Carmen Silva – “Nos abraçamos com a resistência”

Por Carmen Silva (SOS Corpo)

Nesta difícil conjuntura brasileira, nos encontramos para nos manifestar. Sob a lua, nas escadarias da Faculdade de Direito, em frente ao parque 13 de maio, no Recife, reunimos muita gente. Gente que não aceita com resignação este estado de coisas. Gente que está sempre na rua, que diz não ao jogo da direita e também não baixa as suas bandeiras de luta.

foto direito gabi falcao 2Era 21 de março, dia internacional de luta contra o racismo. Este dia existe em memória ao massacre promovido pelo governo do apartheid na África do Sul que levou a morte 69 pessoas negras que protestavam pacificamente contra a lei que estabelecia os lugares públicos onde lhes era permitido circular.

Assim também foi a nossa manifestação, pacífica. Não era a paz dos acomodados ou daqueles que não suportam mais ouvir as notícias. Era a paz da indignação. Aquela indignação que dói no corpo e na alma. A paz das pessoas que não querem a convulsão social que as ações do judiciário e da mídia, a soldo das grandes corporações, estão promovendo no país. A paz daquelas que lutam, e lutam sempre, para manter o pouco que conquistamos e ampliar a democracia, para que possamos conquistar muito mais.

Não vai ter golpe! Vai ter luta! Com esta palavra contra a ordem nós nos abraçamos com a resistência. Sim, vamos resistir! A direita fundamentalista, racista, patriarcal não vai nos intimidar. A lama da Samarco, a usina de Belo Monte, a entrega do pré-sal também não vão fazer esmorecer a nossa luta. O golpe travestido de impachament no Congresso, o abuso de poder no judiciário, as investidas inescrupulosas da mídia, nada vai nos calar. O jogo de cartas marcadas entre os partidos da ordem, a lei terrorista contra as lutas populares, o escárnio misógino contra mulher presidenta na internet, não pode nos intimidar. Se nos calarmos, o vermelho do nosso sangue vai amarelar, a vida vai ficar turva e os sentidos estarão perdidos. Não! Não passarão!

Seguimos em luta com as bandeiras hasteadas. Mas também com os tambores, as danças, as cores, nossos corpos marcados pela sina e pintados para ação política. Seguimos em nossa dissidência. Não queremos a ordem capitalista que dita a crise no mundo. Não queremos a ordem patriarcal controlando nossos corpos e determinando os lugares onde não podemos estar. Não aceitamos o racismo matando nosso povo na miséria e na bala. Não vamos recuar.

Não viemos até aqui para sair pela porta dos fundos. A nossa luta por direitos impõe recuos à política deles. A nossa luta por democracia pode nos colocar em um novo patamar para seguirmos lutando. A utopia que nos move é a transformação do mundo. Ela alimenta as mudanças no dia-a-dia. Ela pode renovar a cada um e cada uma de nós neste momento atribulado. Vamos ocupar as ruas, as rodas, a rede, por aquilo que é justo, com nossos corpos, nossa criatividade e nossa força.

Nos encontramos novamente na noite do dia 24. Na praça do Derby. No coreto da esquerda.

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Foto: Gabriela Falcão/Acervo Fórum de Mulheres de Pernambuco

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