Sem Reparação não há possibilidade de democracia, justiça, igualdade e equidade
Marcha de Mulheres Negras levou mais de 300 mil para as ruas de Brasília, apresentando ao país um projeto político ancorado numa política de Reparação histórica e no Bem Viver
O dia 25 de novembro de 2025 está marcado na história do Brasil. A Marcha de Mulheres Negras ocupou a capital federal novamente após 10 anos para apresentar um diagnóstico sobre a conjuntura, o contexto social, político, econômico e climático no Brasil, na região e no restante do mundo e como o avanço do facismo, a expropriação dos bens públicos e naturais e o crescimento da cultura do ódio têm agravado as condições de vida em diferentes aspectos.
“A escravidão operou de forma a subtrair as humanidades e subjetividades das pessoas negras em todo o mundo, a partir da retirada do direito ao próprio corpo – objetificado e comercializado; e a expropriação de nossos nomes, famílias, culturas e territórios. Tal crime, de lesa humanidade, foi orquestrado com aval, e muitas vezes protagonismo, da igreja católica, responsável pela imposição de um monocultura cristã e consequente violação da liberdade religiosa”, diz um trecho do Manifesto das Mulheres Negras Por Reparação e Bem Viver, lido e lançado na cerimônia de abertura da Marcha, feito com as bênçãos das mulheres de Partido Alto da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte.
Reparação como caminho para reinventar futuros
Um dos eixos centrais da Marcha Global das Mulheres Negras, a Reparação foi reivindicada por mulheres de todos os estados do Brasil, além de países da América Latina, Caribe e de África. Ao todo, a Marcha contou com mulheres que vieram representando 40 nações do globo.
Reparação, segundo afirma o Manifesto, “impulsiona um diálogo consistente com o Estado brasileiro, pois a escravidão, enquanto acontecimento histórico dos mais violentos e de longa duração, promoveu desigualdades abissais que não são meramente eventos que ficaram congelados no passado, se perpetuam até hoje mediante os parâmetros de colonialidade.”
Reconhecer os efeitos, caráter e consequências do racismo nas diferentes dimensões da vida humana é um pontapé para reinventar o mundo tendo a Reparação como uma política de Estado, uma prerrogativa de sociabilidade que transforme anos de sequelas coloniais e seus impactos materiais, subjetivos, econômicos, ambientais, sociais e, porque não, espirituais.
O SOS Corpo foi uma das organizações da sociedade civil que vem contribuindo para o fortalecimento do processo da Marcha das Mulheres Negras e que esteve também na construção da Marcha deste ano. O Instituto somou forças à outras organizações que tem se desafiado a refletir e atuar a partir de uma perspectiva antirracista, que enfrente o racismo entendendo que o sistema é estruturante de relações de diferentes esferas.
Enquanto uma organização feminista que tem seu corpo de trabalhadoras formado por mulheres negras e brancas de diferentes gerações, e que tem no horizonte utópico a erradicação das desigualdades que marcam a vida de todas as mulheres, o SOS Corpo marcou presença na Marcha. Levamos nossa perspectiva antissistêmica, ao somarmos forças para denunciar o racismo patriarcal e capitalismo racial como sistemas imbricados e que provocam a manutenção dessas desigualdades seculares.































