Com data para 18 de novembro, a Marcha das Mulheres Negras está a todo vapor. Rio Grande do Norte, Piauí, Ceará, Paraíba e Tocantins realizaram celebrações para o 25 de Julho (Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha) que serviram de atividades preparatórias para a Marcha.
Por Nathalia D’Emery, SOS CORPO
A Marcha das Mulheres Negras 2015, que tem como lema “Contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver”, já tem data marcada: 18 de novembro. A caminhada em Brasília vai simbolizar a resistência e a luta de mulheres negras contra diversas formas de opressão, entre elas, gênero, raça e classe. Também vai ser um momento de dar visibilidade e reivindicar pautas específicas destas mulheres, que representam 25% da população brasileira.
Entre os movimentos e organizações responsáveis nacionalmente pela mobilização, encontram-se a Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), a Associação das Pastorais Negras (APNs), a Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), o Fórum Nacional de Mulheres Negras, o Movimento Negro Unificado (MNU) e a União de Negros pela Igualdade (Unegro).
Engana-se quem pensa que o evento acontece apenas dia 18, em Brasília. As mulheres negras já estão marchando em seus estados, em suas cidades e comunidades. Por isso, aproveitando o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho, os comitês estaduais impulsores da Marcha, organizações e grupos feministas e de mulheres articularam comemorações relativas à data que também serviram como atividades preparatórias para a Marcha das Mulheres Negras 2015.
O 25 de julho foi instituído em 1992, no I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, realizado em San Domingo, na República Dominicana, com a participação de mulheres negras de 70 países. Ao afinar as celebrações da data com os preparativos para a Marcha 2015, as organizações e os movimentos de mulheres negras saem fortalecidos no enfrentamento de questões como violência, racismo e sexismo.
Em Mossoró, no Rio Grande do Norte, o Centro Feminista 8 de Março, em parceria com a Coordenação de Ação Afirmativa, Diversidade e Inclusão Social (CAADIS/Ufersa – Universidade Federal Rural do Semi-Árido) e o grupo Batucada Feminista, instrumento de luta da Marcha Mundial das Mulheres, realizou no último dia 24, em alusão ao Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, uma sessão especial do Cine Incluir. Foi exibido o filme “Mulheres da Lama”, uma produção de estudantes da universidade, que retrata a história de vida, luta e resistência da senhora Terezinha de Jesus, uma mulher negra de 82 anos, que há mais de seis décadas sobrevive como marisqueira, em Porto do Mangue. A programação também contou com debate sobre o documentário e ainda com a oficina “Turbante Passo a Passo”.
Já o Fórum de Entidades Negras do Piauí (FATEPI), junto com o Ayabás – Instituto da Mulher Negra do Piauí, uniu a comemoração do 25 de Julho aos 8 anos do Memorial Zumbi dos Palmares e ao Dia Nacional de Tereza Benguela, também celebrado no dia 25 aqui no Brasil. Em Teresina, durante a comemoração, aconteceu o lançamento do projeto Enegrecendo Saberes e Conquistando Poder, seguido de rodas de diálogo, apresentações culturais e oficinas, como a de percussão e a de cabelo afro, que procurou valorizar o estilo, a resistência e o fortalecimento da identidade da mulher negra.
Os dias 24 e 25 de julho também foram marcados por atividades em Fortaleza, capital cearense. No primeiro dia, o Fórum Cearense de Mulheres organizou a exibição do filme Quase Samba, protagonizado pela cantora negra Mariene de Castro. Mulheres representantes de organizações, sindicatos e universidades estiveram presentes na sessão, realizada na Casa Feminista Nazaré Flor. No dia 25, no espaço Cuca Jangurussu, aconteceu o debate “Mulheres negras dizem não à redução: quebrando o aço das novas correntes”, organizado pelo Comitê Nacional da Marcha das Mulheres Negras e pela Frente Cearense contra a Maioridade Penal.
A ideia do debate foi discutir o impacto da redução da maioridade penal na vida das mulheres negras. Cristiane Faustino, do Instituto Terramar, comenta que a redução afeta diretamente as jovens negras e também, indiretamente, por exemplo, as mães de meninos negros envolvidos com o tráfico de drogas e com a dependência química. Cristiane Faustino também ressalta a “importância de discutir o tema neste momento de conservadorismo pelo qual o país passa e de recrudescimento do racismo”. O encontro contou ainda com apresentações teatrais e dos Tambores de Safo.
Já no último final de semana, de 31 de julho a 02 de agosto, foi a vez do 1º Encontro Estadual de Mulheres Negras: Paraíba Rumo à Marcha/2015. O encontro reuniu cerca de 80 mulheres de organizações e movimentos diversos, do litoral ao sertão paraibano. O objetivo foi fortalecer a luta das mulheres negras, mas também a autoestima e o lado individual de cada uma. Segundo dados do Mapa da Violência de 2012 a 2014, João Pessoa é a capital mais violenta para a população negra do país e Cabedelo e Santa Rita estão entre as dez cidades brasileiras que representam maior vulnerabilidade para esta população.
O encontro contou com a parceria da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB) e da Rede de Mulheres Negras do Nordeste. Vera Baroni (AMNB/Rede de Mulheres de Terreiro) e Analba Teixeira (AMB/SOS Corpo) estiveram entre as mulheres que compuseram a mesa.
Realizado no RCÉTERA, o 1º Encontro Estadual de Mulheres Negras: Paraíba Rumo à Marcha/2015 também contou em sua programação com expressões culturais dos grupos de mulheres de cada região do estado e com oficinas de maquiagem para pele negra, tranças e turbantes. Como encaminhamento, foi redigida a Carta da Paraíba, elaborada a partir dos grupos de trabalho que tiveram como temas: mídia, saúde, educação, intolerância religiosa, violência, trabalho e poder. A previsão é que o documento seja entregue a órgãos públicos em setembro e que traga um olhar sobre a situação da mulher negra na Paraíba, evidenciando o processo de luta e as reivindicações paraibanas que se somarão às nacionais, propostas pela Marcha das Mulheres Negras 2015.
Terlúcia Silva, da Bamidelê, Organização de Mulheres Negras, diz que a Paraíba ainda é um estado que renega suas raízes. Por isso, o grupo realiza há 16 anos ações que reforçam a importância do 25 de Julho, dando visibilidade à pauta das mulheres negras. Sobre o 1º Encontro Estadual, Terlúcia comenta a importância de estar num evento específico de mulheres negras, onde as questões e os sentimentos são compartilhados. “A fala de uma companheira do sertão, eu também senti.
Foi importante ter voz num lugar onde não precisamos convencer que o racismo existe, porque todas ali tinham a vivência do racismo”. Ela ainda diz: “neste momento, todos os estados brasileiros têm mulheres fazendo a construção da Marcha das Mulheres Negras. Nossos passos vêm de longe. A Marcha terá o tamanho da nossa força. E nós temos muita força”, finaliza.
Tocantins em Marcha – O Comitê Impulsor da Marcha das Mulheres Negras no Tocantins e o Programa de Ordem Jurídica, Igualdade Étnico-Racial e Educação da Universidade Federal do Tocantins (UFT) realizaram uma mesa redonda no campus da Universidade, em Palmas, no último dia 23. Entre os temas apresentados para discussão: “Trajetória das acadêmicas negras na UFT”, “Participação da mulher negra nos espaços de poder” e “Cabelo crespo como símbolo da identidade negra”.
Além do debate, a atividade contou com a participação da universitária Antônia Sousa que facilitou a oficina “Fazendo Tranças”. Já no dia 25, no campus de Arraias, região sudeste do Tocantins, aconteceu uma mostra de vídeos e análise de imagens retiradas de revistas femininas para debater a representação e/ou ausência da mulher negra na mídia. O Comitê Impulsor no estado ainda realizou uma roda de conversa com as mulheres da comunidade Quilombola do Prata, na região do Jalapão. Foram abordados assuntos como Identidade Cultural e Diferença de Gênero; e Mulher Negra e Saúde.
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As ações desenvolvidas pelas entidades de mulheres citadas nesta matéria são impulsionadas pela força coletiva e da ação política das próprias organizações, que contam com o apoio e assessoria da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese) e do SOS Corpo, a partir de recursos do Projeto Mulheres Negras e Populares: Traçando Caminhos e Construindo Direitos, co-financiado pela União Europeia.
O objetivo das atividades desenvolvidas com as 15 organizações apoiadas nesse Projeto é fortalecer o protagonismo das mulheres negras e de mulheres de setores populares do Norte e Nordeste, e suas organizações, no debate público na sociedade brasileira e nos processos de participação social referentes às políticas governamentais de combate à pobreza e de inclusão social de mulheres e da população negra.
Acesse: portal da Marcha de Mulheres Negras 2015
Galeria de imagens (cedias pelas organizações)