Declaração da Articulação de Mulheres Brasileiras neste 8/3/2015
Neste 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, nós, que fazemos a Articulação de Mulheres Brasileiras(AMB), rearmamos nossas lutas por liberdade, autonomia e pelos direitos das mulheres. Para isto é preciso erradicar as desigualdades de classe, raça e gênero que estruturam a sociedade e superar todas as formas de preconceito e descriminação que atingem os grupos sociais desprivilegiados nas estruturas de poderes capitalistas, patriarcais, racistas, etnocêntricas e heteronormativas.
Recusamos a democracia branca, elitista, racista, sexista e excludente e lutamos pela construção de processos sociais, políticos e econômicos justos e igualitários, reconhecendo a importância de todas as lutas que transformam o mundo e a vida das mulheres.
Neste 8 de Março, saudamos e nos somamos aos dois maiores processos de mobilização do movimento de mulheres neste ano: a Marcha das Margaridas e a Marcha das Mulheres Negras. As mulheres urbanas, do campo, das águas e da oresta nos convocam à luta por democracia e apontam gravíssimos problemas deste modelo de desenvolvimento que ameaça a soberania alimentar, limita a autonomia econômica das mulheres, ameaça a sociobiodiversidade e avança de forma predatória e destrutiva sobre os bens comuns como a terra, as águas, as matas, o ar.
Gritamos a nossa luta contra o racismo e a violência vivenciada pela população negra, em especial, pelas mulheres negras, traduzida em situações de desigualdades socioeconômicas, para as quais se acumulam as opressões e explorações.
O racismo é um sistema que estrutura as relações e a vida social. Seu enfrentamento diz respeito não só às pessoas negras, mas a toda a sociedade brasileira. Para a AMB, o antirracismo é uma luta de todas as ativistas, sejam negras, brancas e indígenas. Contudo, temos ciência de que as mulheres negras e indígenas são sujeitos determinantes na construção dessas lutas e acreditamos ser urgente enegrecer o
8 de Março, por sua simbologia e importância política na luta feminista por transformação.
As mulheres negras somam 49 milhões de brasileiras, são as que recebem os menores salários, encontram maiores diculdades para ingressar no mercado de trabalho e estão na maioria em ocupações precarizadas. Aquelas entre 16 e 24 anos têm três vezes mais probabilidade de serem estupradas e duas vezes mais de serem assassinadas que mulheres brancas; e, quando lésbicas, estão mais suscetíveis a estupros corretivos. Além disto, o aborto inseguro e ilegal no Brasil é uma das principais causas de morte materna, afetando mais diretamente as mulheres negras.
As mulheres negras são as principais vítimas de violência doméstica, e convivem cotidianamente com a violência e o racismo institucional. Na tragédia do extermínio do povo negro, o sofrimento dessas mulheres não só é aumentado, mas invisibilizado e desconsiderado no debate público. Elas também as maiores vítimas de violência simbólica: vistas como sempre disponíveis para o sexo, supostamente dotadas de “força” física e com inclinação “natural” para os sofrimentos e os cuidados domésticos.
MULHERES NEGRAS: EXISTIMOS, RESISTIMOS, EXIGIMOS!!
Por conta do histórico de exclusão, as mulheres, em especial as negras e indígenas, ainda vivenciam situações que as mantêm na invisibilidade. Embora as mulheres e a população negra sejam maioria da população brasileira – 51,4 % e 51%, respectivamente – no último pleito para o Congresso Nacional (2014)
foram eleitas 10% de mulheres, 3% de mulheres negras e nenhuma indígena.
Este “imaginário social” diculta a construção de uma identidade negra positiva, expressa na ancestralidade e estética do corpo e do cabelo, não centrada nos valores da branquitude. Os estereótipos e a discriminação da negritude violentam as mulheres negras desde a infância, abalando sua autoconança e sendo essa uma das causas dos baixos níveis de escolaridade dessa população.
Contudo, armamos que as mulheres negras não são vítimas, são guerreiras que acumulam um histórico de lutas e resistência desde que foram sequestradas do continente africano para serem escravizadas no Brasil. As fugas, a recusa às investidas dos “senhores”, o nanciamento da liberdade de outras pessoas escravizadas, a organização nos quilombos, irmandades e religiões de matriz africana, até a liderança em grupos, partidos políticos e movimentos sociais, são expressões dessa resistência que muito nos inspira em sua ancestralidade africana.
Uma dessas resistências é a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver, grande mobilização protagonizada pelas mulheres negras, que acontecerá em 18 de novembro de 2015, em Brasília. A AMB compreende a importância desta mobilização e tem nela se engajado, apoiando e construindo processos coletivos em vários estados com o m de fortalecer o movimentos de mulheres negras.
Diante disso, convidamos todas as mulheres do país para, embaladas no processo da Marcha das Mulheres Negras, enegrecer este 8 de Março, incorporando o enfrentamento ao racismo, as pautas e as lutas das mulheres negras como centrais na luta feminista! Ao mesmo tempo, exigimos que o Estado brasileiro repare as inúmeras violências e desigualdades a que submete a população negra, implementando políticas que previnam e condenem o racismo em todos os âmbitos da sociedade, mas
também contribuam para constituir relações sociais que reconheçam nas mulheres negras, os sujeitos de sua própria história e transformação.
POR UMA REFORMA POLÍTICA COM PARTICIPAÇÃO POPULAR, PARIDADE JÁ!!
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