Feminismo na Cúpula dos Povos na COP 30
A Cúpula dos Povos frente à COP 30 congregou movimentos sociais de 60 países do mundo em torno da consigna que se impôs na luta: ‘nós somos a solução para o clima’.
Belém do Pará transformou-se nestes dias no epicentro da reflexão sobre a crise climática e seus impactos nos territórios e nos diversos povos. A Cúpula dos Povos frente à COP 30 congregou movimentos sociais de 60 países do mundo em torno da consigna que se impôs na luta: ‘nós somos a solução para o clima’. Inúmeros debates, ações de incidência, manifestações e artivismos em torno de denúncias e reivindicações construíram utopias de um mundo melhor que garanta a vida com dignidade. Para nós, dos movimentos feministas, apesar de termos pouca expectativa com os resultados das negociações oficiais, foi um tempo de criação de um projeto de mundo capaz de dialogar com nossos modos de vida, nossas potências e nossos desejos de bem viver.
A declaração final da Cúpula dos Povos registrou isso com nitidez. No seu quinto parágrafo anuncia: “Não há vida sem natureza. Não há vida sem a ética e o trabalho de cuidados. Por isso, o feminismo é parte central do nosso projeto político. Colocamos o trabalho de reprodução da vida no centro, é isso que nos diferencia radicalmente dos que querem preservar a lógica e a dinâmica de um sistema econômico que prioriza o lucro e a acumulação privada de riquezas”.
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Nós, mulheres, não somos um grupo social homogêneo, temos diferenças e desigualdades entre nós, mas sobre todas nós recai o peso do sistema patriarcal que usa toda sua força para controlar nossos corpos e definir nossos destinos. Por isso o feminismo na luta por justiça socioambiental tem se agregado em torno da expressão corpo-território. As mesmas forças econômicas e políticas que causam a crise, que controlam as riquezas, e querem se apossar das fontes naturais de vida e dos comuns que a sustentam, são as forças que, representadas no Congresso Nacional, legislam para retirar o direito ao aborto de meninas e mulheres violadas e para destruir a pequena democracia que já conquistamos. O Tribunal Ético em Defesa dos Corpos e Territórios das Mulheres e Diversidades Sexuais e de Gênero, realizado na Cúpula, apresentou evidências disso. As denúncias foram acolhidas também pelo poder público na presença da presidenta da Comissão da Mulher da Câmara Federal, Célia Xakriabá e da Ministra das Mulheres, Márcia Lopes.





O patriarcado capitalista racista é um sistema monstruoso. Um monstro de três cabeças que opera na mesma política de morte. Para garantir a acumulação de capital para uns poucos, ele tem mostrado ser capaz de destruir a natureza, se apossar de tudo que nela há, inclusive de nossa vida interior, levando o planeta ao ponto de não retorno, e a nós mesmas a uma vida de sobrecarga de trabalho, exploração e desapossamento, uma vida baseada na rapidez e ensimesmamento, na subjetividade subjugada pelo controle de dados e destituída de sentido coletivo. O feminismo que construímos e apresentamos na Cúpula dos Povos é a rebelião contra toda essa crise multidimensional. Por isso, a declaração da Cúpula o entendeu no centro do projeto político de transformação do mundo.
As ruas de Belém e as salas e tendas da UFPA viram a potência das mulheres nas várias experiências de sustentação da vida, de proteção dos comuns, de produção saudável, e de resistência e enfrentamento com os poderes causadores das crises, sejam empresas ou governos. Viram a longa trajetória de nossa luta feminista coletiva, simbolizada no resgate de nossos posicionamentos da ECO 92, passando pela Rio+20 e chegando à COP 30. Todos estes momentos fortes de debate internacionalista e enfrentamento às políticas do império que teimam em sugar todos os recursos dos países do sul global.











Nós resistimos! Nós construímos alternativas! E, sim, nós temos propostas para salvar o planeta. Entendemos, todavia, que esta luta é de todas aquelas pessoas que ousam sonhar com a terra viva, com um modo de vida solidário e com pessoas livres de toda opressão.



