fotos: Leo Milano/mídianinja
Para grande parte das pessoas presentes no debate realizado nesta terça (18/04/17) na abertura do encontro da Plataforma dos Movimentos Sociais por Reforma do Sistema Político o momento é de buscar a maior unidade possível entre os movimentos sociais, que seguem na resistência, e formular utopias que nos animem a seguir lutando.
Por Carmen Silva*
O debate público realizado ontem, 17, em Brasília, na abertura do encontro nacional da plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político elevou o tom da discussão sobre a “A Democracia Que Queremos” propondo a articulação entre a reforma política e a luta pelas reformas estruturais necessárias para o enfrentamento das desigualdades no Brasil.
Nesta conjuntura que vivemos, marcada por um golpe parlamentar impulsionado pela mídia, com caráter patriarcal e racista, para destituir a presidenta eleita, o caminho político que se desenha é de um período de forte regressão de direitos e de liberação total das amarras legais que ofereceriam algum constrangimento ao capitalismo. As falas que introduziram o debate diagnosticaram este momento como de agravamentos da situação de vulnerabilidade para as pessoas mais pobres, das periferias urbanas, negras, indígenas e para as mulheres e população LGBT.
Lúcia Xavier, militante da Articulação de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), traçou o quadro dramático dá exclusão de 51 por cento dá população brasileira, que é negra e que se encontra fora de qualquer espaço de poder, além de estarem sujeitas às piores condições de vida.
O ex-deputado e professor da UFPE, Paulo Rubem, usou a sua experiência na defesa da democratização do orçamento federal para discutir a disputa do fundo público pelas grandes corporações. Ele falou sobre a relação entre os rumos do capitalismo rentista no mundo e a atual política do governo ilegítimo de entregar das riquezas nacionais ao capital estrangeiro.
A liderança indígena da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia Guajajara, demonstrou com fatos irrefutáveis a degradação dos direitos constitucionais dos povos indígenas, que já vem do governo anterior e se aprofundou com o golpe. Ela conclamou os movimentos sociais presentes ao apoio ao acampamento terra livre, que será realizado pelas lideranças indígenas em Brasília no final de abril.
A pastora Romi Becker, do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), apimentou o debate com informações sobre a relação religiões e política. Sempre defendendo o estado laico, a pastora alertou para o crescente conservadorismo e fundamentalismo religioso e os riscos que isso traz para os direitos das mulheres, LGBTs e para as religiões de matriz africana.
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Além destas falas, também foram citados outros pontos importantes no debate: a mortandade dos jovens negros nas periferias das grandes cidades, a concentração dos meios de comunicação e seu uso como instrumento de violação de direitos, além da grande força no tempo dos programas policialescos e religiosos. Na discussão também foram feitas críticas ao viés desenvolvimentista da esquerda que ocupou o governo e não se ocupou de garantir a justiça socioambiental. E foram citados o aumento dá violência contra as mulheres e LGBTs com requintes de crueldade, o caos dá mobilidade urbana, a quebradeira que a crise está promovendo nas cadeias produtivas dá construção civil e dá carne promovendo grande onda de desemprego.
Apesar de alguns segmentos defenderem a ideia de que para a população mais pobre a situação sempre foi essa, para a maioria dos presentes este é um processo histórico que está sendo muito agravado neste momento e tende a piorar, por conta das medidas que estão sendo aprovadas no Congresso Nacional.
O debate mostrou-se um diálogo inicial para este encontro de reconstrução de estratégias de luta pela ampliação da democracia no Brasil. Para grande parte das pessoas presentes o momento é de buscar a maior unidade possível entre os movimentos sociais, que seguem na resistência, e formular utopias que nos animem a seguir lutando.
Este debate voltará no encontro na quarta feira que é o dia dedicado a formulação coletiva dos caminhos a trilhar na luta pela mudança radical do sistema de poder.
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*Carmen Silva é da equipe do SOS Corpo. Integra o Fórum de Mulheres de Pernambuco e a Articulação de Mulheres Brasileiras