Nesta quarta, 27, dia nacional de luta das trabalhadoras domésticas, a luta por direitos foi o centro dos debates na tenda feminista do Acampamento Popular Permanente em Defesa da Democracia, no Recife. Acompanhe os debates da tenda feminista em:
A atual conjuntura do trabalho doméstico no Brasil e a luta pelos direitos das trabalhadoras num momento em que há um risco de flexibilização nas relações trabalhistas foi discutido na tarde desta quartafeira (27), Dia Nacional de Luta das Trabalhadoras Domésticas, numa roda de conversa promovida pelo Fórum de Mulheres de Pernambuco e Sindicato das Trabalhadoras Domésticas no Acampamento Popular Permanente em Defesa da Democracia na Praça do Derby, Centro do Recife.
Representante do sindicato da categoria, Maria José Santiago lamentou a baixa participação das trabalhadoras nas atividades da entidade. “Mesmo quando promovemos almoço, poucas comparecem”, disse. Segundo Josefa Conceição, do Grupo Mulheres Atrevidas, a ausência não é por falta de interesse, mas de tempo. “Muitas só têm o domingo para cuidar de suas casas e de si mesmas”, argumentou.
O excesso de trabalho e o não pagamento de alguns direitos, como hora extra, continuam a motivar muitas queixas junto ao sindicato. “Tem patrão que não libera a doméstica no feriado nem paga a hora dobrada”, reclama Maria José Santiago, reforçando que as trabalhadoras precisam manter um livro de ponto para comprovar as horas trabalhadas, caso seja preciso recorrer à Justiça.
Apesar da cultura de servidão que ainda persiste no ambiente doméstico, a educadora do SOS Corpo Carmen Silva enfatizou a grande conquista que a organização de um sindicato representou para a categoria. “É motivo para muita comemoração”, disse. Depois da roda de conversa, as participantes se confraternizaram ao som da batucada Feministas contra o Golpe.
Na terça-feira (26), a conversa no acampamento foi sobre os anos de chumbo da ditadura.
Mulheres que vivenciaram um dos eventos mais obscuros da história do país compartilharam suas experiências com estudantes e ativistas do movimento feminista e estimularam todas a lutar pela democracia. O evento começou com o depoimento emocionado de Ceci Prestrello, do Coletivo Mulher Vida.
Ela lembrou do período de militância no movimento estudantil, em 1976, e revelou que foi a primeira mulher eleita para a executiva do Partido dos Trabalhadores (PT) em Pernambuco. “Naquela época, pensava: eu faço parte da história do meu país. Vou derrubar a ditadura com meus companheiros.” Mas a empreitada custou a prisão e morte de muitos companheiros. Ceci guarda na memória o dia da detenção de Edival Nunes, o Cajá, na Boa Vista; do assassinato do sindicalista Evandro Cavalcanti, em Surubim (Agreste), e de Manoel Lisboa, do Partido Comunista Revolucionário (PCR), morto sob tortura. “Tenho orgulho de dizer que não fugi da luta, não temi o combate”, disse. “Hoje, com esse risco de golpe, metade de mim está triste; a outra metade, esperançosa.”
Outra personalidade marcante e marcada pela repressão imposta pelos militares a dar testemunho foi a advogada e militante do movimento negro Vera Baroni. Carioca de nascimento, Vera veio para o Nordeste na década de 60 reforçar o movimento de resistência. Em 1969, foi presa pelo IV Exército na Praia de Maria Farinha, Paulista, com outros companheiros e levada para Secretaria de Segurança Pública. Ficou três dias incomunicável. “Lá conheci uma cearense que já tinha tomado tanta pancada nas mãos que não conseguia mais fechálas”, recordou.
Vera contou que, apesar do medo de morrer no “pau”, mantevese firme na luta pela democratização do país e pelos direitos dos negros. “Eu carrego no meu DNA a tortura histórica que o negro brasileiro sofreu e ainda sofre até hoje”, desabafou.
Também deram depoimentos a representante da União Brasileira de Mulheres, Rosa Figueiredo, e a militante feminista Maria Áurea Santa Cruz, prima de Fernando Santa Cruz, desaparecido durante a ditadura militar.