Carta da AMNB contra o Golpe de Estado em curso no Brasil
Diante da instalação ilegítima de um Governo Interino no país fruto de desrespeito flagrante à Constituição brasileira e cenário de ataques ao estado democrático de direito, nós, integrantes da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), organização que, ao longo da sua história tem se pautado pela luta de enfrentamento ao racismo, ao sexismo e todas as formação de discriminação e pelos princípios basilares do Estado Democrático de Direito, comunicamos que:
Repudiamos as iniciativas de impedimento da Presidente Dilma Rousseff, primeira mulher a governar o país, sem que se provasse qualquer crime de responsabilidade cometido por ela. Este processo é mais um atentado à democracia planejado e operacionalizado por uma oligarquia de homens brancos, velhos e ricos, que sempre atuou contra a vida e os direitos de mulheres e homens negras e negros, da juventude negra, das comunidades quilombolas e indígenas, de lésbicas, gays, trans, de religiosas e religiosos de matriz africana e de toda a população que luta por igualdade e justiça;
Não reconhecemos o Governo Interino do Presidente golpista Michel Temer. E denunciamos seus ataques contra as medidas de justiça social em curso na última década no Brasil, e sua subordinação aos interesses e ganância das corporações multinacionais, do sistema financeiro e de grupos conservadores cristãos que atentam contra as garantias constitucionais do Estado democrático e laico, relegando as políticas públicas aos mandos e desmandos dos interesses de grupos políticos que visam ao extermínio das populações mais vulnerabilizadas e o fim das políticas públicas de inclusão social.
Nós que no dia 18 de novembro de 2015 Marchamos em Brasília ao lado de 50 mil mulheres negras dos quatro cantos do país para exigir o fim do racismo e da violência e pelo Bem Viver, estamos em luta por um outro Brasil, e nele não cabe o golpe parlamentar em curso.
Com nossas cabeças erguidas, corpos livres e honrando a resistência histórica das mulheres negras, nós da AMNB nos retiramos dos Conselhos, grupos de trabalho e comitê nacionais em que temos atuado, como o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), Conselho Nacional de Saúde ( CNS) e Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional ( CONSEA) e do Comitê Técnico de Saúde da População Negra por considerar que essas instâncias perderam, diante do golpe, seu papel de espaços de mediação, participação social e afirmação democrática.
Seguimos na luta contra o racismo, o sexismo, a opressão de classe, a lesbohomotransfobia e outras formas de discriminação, contribuindo para a transformação das relações de poder e construção de uma sociedade equânime
Seguimos em Marcha pelas nossas ancestrais, por nós e por todas as jovens e mulheres negras, contra o racismo, a violência e pelo bem viver.
Não ao Golpe!
Não ao governo golpista!
Pela restauração imediata do governo democraticamente eleito!
SEGUIMOS EM MARCHA.