O Seminário Transição ou Transação Energética: agenda internacional, financiamento e repercussões aconteceu entre os dias 02 e 04 de abril, em Fortaleza e debateu sobre a conjuntura e agenda global impulsionada pelas mudanças climáticas que vêm ocorrendo no planeta.
| Texto de *Daniela Rodrigues | Revisão e edição: Fran Ribeiro|
Entre os dias 02 e 04 de abril participamos do seminário nacional organizado por um grupo de 15 sujeitos políticos da sociedade civil, composto por movimentos sociais, articulações nacionais e ONGs, que tratou do projeto de transição energética em curso em nosso país. O Seminário Transição ou Transação Energética: agenda internacional, financiamento e repercussões foi também um momento diálogo sobre as estratégias de mobilização para incidência política, tanto nos G20 em novembro deste ano, no Rio de Janeiro, como na COP30 que será em Belém do Pará, em 2025.
A chegança das pessoas participantes ao seminário foi a partir da experiência de visitação de três comunidades cearenses (Santa Quitéria, Palmeiras e Aracati) impactadas pelos empreendimentos eólicos, de carcinicultura e de exploração de minérios na região; e o que vimos foi que, “em nome do clima”1 o sistema capitalista vem avançando com seu projeto predatório sem quaisquer responsabilidades com a vida local: desmatando, poluindo e matando a bio-geo-diversidade destas regiões.
As mesas que se sucederam deram conta de refletir a partir da conjuntura local, nacional e internacional, sobre a agenda global impulsionada pelas mudanças climáticas que vem ocorrendo no planeta, fazendo a crítica de que, além das discussões dos governos (inclusive o brasileiro) não estarem considerando a participação da sociedade civil na construção dos planos de enfrentamento ao aquecimento global, estes mesmos governos vêm impondo à população nativa e aos territórios onde ela vive, a implementação de um projeto que dizima todo modo de vida que habita nas águas, no solo e no ar.
Sobre isso, negritamos no momento do seminário que as comunidades ribeirinhas, campesinas, pesqueiras, de agricultura familiar, indígenas e quilombolas são as primeiras impactadas com todo esse processo. Dentre essa população que já vive de forma histórica em situação vulnerabilidade em nosso país, as mulheres e meninas negras são as sujeitas mais afetadas, inclusive por já enfrentarem em seu cotidiano a opressão patriarcal, vivenciando inúmeras formas de violências, como foi apontado por algumas companheiras dos territórios visitados.
Frisamos ainda que, como foi falado por muitas, o isolamento dessas comunidades que ficam a quilômetros das cidades mais próximas, como a falta absoluta de equipamentos públicos que enfrentem a violência doméstica e sexista – tanto para coibir e proteger, via politicas de segurança pública, como para prevenir, via serviços especializados de enfrentamento e atendimento à mulheres em situação de violência – faz com que o impacto da chegada desses empreendimentos em seus territórios, as coloquem ainda mais em risco, pois são muitas vezes expostas às violências sexistas (como abusos e estupros) como à exploração sexual das meninas e adolescentes.
Ao final do seminário que também tinha a tarefa de organizar uma agenda de mobilização nacional para pensar estratégias da sociedade civil para os G20 para a COP30, refletimos da importância de juntar Campo e Cidade não por solidariedade, apenas, mas como pauta única – organizar nossa narrativa política conjunta, nos mobilizando a partir de nossos territórios.
*Daniela Rodrigues é Assistente Social, Educadora e Pesquisadora do SOS Corpo. Mestra em Extensão Rural e Desenvolvimento Local pela UFRPE, sob as lentes do feminismo materialista e pedagogia feminista. É militante feminista da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco.
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1 O destaque faz referência ao estudo “Em nome do Clima: mapeamento crítico” da Fundação Rosa Luxemburgo – Brasil e Paraguai.