Por Silvia Camurça
Duas pesquisas lançadas esta semana abordam valores e crenças que estão presentes entre a população brasileira. A primeira, trata de crenças sobre direitos civis e políticos entre a população de periferias de São Paulo, e a segunda aborda a percepção sobre o direito das mulheres a decidir sobre abortar ou não uma gravidez indesejada (veja abaixo as pesquisas no final). A primeira, assusta pelo conservadorismo liberal presente entre as/os entrevistados. A segunda, nos alenta pelo crescimento da posição que reconhece nas mulheres o direito de dar a última palavra sobre manter ou não uma gravidez indesejada, um dos conflitos de gênero mais fortes no plano ideológico que estamos vivendo há alguns anos.
Os conflitos de gênero estão no cotidiano de nossas vidas misturados e engendrados com outros conflitos das relações sociais de classe, e no Brasil, por força de nossa formação social colonial e escravocrata, fortemente articulados com o racismo. São conflitos com expressões na realidade simbólica e também material, na cultura e na economia, como nos conflitos de terra quando as mulheres lutam por acesso à terra em seu nome e confrontam o latifúndio patriarcal. A realidade do aborto é entrecortada também por muitos conflitos, alguns no plano da subjetividade individual de cada mulher, e muitos conflitos nos planos material e ideológico.
No plano material faz alguns anos que estes conflitos ampliaram-se por força da ação política de bancadas moralmente conservadoras e machistas no Congresso Nacional: quanto pode o governo investir do orçamento na atenção humanizada ao abortamento? Quanto pode pagar pelo procedimento no SUS? Em torno deste gasto no orçamento enfrentamos edição e mudanças de portarias e normas num conflito de gênero entre poder executivo e parlamento, em sua expressiva maioria formado por homens. Eram os anos do Governo Dilma…..
Hoje, no governo de exceção, notadamente machista, sem ministério da mulher, com extinção do ministério dos direitos humanos, assistimos um presidente ilegítimo afirmar, sem pudor, que a vida humana em formação, a vida dos não nascidos, é superior a vida das mulheres já nascidas e vivendo. Mais uma de suas aberrações machistas e que violam a dignidade de nós mulheres.
Salve-nos a força da luta feminista. Foi pela militância que viemos enfrentando o patriarcado e o machismo diário. Foi pela grita da militância que denunciamos a ofensiva fundamentalista sobre nossas conquistas. É pela militância que resistimos à criminalização das mulheres pelo aborto. Advogados/as, jornalistas, homens ‘do bem’ devem fazer sua parte diante destes descalabros. Nós no movimento feminista faremos o imprescindível: manteremos a luta viva e pelo tempo que for preciso.
# Fora Temer!
#Fora toda coalizão golpista, patriarcal e machista.
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Pesquisas:
- Fundação Perseu Abramo: “Percepções na Periferia de São Paulo”
- Católicas pelo Direito de Decidir: a organização analisa resultados e dados divulgados pelo Correio Braziliense (com exclusividade)
Fotos: reprodução/Cfemea
Belo e necessário texto! Obrigada, Silvia e SOS Corpo!
Segue o link da pesquisa de Católicas pelo Direito de Decidir: http://catolicas.org.br/novidades/noticias/maioria-acredita-que-as-mulheres-devem-decidir-sobre-o-aborto/