Painel na Marcha das Margaridas 2023 que discutiu democracia participativa, destacou a necessidade de seguirmos organizadas para reconstruirmos o Brasil com mais mulheres no poder.
Na manhã desta terça-feira, 15 de agosto, aconteceu na Concha Acústica do Pavilhão do Parque da Cidade, o painel temático Reconstrução do Brasil para o bem viver com a participação política das mulheres. Com a presença das deputadas federais Carol Dartora (PT) e Talíria Petrone (PSOL), além de Carmen Silva, militante da AMB, o painel, que teve a mediação de Edjane Rodrigues, da Secretaria de Políticas da CONTAG e Dona Zefinha, da FETAG-BA, discutiu a participação política das mulheres, tanto em espaços institucionais, mas sobretudo, na luta do dia a dia.
A deputada federal, Carol Dartora, primeira deputada negra eleita pelo estado do Paraná, falou sobre as dificuldades de participação política das mulheres, sobretudo mulheres negras e populares, já que partimos de uma condição de desigualdade de vida em relação aos homens. Recai sobre nós o trabalho reprodutivo, os trabalhos de cuidado, trabalhos em situações precárias, desigualdades salariais. Ao partirmos dessa condição, a nossa participação política já fica prejudicada. Mas isso, segundo a deputada Carol, pode ser mudado com a consolidação de uma política pública de cuidados, que está atualmente sendo construída no governo Lula.
“No movimento de mulheres a gente tem este desafio de explicitar que esse tempo que a gente passa cuidando é trabalho e isso precisa ser assumido pela sociedade. A gente precisa que o Estado brasileiro, que as políticas públicas, olhem para as tarefas do cuidado e que possam nos dar amparo. Porque nos fomos inseridas no mercado de trabalho de maneira totalmente desigual”, destacou Carol Dartora.
Já Carmen Silva, militante feminista da AMB e educadora do SOS Corpo, disse que as condições desiguais causadas pelo patriarcado, pelo racismo e pelo sistema capitalista, se somam ao modelo de participação política que temos hoje, com um sistema político que engessa a nossa participação a partir da lei de cotas. Essa lei não garante a eleição de mulheres comprometida com a luta das trabalhadoras e trabalhadores, das mulheres rurais, negras, indígenas de mulheres trans e travestis e de mulheres lésbicas. Precisamos de mais mulheres sim, mas as que sejam comprometidas com as nossas lutas.
“As leis que regem o sistema político, a forma que ele é organizado, não é feito para superar as desigualdades, mas para reproduzi-las. Apesar de termos conquistado a lei de cotas, que é uma conquista do movimento feminista, do movimento negro, do movimento social, ele é uma conquista ínfima, pois é cota de candidaturas, mas ela não garante que sejamos eleitas, se não temos dinheiro, se não temos o tempo e o apoio necessário para isso”, reforçou Carmen Silva.
A deputada Talíria Petrone destacou a necessidade do movimento feminista e de mulheres seguir organizado e nas ruas, já que política se faz todo dia. Política se faz em casa, nas ruas, nos espaços institucionais, pelo bem viver, pela vida das mulheres do campo, das águas e das cidades, por soberania alimentar. Talíria enfatizou:
“Essa é uma Marcha em homenagem a Margarida Alves. Uma mulher trabalhadora rural, camponesa que foi assassinada por aqueles que amam o latifúndio, por aqueles que desde o Brasil é Brasil, não querem socializar a terra, por aqueles que jogam veneno na comida das trabalhadoras e trabalhadores. Não terá sido em vão, por Margarida Alves, por Marielle Franco, por todas aquelas que foram vítimas de violência política, nós estaremos organizadas. É por aquelas que tombaram que seguiremos organizadas para reconstruir esse país pelas nossas mãos”.
*Texto e fotos: Fran Ribeiro (SOS Corpo) para a Cobertura Colaborativa de Comunicação Popular da AMB na Marcha das Margaridas 2023.