O feminismo, enquanto teoria e movimento social, reconfigura a discussão sobre temas importantes do pensamento político ocidental como democracia, representação, justiça, cidadania, identidade. Mais do que isso, o feminismo apresenta alternativas críticas às concepções hegemônicas estabelecidas ao argumentar que a divisão entre as esferas pública e privada, tida como incontestável, é crucial para a conformação do espaço político tal como ele está constituído, para a exclusão das mulheres desse espaço e para a manutenção da opressão e submissão das mulheres no espaço doméstico.
A partir da denúncia da fragilidade dos limites entre o público e o privado pressupostos pelo pensamento liberal, o feminismo evidenciou as conexões entre as relações de poder no cotidiano e a baixa permeabilidade das democracias contemporâneas. Isto é, a desigual divisão sexual do trabalho, o controle da sexualidade, a injustiça reprodutiva, a criminalização do aborto, a feminilização da pobreza, a violência contra as mulheres fazem da democracia um conceito abstrato para as mulheres. Sobretudo para as mulheres negras e pobres, uma vez que gênero, raça e classe organizam conjuntamente a sociedade.
Passados mais de 50 anos das primeiras críticas feministas à democracia, as discussões sobre os seus limites seguem latentes e sendo feitas por uma diversidade de sujeitos, inclusive os que criticam esse sistema político para o destruir. No Brasil, os últimos anos evidenciaram a fragilidade das instituições da democracia liberal e os seus impactos perversos na vida das mulheres, população negra, povos indígenas, população LGBTQIA+, da classe trabalhadora. Na atualidade, a extrema direita fascista segue na investida para minar a parca democracia estabelecida no país, que saiu fortalecida das últimas eleições.
Esse cenário nos desafia a aprofundar as reflexões para avançar, teórica e politicamente, na construção de uma democracia mais larga, uma democracia em que finalmente caiba quem dela sempre esteve excluída.
Artigos: Analba Brazão, Carmen Silva, Maria Betânia Ávila, Mércia Alves, Rivane Arantes, Talita Rodrigues, Verônica Ferreira
Organização e edição: Natália Cordeiro
Revisão e edição: Cristina Lima
Projeto Gráfico, Capa, Ilustrações e Diagramação: Nathalia Queiroz
Impressão: Provisual
Produção da Publicação: SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia
Apoio: Pão Para o Mundo