Nós do SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia, vimos por meio desta carta afirmar o nosso apoio à ocupação do Centro Social Urbano, localizado no bairro do Pina, na zona sul da capital pernambucana, por coletivos e movimentos sociais que reivindicam uma função social e cultural daquele espaço público como direito à cidade em sua ampla expressão de vivências socioculturais. Ocupado desde o dia 30 de janeiro de 2022, o antigo prédio do CSU tem ganhado vida, ação, luta e sonhos, depois de quase duas décadas de abandono pelo Estado. A ocupação se deu mediante a ameaça de privatização deste bem público-comunitário.
A partir de uma mobilização coletiva, o espaço está sendo organizado, limpo e tem recebido cores, movimentos, oficinas, apresentações artístico-culturais em resistência à especulação imobiliária. Isso porque a área do CSU – cerca de 2 mil m² – foi cedida através de dação de pagamento pelo Governo do Estado, uma transação imobiliária que beneficia um empreendimento empresarial e residencial, o que evidencia ainda mais a política de gentrificação e desterritorialização da população pobre da cidade por parte dos governos do PSB.
O CSU que serviu a moradoras e moradores do bairro do Pina e arredores durante décadas, oferecendo gratuitamente atividades culturais e educacionais, era um espaço que possibilitava a integração social, dando alternativas de lazer e de sociabilidade à população e que foi integralmente paralisado, sem justificativas, pelo Governo. É importante destacar nesse processo como o abandono do CSU e sua mercantilização influencia na criminalização da comunidade do Bode.
O abandono dos aparelhos públicos faz parte de uma política de gestão dos recursos que beneficia apenas a parte da população já abastada, que pode pagar para ter acesso à educação, à cultura e ao lazer e se apropria de um bem público elitizando o acesso. Ocupar o CSU do Pina é uma crítica a esta lógica de mercantilização da cidade, dos bairros e comunidades que são constantemente ameaçadas de expulsão no entorno das chamadas áreas de investimentos de grandes centros comerciais, shoppings e residenciais de luxo.
A luta da comunidade do Bode, das organizações e movimentos sociais denuncia a falta de diálogo da gestão pública e o apoio a um projeto político que privatiza a cidade acentuando as desigualdades socioterritoriais. A ocupação do espaço que marca na memória de gerações a vivência integrativa na comunidade é uma forma de reivindicar a reapropriação do CSU que seja a serviço da população.
Enaltecemos, portanto, a força da mobilização e a luta dos coletivos e movimentos que estão à frente da construção do Centro Cultural do Bode!
Em defesa do direito à cidade e do acesso aos espaços públicos!
Recife, 16 de fevereiro de 2022.