Fórum de Mulheres de Pernambuco: feminismo sempre vai ser e será revolução!

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Foto: Coletivo Caranguejo Uçá.

Emoção, memórias e fortalecimento. Essas foram algumas das sensações que puderam ser sentidas por quem esteve presente no Seminário do Fórum de Mulheres de Pernambuco, em celebração dos 30 anos da organização e da luta feminista no Estado. A atividade reuniu militantes das cinco regiões e aconteceu na tarde da última sexta-feira, 29 de novembro, no auditório do Sindicato dos Servidores Públicos de Pernambuco (SINDSEP). O Seminário trouxe como foco a memória da atuação do Fórum no movimento feminista, a partir do compartilhamento de reflexões, histórias de luta, de enfrentamento e de afeto que emocionaram as militantes de diferentes gerações que construíram e constroem o FMPE ao longo desses 30 anos.

A fundação do Fórum veio da necessidade de aglutinar as diferentes iniciativas e experiências de autorganização que aconteciam na cidade de Recife e surge em 1988, a partir reunião de diferentes mulheres organizadas em associações de bairros, sindicatos de trabalhadores, partidos políticos e coletivos autônomos, que já estavam discutindo questões que diziam respeito à vida das mulheres. Elas se juntaram então para fazer a luta política de forma coletiva através do Fórum de Mulheres de Pernambuco, que somou todas as ideias, reflexões e saberes das mulheres que vinham de diferentes lugares e experiências em um mesmo espaço, tendo o feminismo como base para as ações em defesa dos direitos das mulheres. 

Nos primeiros anos o movimento se enraizou na Região Metropolitana do Recife, através de iniciativas ousadas que levaram à ruas e em diferentes lugares o enfrentamento da violência contra as mulheres e o direito à saúde, duas questões que mobilizaram as mulheres que integravam o Fórum e que deu o direcionamento da incidência política na cidade nos primeiros anos. Cortejos musicais, teatro de rua e as vigílias feministas eram algumas das formas utilizadas pelo movimento para dialogar com a sociedade, sobretudo com as mulheres da classe trabalhadora. 

“A gente se constitui mulher na luta”

Com o passar dos anos e da participação de mais mulheres, as lutas do FMPE se ampliaram. E já no final da década de 1990, as ações e a força das mulheres do Fórum chegam ao interior, como lembra Gésia Cristina, militante do FMPE da cidade de Ouricuri. Gésia que hoje é uma das coordenadoras da região do Sertão do Araripe, teve seus primeiros contatos com a luta feminista através de um curso de formação sobre direitos sexuais e reprodutivos em 1999, realizado pelo SOS Corpo, uma das organizações que compõe o Fórum. Com então 23 anos de idade, Gésia começava a trabalhar como agente de saúde e foi convidada a participar da formação. 

“A gente participou de um curso que chegou até o Sertão. Eu lembro que na primeira atividade era uma linha da vida, e eu não entendia o sentido do que eu já até fazia e não encontrava outras como eu, que pensasse igual e também não conseguia me organizar politicamente. Isso eu devo muito ao SOS Corpo, ao feminismo e à construção no Fórum de Mulheres de Pernambuco. Pra gente foi uma descoberta e foi a partir daí que o Sertão viu mulheres na rua, lutando dentro dos Conselhos, quando esses eram lugares que agente ainda conseguia fazer incidência”, contou a coordenadora. 

A potência do feminismo e da força da organização das mulheres para a transformação individual e coletiva foi relembrada em várias falas das participantes durante o Seminário. A coletividade, o cuidado e o autocuidado consigo mesma e com as outras foram alguns dos elementos destacados pelas militantes como impulsores das ações do Fórum de Mulheres de PE. A prática feminista a partir da diversidade e do respeito foram também lembrados como efeitos que potencializam a aproximação de mais mulheres à luta. 

A memória como horizonte de transformação

As diferentes gerações que compõe o Fórum de Mulheres de Pernambuco se encontraram em uma tarde de marejar os olhos de alegria e emoção com as histórias de resistência compartilhadas. Com intervenções de coordenadoras e ex-coordenadoras, foi possível visualizar o panorama desses 30 anos de atuação em defesa da vida das mulheres pernambucanas e do importante papel que o FMPE representa para a história do movimento feminista brasileiro. 

Em tempos de obscurantismo por parte das forças políticas no poder, que tenta o tempo todo apagar a história da luta e das conquistas dos movimentos sociais, resgatar a memória do movimento foi uma estratégia para questionar as falsas verdades e de fortalecer o movimento feminista a partir da escrita da sua própria história, como explica Mariana Azevedo, uma das militantes do FMPE que participaram das comissões que organizaram as celebrações do 30 anos. Para ela, a dimensão de reviver a memória do movimento permite  colocar a verdade a partir da construção de quem faz a transformação no dia a dia. 

“A importância é da gente reconhecer de onde a gente vem. Acho que os movimentos hoje precisam se reconhecer e ver que as nossas lutas vem de muita luta anterior. Acho que é também importante e fortalecedor a gente pensar que muitas pessoas vieram antes de nós, muitas mulheres estiveram lutando para que pudéssemos estar aqui hoje, na própria luta por democracia, pelo direito de ter direitos. Então, a primeira coisa é porque nos fortalece e que a luta dá resultados, ela permite realmente transformações. Ver de onde a gente veio e o que a gente conquistou anima a pensar nos próximos 30 anos. E diante desse governo, é importante a gente escrever a nossa própria história. Quando a gente faz um evento focado na memória, estamos escrevendo a nossa própria história. Não é a história dos que venceram, dos que estão no poder, mas a história de quem está no cotidiano junto com as mulheres. São nossas histórias pessoais que são transformadas por esses movimentos também”, contou Mariana. 

De acordo com Mércia Alves, militante do FMPE e integrante do SOS Corpo, a história do  Fórum, diante do contexto do movimento feminista nacional, revela a sua grandiosidade ao reeditar a Vigília Feminista e da diversidade que compõe a militância. 

“Eu vejo que os 30 anos do Fórum de Mulheres de Pernambuco é o exemplo de sua fortaleza no tempo. E contribuiu muito para dar a dimensão, enquanto movimento feminista em Pernambuco, para fortalecer a luta nacionalmente na Articulação de Mulheres Brasileiras. Eu acho que o ato da Vigília Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, que foi algo que aconteceu a última vez em meados dos anos 2000, hoje volta com força diante do grande aumento dos casos de feminicídio, sobretudo de mulheres negras e de periferia. E essa diversidade do Fórum, essa grandiosidade do Cais ao Sertão, eu acho que dá a liga da importância do movimento feminista no antes e no agora”, comentou Mércia. 

“Se você faz a luta, mas não conhece o feminismo, então você não se educou para ela”

Já ao final do Seminário, a intervenção de Margarida Gerônimo, militante das primeiras gerações do FMPE, relembrou a dimensão do feminismo como instrumento de transformação do mundo através da educação. Trazendo histórias e palavras de incentivo, que revelam toda a sua sabedoria de anos de luta feminista em defesa das mulheres, Margarida enfatizou o papel fundamental de se ter o feminismo como meio de defesa da soberania e dos territórios. “Se você conhece o feminismo, você tem tudo para defender a sua pátria”, falou, relembrando que a luta feminista é por transformação da realidade não apenas para as mulheres, mas para toda a sociedade.

Enquanto perspectivas para os próximos anos de atuação do FMPE, Gésia Cristina aposta na ampliação do movimento, a partir da força de reinvenção para continuar existindo e incidindo politicamente no enfrentamento às desigualdades, através do encantamento e da empatia. 

“Eu vejo uma perspectiva de crescimento, que já é fato, e de transformação. E essa dinâmica da transformação, de reinventar as maneiras de fazer o feminismo, de fazer as articulações, que diante de um cenário desse, a gente consegue trazer mulheres de todo o Pernambuco e trazer a nossa resistência e força, essa é uma forma de reinvenção do feminismo que a gente quer, que a gente traz e que a gente leva para mais mulheres. De levar esse encantamento que me trouxe pra militância, uma pessoa que vivenciava a história muito distante disso. Encantamento que me traz para o feminismo, me traz para a empatia com as outras mulheres e comigo mesmo e que me traz aqui, pro Fórum de Mulheres de Pernambuco”, avaliou a coordenadora.

Foto: Coletivo Caranguejo Uçá.

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