Nós, Feministas de Pernambuco, vimos a público manifestar nosso repúdio a João do Morro, que está veiculando uma música, mal feita, vulgar, sem graça e desrespeitosa contra a Presidenta Dilma Rousseff. Reivindicamos também que essa música não seja divulgada nos meios de comunicação nem na internet, porque ela não é uma “forma de protesto” contra o governo da Presidenta Dilma Rousseff.
A música incita à violência contra as mulheres e é lesbofóbica. Afirmar “essa chupa-charque vai me pagar” é uma ameaça a integridade física e moral da presidenta. Afirmar “meu santo Antônio arruma um macho para Dilma” para que ela possa governar melhor o Brasil é afirmar que nós, mulheres, não temos competência para presidir o Brasil.
O preconceito contra nossa capacidade de governar é uma das práticas políticas utilizadas para nos impedir de participar da vida pública, impedir de exercer nossa cidadania. A música violenta todas nós mulheres pernambucanas. O recado dele é muito explícito: mulher tem que ter um macho que governará por nós, um macho para chefiar nossa casa, nossa cidade, nosso país. Um macho, como ele diz, para foder com a mulher!
João do Morro parece querer criticar o projeto político-econômico da presidenta, que toda/o cidadã/ão tem direito de discordar e criticar, mas sua crítica incide sobre o fato de ela ser mulher, cujo corpo deve ser devastado e subjugado. Para nós, em uma democracia, a violência contra as mulheres jamais poderá ser considerada uma forma de protesto ou de brincadeira. Violência contra as mulheres é crime!
A música não somente nega nossa capacidade governar, mas também incita e autoriza a violência contra mulheres, especialmente aquelas que estão em espaços de poder político. “Arrumar um macho” é um instrumento de correção, subordinando nossa sexualidade a serviço do homem. É uma violência simbólica que reduz nós mulheres à condição de objeto e nos retira do lugar de sujeitos e de poder.
Essa forma de desqualificar a mulher só contribui para excluir as mulheres dos espaços de poder. Hoje somos 51,7% de eleitoras/es brasileiras/os, entretanto nossa participação na Câmara dos Deputados e no senado não ultrapassa 10%. No Poder Executivo, dentre as 26 capitais brasileiras, apenas uma é governada por mulher. E não é porque as mulheres não se candidatam, é porque, salvo raras exceções, os “chefes” dos partidos políticos não permitem que elas estejam entre as/os primeiras/os da lista de candidatas/os.
Difundir esta música é, na nossa perspectiva, ser cúmplice da violência contra as mulheres. Em um estado, como o de Pernambuco, em que a violência é uma das maiores do Brasil. Além disso, tratar a presidenta desta maneira é depreciar a instituição Presidência da República e é por em questão a possibilidade das mulheres ocuparem lugares de poder.
Contra a banalização da violência contra as mulheres! Manifestamos nossa solidariedade feminista à Presidenta Dilma Rousseff, a todas as meninas e mulheres que são vítimas da violência patriarcal em Pernambuco, no Brasil e no mundo. Mexeu com uma, mexeu com todas!
Por mim, por nós e pelas outras!
Por democracia no mundo e nas nossas vidas!
Fim à violência contra as mulheres!
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