Mulheres em Tempos de Pandemia:

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Sou educadora voluntária de crochê do Cores do Amanhã, que trabalha com crianças, jovens e mulheres moradores do entorno do Complexo Prisional do Curado, antigo presídio Aníbal Bruno. Moro em Tejipió. Vi há pouco no Instagram, a proposta de nós mulheres escrevermos algo sobre a nossa vivência nestes tempos de quarentena.

Tentei dias desses gravar vídeos com noções de crochê, fiz o primeiro, publiquei com a ajuda de Jouse Barata, uma coordenadora do Cores do Amanhã, Instituição na qual sou educadora voluntária de crochê. Não tive ânimo para continuar. Fiquei só no primeiro.

Deixei de assistir jornais televisivos, só notícias ruins. Hoje pouco acessei as mídias, mas tem me dado raiva de ver a situação política a qual chegamos e muitos pensamentos, a meu ver equivocados, da própria esquerda. 

Não é do meu feitio ficar esperando fazer algo, faço. Mesmo que seja de pouquíssimo resultado. Sonho de um dia termos uma sociedade mais justa e nada nunca antes havia me imobilizado nessa direção.

Fiquei abatida, passei mal, pensei de ter de ser levada a um hospital.

Que atitude tomar? 

Mas comecei a pensar que seria me dar de bandeja ao capital. Esmorecer, morrer antes da hora. Eu não vou fazer isso nunca, só vou morrer de pé, na luta.

Primeiro me fortalecer. Estou ligando todos os dias para meu filho mais velho, que mora do outro lado do mundo, coisa que fazia raramente. Ontem vi meu neto, 1 ano e 8 meses aguando as plantas com a ajuda da mãe. Vi a mesa de trabalho do meu filho super bagunçada, igual a minha, e a da minha nora bem organizada.

Estabeleci um diálogo melhor com meu filho caçula. Resolvi diminuir as críticas e elogiar  mais. Por exemplo, falei das excelentes refeições que ele tem feito. Brinquei com minha nora, dizendo que vamos aumentar muito os nossos manequins. Ela deu risada concordando. Fazias dias que não rimos juntas, mesmo morando na mesma casa.

Falei com duas amigas por telefone. Uma cuja risada escrachada eu gostava, mas que agora amo, a outra de voz meiga que me disse estar armando a árvore de natal. Rimos muito das nossas insanidades.

Estou tentando ser mais suave nos grupos de whatsapp, me abstenho de comentários ácidos.  Estou procurando me estabelecer como uma fonte segura de informações. Para a partir daí tentar alçar outros vôos, já que prevejo uma longa quarentena, me restando apenas esse meio para troca de idéias com o mundo lá fora.

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