internet e a possibilidade da promoção de agendas políticas.
Charô Nunes
Interseccionou a pergunta em três aspectos: o que se considera mudança? O que se considera Comunicação? e o que se considera por Luta? As mudanças provocadas estão relacionadas a considerar o cidadão enquanto “usuário”, o processo de precarização dos trabalhos, a dispersão de tempo com o uso do digital, a utilização de dados para movimentação de uma economia, o avalanche de informação provocada pelo aceleramento, a distorção da imagem, desumanização das pessoas, apontou, então, essas mudanças enquanto provocadoras da erosão do tecido social. Para definir luta, apropriou-se da frase de Patrícia Hill Collins – “a luta só tem sentindo se for para fazer justiça”, concluindo que a comunicação tem a capacidade de promover uma coesão social.
D. Guaraná
Dividiu as mudanças em dois aspectos: subjetivo e material. Os impactos subjetivos estão relacionados a tornar as pessoas descartáveis, desumanizadas, impactando no prazer, no desejo e nas maneiras de se relacionar, além disso provoca fragmentação do ser, mercantilização das pessoas, negação da alteridade e uma aceleração no tempo. Os impactos subjetivos geram e são gerados pela plataformização das redes, por meio de algoritmos, que são fórmulas matemáticas que definem como as redes sociais se organizam, gerando uma economia baseada em dados, que captura esses dados, processa, analisa, prevê e intervém a partir deles, dentro de uma lógica de exclusão social. Por fim, deixa o questionamento “pensar um mundo offline é pensar no fim do capitalismo?”
Thayz Athayde
Iniciou citando a criação de novas redes sociais, que cada vez mais aceleraram o tempo e a comunicação, em conseguinte questiona “Por que não conseguirmos sair das redes sociais?” afirma que o uso das redes gera um estímulo para o cérebro que é insaciável, o que pode, a partir disso, gerar transtornos sociais. Outra mudança apontada, além da aceleração, uso compulsivo e transtornos sociais, é como o meme que pode gerar norma ou graça, mexe com o humor, que está ligado ao afeto e as pessoas podem ser afetadas positivamente ou negativamente. O meme gera identificação, pode ser utilizada como uma forma de humor para a subversão e também para iniciar discussões através dos afetos que são acessados a partir desses memes.