Compartilhamos a programação da semana da Consciência Negra organizada pelo Diretório Acadêmico Demócrito de Souza Filho da Faculdade de Direito do Recife.
O Diretório Acadêmico Demócrito de Souza Filho vem apresentar a sua II SEMANA DE CONSCIÊNCIA NEGRA, primeiramente, pedindo licença a todos os Orixás, aos mais velhos e mais velhas que construíram resistência antes de nós, a todo o movimento negro que se organiza no Brasil há 450 anos, a classe trabalhadora predominantemente negra que nunca vislumbrou a possibilidade de pisar em uma faculdade de direito.
Após 127 anos da farsa da abolição da escravidão, evento que não abalou, nem modificou estruturalmente as condições socioeconômicas da população negra no Brasil. Permanecemos vivendo essa abolição inacabada, em que a segregação ainda nos acompanha. Ainda ocupamos os lugares mais afastados dos grandes centros e das áreas consideradas nobres, onde não existem mínimas estruturas em relação à saúde, educação, saneamento básico, transporte, lazer. Para nós foram destinados os piores postos de trabalho (quando conseguimos), em que predomina o esforço braçal em detrimento do intelectual, na tentativa de internalizar e propagar a falsa ideia de que pessoas negras seriam mais aptas ao esforço físico, nos relegando aos trabalhos menos valorizados socialmente.
Este cenário é consequência do sistema capitalista em que a população negra e pobre está inserida, que se apropria de instrumentos como o racismo para manter sua estrutura de desigualdades. Aliado ao sistema está o Estado, que direciona a este segmento da sociedade sua face punitivista, prova disso é a população carcerária brasileira, que é uma das maiores do mundo, predominantemente negra e jovem. O “ser negro” é tido como fator incriminalizante, neste sentido, tudo relacionado ao negro é eleito como objeto da criminalização seletiva. Assim, a construção dos sujeitos passa por um processo gradual de negação da própria identidade.
Mesmo nesse quadro de marginalidade para onde a negritude é empurrada há também um cenário de reconstrução dessa identidade coletiva promovida pelos encontros da cultura negra, seja nos caminhos da religiosidade de matriz africana, nos pontos de resistência periférica ou nas de experiências entre gerações diferentes. Essas conexões são majoritariamente proporcionadas pela força das mulheres negras que juntas sobrevivem e dão o real sentido ao que conhecemos como feminismo em suas lutas diárias que não se resumem a debates teóricos que só servem para inflar o ego da academia.
Historicamente branca, a Faculdade de Direito do Recife é marcada pela invisibilização da negritude que sempre esteve relacionada ao servir, agora, porém, ocupa lugares de fala e protagonismo. É nesse novo contexto de enfrentamento que as negras e negros desta Faculdade vem convidar todo alunado, o Movimento Negro, as periferias, povo de terreiro, quilombolas e população em geral a se somar nesse momento de construção coletiva de novas possibilidades.
Axé!
– PROGRAMAÇÃO –
SEGUNDA (09/11)
Tarde, 17:00 horas:
Ato de entrega de Iansã
Noite, 19:00 horas:
– Religiões Afro e Acenstralidade
Convidadas: Pai Edson Araújo, Ciani Neves, Pai Gilmar (a confirmar)
TERÇA (10/11)
Manhã, 09:00 horas:
– Divisão racial da cidade: Racismo e Capitalismo
Convidadas: Chão de Estrelas, Miró da Muribeca e Dario Junior (Afoxé Omo Nilê Ogunjá)
Tarde, 16:30:
– Oficina Turbante/Roda de diálogo Estética Negra
Convidadas: Kassia Porciúncula (Coletivo Afronte), Faça Amor não Faça Chapinha e Heymilly Maynard
Noite, 19 horas:
– Feminismo negro
Convidadas: Dandara Alves, Rosa Marques e Gal Almeida
QUARTA (11/11)
Manhã, 09:00:
– Criança negra, racismo na infância
Convidadas: Lívia Melo, Joana Dias e Sandro Silva
Tarde, 16:30
– Roda de diálogo: O Amor tem cor? Relações afrocentradas
Convidada: Beca Nascimento
Noite, 19 horas:
– A Criminalização das Torcidas Organizadas
Convidadas: Mylena Cristina, Representante da Torcida Jovem e Pedro Josephi
QUINTA (12/11)
Noite, 19 horas:
– Racismo Institucional e Sistema Penal
Convidadas: Além das Grades, Maria Clara (Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura)