Março de Lutas: Caravana das Margaridas Pelo Fim da Violência contra as Mulheres

Série de entrevistas apresenta sujeitos do feminismo, suas leituras de conjuntura e estratégias para o momento de retomada democrática e enfrentamento aos fundamentalismos locais.

Estamos em março, mês de luta das mulheres. Nós movimentamos o país nos últimos anos resistindo à uma conjuntura tenebrosa, mas também criando caminhos para o bem-viver a partir de nossas experiências juntas. O 8 de março é uma experiência deste tipo, onde há esforço de articulação em torno de uma ação unificada. Encarar os desafios de fazer um ato deste tipo juntas é experimentar em menor escala as adversidades do fazer política. É desafiante.

E este é um ano de muito desafio para nós, que fazemos movimento de mulheres e movimento feminista. É necessário reconstruir o que foi destruído, ao mesmo tempo que se avança nessas mesmas políticas que estão sendo resgatadas, para superar suas limitações e enfrentar a situação de desigualdades e violências em que as mulheres se encontram. E ainda enfrentar a o ofensiva anti-trans (e anti-feminista) se alastrando como uma doença que gera engajamento, lucro e promove divisão dentro próprio movimento.

Este ano, conversamos com alguns expoentes da luta pernambucana para entender o contexto da luta das mulheres neste momento e suas estratégias políticas. Perguntamos qual a leitura que fazem da  vitória eleitoral de esquerda no Executivo ao mesmo tempo em que as casas legislativas ainda estão tomadas pelo fundamentalismo. Quais as principais pautas que defenderão  este ano? Qual relação vão manter com o governo e legislativo local? E qual as estratégias do movimento feminista para avançar a luta das mulheres?

Hoje apresentamos a conversa que tivemos com com Adriana Nascimento, diretora de Políticas de Mulheres da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco, sobre a Caravana Caravana Margaridas pelo Fim da Violência contra as Mulheres, que percorreu três territórios no Estado. Ação foi também de divulgação da 7ª Marcha das Margaridas, que acontecerá nos dias 15 e 16 de agosto em Brasília.

[SOSCorpo] Como é que surgiu a Caravana das Margaridas e qual o objetivo do projeto?

Adriana Nascimento: Esse mês de março a gente vem trazendo a importância do Março de Luta. A gente vem fazendo esse trabalho dentro do movimento sindical, em outros espaços também. Para além de ser um mês celebrativo, entendemos que é mês de demarcar a resistência, a luta das mulheres. Então, por ser inclusive ano da Marcha das Margaridas, a gente entendeu, na construção estadual junto com a comissão de mulheres da FETAPE, que esse mês seria o marco para o lançamento da Marcha das Margaridas, seja em âmbito municipal, em âmbito comunitário, em âmbito territorial, nos dez polos sindicais organizados, e também em âmbito estadual.

A “Caravana Margaridas Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres” é uma construção conjunta, do projeto “Mulheres e Juventudes: Pela Agroecologia e Pelo Fim de Todas as Formas de Violência”, que a gente vem desenvolvendo há dois anos com a Casa da Mulher do Nordeste. E dentro do projeto a gente já tinha essa previsão, o projeto está ativo em cinco territórios no nosso estado e no ano da Marcha a gente decidiu potencializar essa Caravana, trazendo uma das pautas abordadas dentro da Marcha das Margaridas, que é o combate e enfrentamento à violência contra as mulheres. 

[SOSCorpo] Quais foram os territórios por onde a Caravana das Margaridas passou?

Adriana Nascimento: A “Caravana das Margaridas Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres” passou por três territórios, no Sertão do Pajeú, Sertão Central e Agreste Meridional. Com essa incidência do projeto, também trazendo o lançamento da Marcha das Margaridas, mas entendendo que o movimento da Caravana é mais amplo. A Caravana carrega muito essa simbologia de que a Marcha é um movimento que segue, que não pára nela. Não é um ato que acontece num dado momento, que acontece apenas em Brasília. Ela é um ato de fato permanente, fazendo jus a esse lugar da Marcha. Fazer essa Caravana nesse mês de Março traz essa reflexão. 

[SOSCorpo] Quais os eixos de luta da Marcha das Margaridas em 2023?

Adriana Nascimento: A pauta principal da Caravana foi o enfrentamento à violência, mas a gente traz no lançamento toda essa sensibilização para a amplitude que é a Marcha das Margaridas. E esse ano a gente está com 12 eixos, tem esse que trata do enfrentamento à violência contra as mulheres, mas tem também eixo que trata da saúde, que pauta o acesso ao território, que pauta a luta por uma educação não sexista, que pauta o enfrentamento ao racismo e tantas outras. 

A agroecologia é o carro-chefe da pauta da Marcha das Margaridas. Então, a gente tem uma pauta ampla, um debate amplo nessa construção, tendo em vista, inclusive para esse ano, que a gente vai concretamente, poder apresentar uma pauta para o governo Lula. Temos Ministérios articulados, trazendo as políticas públicas diretamente às mulheres, então, é esse lugar que a gente tem terreno para poder fazer de fato, o diálogo e a negociação de políticas públicas, algo que em 2019 a gente não teve. 

[SOSCorpo] Qual a expectativa das mulheres do campo para esse momento de reconstrução democrática? 

Adriana Nascimento: Estamos em momento de reconstrução, que inclusive faz parte do lema da Marcha. O lema deste ano é: “Margaridas em Marcha pela Reconstrução do Brasil e pelo Bem Viver”. Para a chegarmos nesse bem viver, a gente precisa reconstruir muita coisa e construir coisas mais que a gente não tinha conseguido avançar. Então é um ano de muito desafio pra gente. É ano que a Marcha volta às ruas, mas com essa outra perspectiva de ter ações concretas, sendo anunciadas pelo governo Lula. Então, esse movimento formativo da Marcha das Margaridas, ele se dá desde anos anteriores e se intensifica no ano da Marcha. E ele acontece antes, durante e após o ato em Brasília, que traz essa simbologia da negociação, do recebimento da pauta, do anúncio do que o governo de fato, concretamente, vai poder anunciar de políticas efetivas. E a Caravana é esse instrumento de poder demarcar isso nesses três territórios. 

[SOSCorpo] Como você avalia os desafios para fortalecimento da luta das mulheres do campo no estado de Pernambuco?  

Adriana Nascimento: Então, quando a gente olha para o aspecto em nível estadual, o nosso desafio aumenta, porque a gente está num governo de transição, um governo desconhecido. A gente não sabe como ele atua. Embora seja coordenado por duas mulheres, tanto governadora quanto vice-governadora, ainda assim a gente está nesse lugar de ainda conhecer de fato qual é o propósito e qual será a política para as mulheres deste governo. Seja para as do campo, seja para as da cidade. A gente levou para a construção do 8 de março essa pauta do lançamento da Marcha das Margaridas. A nossa expectativa, que pode se traduzir ou não em realidade, é que a gente tenha resultados satisfatórios no tocante à pauta das mulheres do campo, justamente por entender que duas mulheres na gestão, serão sensíveis a essa pauta. A gente está buscando construir isso nesse lugar da Marcha das Margaridas, mas também pautando isso na Comissão Permanente de Mulheres Rurais, no Conselho Estadual de Direitos da Mulher, que as rurais também estão lá inseridas. O espaço propositivo, de construção de políticas públicas em Pernambuco, a gente tem. O que a gente precisa agora entender e conseguir de fato visualizar é se esses espaços de fato serão espaços concretos para poder o governo do Estado atender essas pautas. 

As perspectivas são as melhores em âmbito nacional, porque a gente já conhece o jeito de governar do presidente Lula. Mas em Pernambuco a gente ainda não conhece esse jeito, esse como fazer a política acontecer, embora as expectativas sejam das melhores. Mas não podemos afirmar que, de fato, isso vai ser concretizado. Cumpriremos o nosso papel de organização da sociedade civil, de sociedade organizada, articulada, junto da base. Mas dar essa resposta se de fato o Executivo vai atender às nossas demandas, só o governo pode dizer se atenderá ou não as pautas históricas das mulheres de Pernambuco, em especial das mulheres agricultoras familiares.

As perspectivas são as melhores em âmbito nacional, porque a gente já conhece o jeito de governar do presidente Lula. Mas em Pernambuco a gente ainda não conhece esse jeito, esse como fazer a política acontecer, embora as expectativas sejam das melhores. Mas não podemos afirmar que, de fato, isso vai ser concretizado. Cumpriremos o nosso papel de organização da sociedade civil, de sociedade organizada, articulada, junto da base. Mas dar essa resposta se de fato o Executivo vai atender às nossas demandas, só o governo pode dizer se atenderá ou não as pautas históricas das mulheres de Pernambuco, em especial das mulheres agricultoras familiares.

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