“Somos uma rede e uma fortalece a outra”: mulheres da Zona da Mata vão às ruas pelo fim da violência

Mulheres e crianças da região da Zona da Mata de Pernambuco ocuparam, na tarde da última sexta (16), o centro do município de Palmares, numa ação político-cultural de enfrentamento à violência contra as mulheres.

O ato marcou o encerramento do Encontro de Intercâmbio e Articulação Microrregional, realizado dias 15 e 16, em Palmares, no qual estiveram reunidas representantes da Articulação de Mulheres da Mata Sul, do Centro de Mulheres de Joaquim Nabuco, do Centro de Mulheres de Vitória de Santo Antão, do CEAS-Rural, da Associação de Mulheres de Água Preta e do Centro de Mulheres de Catende.

O Encontro foi realizado graças a uma iniciativa do SOS Corpo que conta com o apoio da União Europeia. Entre os pontos destacados nos debates, a necessidade de criação de uma delegacia regional da mulher, a melhoria das estruturas dos postos de saúde para um atendimento especializado para as mulheres e a aproximação das organizações ao Ministério Público.

Com cartazes, apitos e entoando frases como “um ‘não’ é um não”, cerca de 80 mulheres e crianças chamaram a atenção da população local e mandaram um recado para os gestores públicos: estavam ali para dizer não ao machismo, para dar visibilidade a questões como violência sexual e física, racismo e lesbofobia, como também para expor reivindicações para que se implemente redes de serviços públicos pelo fim da violência contra a mulheres nos municípios da Zona da Mata. Atualmente, é possível falar da existência de uma rede que presta atendimento às mulheres em situação de violência somente no município de Palmares. Nos demais, a situação é bastante crítica.

De acordo com Eliane Nascimento, do Centro de Mulheres de Joaquim Nabuco, a luta do movimento de mulheres pela visibilidade política só ganha sentido quando vai para as ruas. “Assim somos vistas e mostramos que não estamos caladas. No atual momento do nosso país, é hora de voltar a se mobilizar com força e precisamos de respostas do poder público. Estamos hoje nesta caminhada junto com outras mulheres, crianças e adolescentes. Somos de organizações diferentes, mas juntas nos fortalecemos e organizamos nossas ideias. Voltamos para nosso município sem esquecer que a luta é coletiva”, comenta Eliane. Wélima Gonçalves, do Centro de Mulheres de Catende, ainda completa: “o trabalho é de formiguinha, mas voltamos fortalecidas. O ato de rua é corajoso, é importante para chamar atenção. Somos uma rede e uma fortalece a outra”, diz Wélima.

A ação nas ruas de Palmares foi idealizada a partir de reflexões em momentos anteriores e articulada durante o Encontro de Intercâmbio e Articulação, quando as mulheres tiveram uma oficina com o grupo teatral Loucas da Pedra Lilás, quando puderam fazer trabalho vocal, corporal e reflexivo. Já as crianças e pré-adolescentes, filhos/as de mulheres das organizações participantes do Encontro e/ou do próprio município de Palmares, tiveram uma oficina contra a violência e o machismo.

Para Janecele Silva, do Centro de Mulheres de Joaquim Nabuco e facilitadora deste momento, a importância está em enfrentar a violência contra a mulher desde cedo. “Já é o nosso segundo encontro e, apesar de muito novos/as, eles/as já conseguem ver o que estamos propondo. Falamos sobre respeito, sobre não bater, sobre desconstruir preconceitos. As crianças são muito espontâneas, guiam os debates. É um trabalho muito rico”, reflete Janecele.

Entre os dias 10 e 13 de novembro, está prevista uma ação contracultural nos municípios de Joaquim Nabuco, Palmares, Catende, Água Preta e Escada, quando as organizações de mulheres, através de intervenções nas praças, vão dar continuidade ao processo de visibilizar e denunciar a violência contra a mulheres, que tem altos índices na região da Zona da Mata de Pernambuco.

Texto: Nathália D’Emery 

Edição: Paula de Andrade

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