Algumas das reflexões contidas neste artigo do professor Roberto Véras foram apresentadas em debate realizado no dia 12 de maio de 2015, no centro cultural feminista do SOS Corpo, que focou os “Desafios da Conjuntura Brasileira – ofensivas contra os direitos e as lutas de resistência”.
No artigo, Véras buscas situar aspectos da trajetória de constituição do campo democrático e popular na história recente do país, de modo a discutir ao final suas possibilidades diante de um cenário que, do ponto de vista do que indicou como avanços sociais e políticos, mostra-se claramente adverso.
“Os trabalhadores e o campo democrático e popular: desafios do momento político atual”
Por Roberto Véras de Oliveira*
A retomada do sindicalismo e dos movimentos sociais a partir da eclosão de lutas operárias e populares, na passagem dos anos 1970 aos 1980, foi o marco inicial de construção de uma nova perspectiva de democracia e de política na história do país, ao assentar-se sob uma referência de autonomia do projeto político dos trabalhadores (Cf. Véras de Oliveira, 2011). O arranjo de forças sociais e políticas que daí resultou (a partir de organizações sindicais renovadas, processos de reorganização partidária, instituição de novas organizações populares e formas diversas de movimentos sociais etc.) conformou o que ficou conhecido como um campo democrático e popular. O Brasil jamais foi o mesmo desde então.
Percorridas quase quatro décadas, no entanto, não só o país passou por importantes transformações, como o próprio Campo Democrático e Popular sofreu os impactos do tempo e dos acontecimentos. No contexto atual, no qual afloram fortes tensões sociais e um cenário de acirradas disputas políticas, em meio a uma clara ofensiva das forças conservadoras e de certa confusão prático-discursiva entre as forças progressistas e de esquerda, cabe a questão: em que medida o horizonte de construção de um Campo Democrático e Popular continua capaz de balizar o debate público e as disputas políticas no processo democrático brasileiro? Leia mais