A partir de hoje, mulheres que militam, incansavelmente, contra a opressão e servidão da população negra vão expor, nesse espaço, suas esperanças e frustrações nessa batalham que os negros travam desde que desembarcaram no Brasil, no século 16, apartados violentamente de sua terra, sua cultura e suas crenças. Quem abre a série é Mônica Oliveira, do Comitê da Mulher Negra de Pernambuco.
A realização do 1º Encontro de Mulheres Negras Latinoamericanas e Caribenhas, no dia 25 de julho de 1992, em Santo Domingo, República Dominicana, foi um marco tão importante na luta dessas mulheres contra o racismo, sexismo e outras ameaças aos direitos humanos que a data constituiu-se no Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha – no Brasil, a data também é nacional, instituída por lei pela presidenta Dilma Roussef em 2014. A partir dali, esse dia seria dedicado a dar maior visibilidade a questões ainda insolúveis, como a da desigualdade racial e de gênero. Um momento de resistência contra uma sociedade que continua destinando aos negros e negras apenas um espaço de servidão. Neste 25 de julho, mulheres negras que não se conformaram em viver à margem dos direitos constitucionais reafirmam sua disposição de continuar na batalha por mais justiça social e equidade.
“Ouso dizer que o 25 de julho se assemelha ao 20 de novembro (Dia da Consciência Negra). É comemorado no país inteiro, com várias atividades de rua. Os movimentos sociais vão às escolas, fazem debates públicos e dão visibilidade à sua agenda política”, diz Mônica Oliveira, do Comitê da Mulher Negra de Pernambuco. Ela lembra que as mulheres negras ainda enfrentam muitas adversidades no cotidiano. “As negras sofrem mais violência doméstica e são as maiores vítimas de homicídio entre as mulheres. Sem contar no atendimento discriminatório que recebem no sistema de saúde.”
Para comprovar, Mônica lembra que, entre 2003 e 2013, o índice de morte de negras, vítimas da aids, aumentou na mesma proporção em que diminuiu entre as mulheres brancas. “Se a política é a mesma, por que as negras morrem mais?”, indaga, acrescentando que os profissionais de saúde tratam pacientes brancas e negras de forma diferente. “Muitos não pedem os mesmos exames e nem têm a mesma boa vontade quando se trata de atender a uma negra”, afirma.
Em 29 anos de militância no movimento negro, Mônica reconhece que houve alguns avanços na última década, como a implantação do sistema de cotas, que facilitou o acesso dos jovens negros e negras à universidade pública, e a política nacional de saúde integral da população negra. Mas os desafios ainda são enormes. “É preciso consolidar as políticas públicas para a população negra. Em conjunturas como essa que estamos vivendo no Brasil, as ações que beneficiam as populações mais pobres são as primeiras a cair.”
O acesso ao mercado de trabalho também é um obstáculo, especialmente para os jovens. “A gente estuda a vida inteira, mas o mercado não reconhece essa especialização e continua pagando baixos salários. Não queremos apenas sobreviver: queremos viver!”, enfatiza.
Ela lembra que o combate ao racismo, tema preponderante neste 25 de julho, precisa ser uma luta de toda a sociedade. “O racismo no Brasil se atualiza tanto e é tão sofisticado que, quando a gente consegue alguma conquista, a sociedade racista reage imediatamente”, finaliza.
Imagem destacada: Brasil de Fato