Greve: a insatisfação continua no ar

Nos últimos dias, questões centrais da política de desenvolvimento brasileira tornaram-se o assunto mais falado nas ruas, na mídia e nas redes. O governo ilegítimo saturou a estratégia que implementa desde o golpe: sacrificar os direitos humanos com uma política ultra-neoliberal de privatização dos bens públicos, dentre eles o petróleo, em benefício do mercado.

A greve dos caminhoneiros, especialmente no que diz respeito aos autônomos e assalariados, revelou as precárias condições de trabalho, a exploração custo-transporte pelos donos das empresas de caminhões e a política concentracionista que data dos anos 50, onde mais 58% do transporte de cargas e passageiros se efetiva pela malha rodoviária. Em linhas gerais, essa situação aponta para um necessário reposicionamento da política de mobilidade urbana no país.


A mobilização revelou as diferenças entre as classes de trabalhadores e empresários. As vozes de cada um desses setores eram visíveis nas pautas díspares, que iam da redução do valor do óleo diesel, dos impostos que incidem sobre o combustível (PIS/COFINS) até a fixação de uma tabela mínima para o valor do frete – justa reivindicação por incidir sobre o custo e valor da força de trabalho. Havia a expressão pública pelo Fora Temer! e pela intervenção militar! A pauta crítica contra a política da Petrobras teve espaço quando as entidades de classe dos petroleiros, em especial a Federação Única dos Petroleiros (FUP), denunciaram a perversa política entreguista e subsidiária ao capital externo, que deixou o Brasil refém da variação de preços do barril de petróleo no mercado internacional.

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Essa política de preços afeta toda uma cadeia de produtos derivados do petróleo, como óleo diesel, gasolina, gás de cozinha, etc, e cai no nosso cotidiano como uma bomba. Fica visível a vulnerabilidade da população diante de tal política governamental excludente e de um sistema de fornecimento e distribuição concentrada nas rodovias que impacta na organização da sociedade.

Durante esses dez dias, entretanto, muitos brasileiros/as revelaram solidariedade à luta dos/as trabalhadores/as do setor. A sociedade se mobilizou contra a tendência deste governo em tratar a questão social, a política de petróleo e a manifestação dos/as trabalhadores/as como caso de polícia. E os caminhoneiros/as sentiram o peso da intervenção militar!

No dia 30 de maio, o dia nacional de luta pela redução do preço do gás e combustível, milhares de pessoas foram às ruas em várias capitais demonstrando apoio a greve. Sob o símbolo “o Petróleo é Nosso”, saíram não apenas em defesa dos bens nacionais, mas sobretudo contra os ajustes e reajustes que contribuem para a perda real dos salários e a precarização das condições de vida.  A greve, que estava sendo convocada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), não pode ter continuidade pois o Tribunal Superior do Trabalho considerou a paralisação política, determinou a sua ilegalidade e estipulou pena de R$ 2 milhões para cada sindicato por dia de descumprimento da medida.

Apesar disso, a greve dos/as caminhoneiros/as e petroleiros/as saiu vitoriosa. O presidente da Petrobras, Pedro Parente, responsável pela atual política de preços, em carta enviada a Michel Temer e ao “mercado”, pediu demissão. Essa vitória não garante a mudança na política dos preços do combustível, mas atesta o enfraquecimento das forças golpistas.

Ainda há uma insatisfação grande no ar. Os problemas de base persistem e, melhor, parecem ser compreendidos pela população, incluindo setores que anteriormente apoiaram o golpe. No mínimo, as contradições da política ultra-neoliberal vieram à tona. As contradições mostram a incapacidade política do governo ilegítimo para solucionar as demandas da greve, gerando alto custo para o cofre público, que será pago pelos próprios trabalhadores/as. E deixa visível a política entreguista, antinacional e antipopular de venda do pré-sal e do Petróleo.

Ao final, a paralisação nestes dez dias, por ter gerado o desabastecimento parcial de alimentos em diversas cidades, deixou claro o problema gerado pelo modelo de agronegócio dependente de transporte de alimentos por longa distância. A greve também expôs a desvantagem das rodovias em relação às ferrovias e hidrovias, explicitou a alta de gás e suas consequências na vida de milhões de mulheres e suas famílias, além de ter apontado, sobretudo, o encarecimento da passagem de ônibus urbanos. Não é à toa que a paralisação teve apoio popular. Através das notas de movimentos sociais e mensagens nas redes sociais, percebe-se que houve uma tomada de consciência sobre o conjunto do que se passa no país.

Voltar à pseudo-normalidade é tudo que os golpistas tentam nos impor desde maio de 2016, quando Dilma foi afastada. A grande mídia retratou todas as perdas sociais sem nenhuma reflexão crítica e, de novo, pinta em suas telas um retrato de um Brasil onde tudo funciona normalmente. Os movimentos sociais e partidos de esquerda, que já vinham denunciando o golpe, percebem avanços na consciência social coletiva nestes dias da paralisação que poderão reverberar por um bom tempo ainda e, quem sabe, produzirão a sensibilização necessária para produzir uma greve geral.

Isso já se percebe nos ônibus, nas filas, nas redes, onde as pessoas demonstram entender que a paralisação foi ‘uma situação inevitável’, que ‘causa problema, mas é necessário’. O governo precisa reconhecer a rejeição da população à sua política, e a comparação com o período anterior ao golpe institucional é inevitável. Dentro dos ônibus e nas ruas podemos ver diariamente a reação da parte da população que sofre com todo esse caos: a população que usa ônibus e metrô, que não compra em supermercado, que está desempregada, que perdeu benefícios sociais, que ganha um salário-mínimo ou menos. Essas pessoas querem seus direitos básicos e uma vida minimamente decente.

A normalidade não voltará nem tão cedo e nem pra muita gente! Nós seguiremos gritando, agora mais forte:  Fora temer! Fora coalizão de partidos golpistas!

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