Por Simone Ferreira (*)
Há anos que o movimento feminista e de mulheres GRITA por SOCORRO, exigindo políticas públicas que deixem de ser letras e se transformem em ação para mantê-las vivas. Apesar de sermos a maioria da população, nós mulheres somos invisíveis para as gestões governamentais e judiciárias pernambucanas. Contudo, estamos muito visíveis para essa sociedade machista, racista, capitalista e lesbofóbica em que vivemos.
Utilizam de nossas imagens como propaganda dos mais variados produtos para atrair clientelas. Somos “iscas” para o mercado comercial abocanhar e acumular capital. Estamos na servidão, principalmente se somos negras e pobres; não circulamos em todos lugares, a não ser quando estamos a serviço de brancos da classe média e ou alta, isso sem falar na grande erotização que fazem com os corpos das mulheres negras. Ainda temos que enfrentar a onda fundamentalista, que insiste em influenciar políticos e fiéis na busca insana de enquadrar a vida social e privada, segundo suas interpretações do que considera ser “lei divina”, perseguindo a escolha afetivo-sexual entre pessoas do mesmo sexo, justificando as agressões verbais, discriminação e estupros que lésbicas sofrem como uma correção.
Cotidianamente, nós mulheres estamos presente nos noticiários pernambucanos com corpos machucados, mutilados, estuprados e sem vida, causando indignação e revolta, que se expressam na população nas mais diversas formas de comunicação: caminhadas, falas, cartazes, faixas, nos corpos pintados (ainda felizes por estarem vivas); documentos distribuídos nas manifestações de ruas, nas reuniões com o Poder Executivo e nas audiências públicas evidenciando o feminicídio que estamos vivenciando em nosso estado.
O mais curioso, porque não dizer mais revoltante, são as justificativas para as mortes. O governo do estado de Pernambuco afirma que, pelo programa Pacto Pela Vida, não tivemos mais de 300 mulheres mortas por ano, a exemplo que 2014 foram 249 pernambucanas vítimas de violência domésticas. Também reforça o avanço na política para as mulheres a partir 163 organismos de mulheres presentes nos 184 municípios, além do enaltecido canal de escuta Pernambuco Para Todos, onde todos são ouvidos. Em relação à política para as mulheres, a maioria das coordenadorias e/ou secretaria das mulheres não têm estrutura física, não têm equipamento, não têm orçamento, não têm intersetorialidade com outras secretarias de políticas públicas.
O Pacto Pela Vida fica muito aquém da vida das mulheres. Apesar deste programa, 249 mulheres foram mortas em 2014, segundo dados do governo estadual. Segundo as reportagens, este ano, até maio, são 109 assassinadas. Isso é pouco? É necessário que passemos a ver os números como pessoas, mulheres que tiveram o último capítulo de histórias de vidas finalizados, antes das cenas dos próximos capítulos. Continuamos no 5o lugar no ranking de homicídios contra mulheres no país, segundo o mapa da violência 2012 do CEBELA/FLACSO.
O canal de escuta do governo é realizado em dia, em cada região. Os movimentos sociais não podem expressar livremente suas questões. São proibidos cartazes, faixas qualquer expressão que “fale”, “grite” o que o governo estadual não queira escutar. Reconhecemos que algumas iniciativas de políticas públicas são bem-vindas, desde que as mesmas sejam de fato para transformar as nossas vidas, a vida de nós mulheres, e dar o direito básico de continuarmos vivendo, sem medo, sem angústia, com liberdade. Se este não é o Pernambuco real para nós mulheres, continuaremos perguntando este é Pernambuco é Para Quem? Porque este Pernambuco não tem sido para nós, mulheres!