Nascemos em tempos de insurgência política. Éramos um grupo de mulheres de uma geração feminista envolvida nas resistências e lutas contra o autoritarismo no país e inspiradas nas rebeldias e ideias libertárias de 68 que se espalharam em quase todo mundo. Nossa organização, fundada em 1981, completa agora 40 anos.
Iniciamos o Instituto com a proposta de fazer teatro, pesquisa, educação e mobilização nos bairros populares de Recife, nos interiores agrestinos e sertanejos de Pernambuco, contra a política de controle de natalidade que estava em seu auge e ceifava nossos corpos de mulheres. SOS Corpo SOS Corpo representava nosso grito de denúncia.
Depois de 40 anos continuamos a vociferar pela vida de nós mulheres. Resistentes, corpos que buscam recuperar a vida, após todos os choques e ataques sofridos! Desobedientes, corpos marcados para morrer que se articulam para o combate, elevando-se contra a autoridade tirânica. Revolucionárias, corpas que insurgem contra a ordem, contra o medo e dão vida à esperança através da solidariedade e da luta!
Não é a primeira vez em que a História, em seu movimento dialético, volta a nos exigir que organizemos nossa raiva, transformando-a em rebeldia política. É tempo de negritar as contradições, fortalecer a auto-organização das mulheres para atiçar desordens.
Este marco, 40 anos, nos estimula à reinvenção criativa da nossa práxis para alimento da esperança que aquece a força coletiva. Nossa existência não tem sentido fora da coletividade, fora do movimento antissistêmico. Nós somos parte da movimentação das mulheres, contribuimos para construir o feminismo. Ao lado de nossas companheiras de luta, somos sujeitos políticos fundamentais na reorganização profunda e complexa das relações públicas e privadas, de trabalho e de afeto, relações pessoais e coletivas.
E nesse processo de transformação, de mudança e reconfiguração, que são a tônica do próprio movimento, apresentamos esse selo comemorativo. Com ele, sinalizamos tanto nossa dinâmica interna de transformação, mas demarcamos que o fluxo da mudança é uma via de mão dupla: acontece para dentro ao mesmo tempo que para fora, contribuindo para transformar o mundo e sendo também transformadas por ela, enquanto caminhamos juntas na construção de um novo sistema de relações sem dominação, sem exploração, sem racismo não somente para nós mulheres, mas para todas as pessoas!