Mulheres negras escritoras são uma realidade há mais tempo que o racismo possa querer. Fomos criadas na lógica do silenciamento da história das mulheres negras, da sua memória e do que é o conhecimento de sua ancestralidade. Mas o ato de colocar em palavras escritas aquilo que as move, transforma e atravessa, segue sendo um afrontamento e um ato de resistência pelo bem viver.
Se a teoria e prática racistas querem seguir impondo uma história unilateral, as mulheres negras, secularmente, fazem o enfrentamento cotidiano para narrar outras formas de ser e existir nesse mundo, quebrando as regras do silenciamento. A literatura é, então, um campo estratégico de luta, pois através dele as escritoras contam histórias que fogem da experiência comum imposta pelo branqueamento social. Ao apresentar outros horizontes possíveis para um imaginário coletivo ainda dominado pelas opressões marcadas pelo gênero, pela raça e pela classe, mulheres negras contam suas histórias, escrevem vivências que são as vivências de muitas e que são daquelas que já se foram deste mundo também.
Se escrever é ainda um desafio para algumas, como fazer com que essas histórias tomem diferentes caminhos em uma sociedade cada vez mais virtualizada? Os desafios da produção e autoria das mulheres negras na literatura e como incentivar a leitura em um contexto de mundo dominado pela mídia digital são alguns dos elementos que serão debatidos na Ação Cultural Feminista que integra a Agenda Coletiva da 11ª edição do Julho das Pretas.
Na próxima segunda-feira, 24 de julho, às 18h30, receberemos três convidadas que vão conversar com Rivane Arantes sobre a Autoria das Mulheres Negras na Literatura. São elas:
Joaninha Dias: negra mulher, gorda, 40 anos, filha de Ana, Miró e Marcelo. Mãe de Letícia. Candomblecista e Juremeira. Poeta, periférica, pansexual, poliamor, pernambucana de Recife. Preta Professora na Rede Pública de ensino. Escritora erótica, faladeira de histórias ancestrais, autora de atividades pedagógicas afrocentradas, militante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e empenhada na luta diária contra o racismo e na garantia de segurança alimentar, dignidade e justiça para o povo preto;
Crislaine Venceslau: poeta nascida em Tejucupapo/PE. Filha biológica de Eliene Gomes, e de criação de Josilene Maria Bandeira Venceslau e de tantas mulheres do quilombo que cuidaram dela enquanto sua mãe trabalhava de empregada doméstica e o pai cortava cana. É mulher quilombola, negra, bisexual, turismóloga, mestranda em antropologia pela UFPE e produtora cultura. Escreve e produz o zine independente “Atravessamentos” (2022). Escreve e conta histórias desde criança quando ouvia histórias da avó Dona Pequena. “A ancestralidade me ensinou a contar e hoje sou eu quem conto e escrevo”, disse.
Valterlane Silva: Escritora, poetisa, bailarina e contadora de histórias. Nascida em Vitória de Santo Antão/PE, filha de Dona Maria e mãe do Théo. Em 2020 passou a integrar o coletivo Teia Literária Vozes e lançou o livro de poemas: Ecos da Resistência. No seu Studio de Dança Bailarinando, desenvolve o projeto Plié Literário, que reúne aulas de balé clássico e incentivo à leitura literária. ENTRANHAS é seu primeiro livro solo e em 2022 recebeu o prêmio de melhor livro de poesia artesanal pela FLIPO – Festa Literária Internacional de Ipojuca.
Além do debate, a Ação Cultural Feminista vai contar com a apresentação musical de Ana Benedita Costa Egbamé, Iyawonseledés do Ilê Obá Aganjú Okoloyá (Terreiro de Mãe Amara). Ala de canto do Afoxé Oyá Alaxé, estudante de Gestão da Informação da UFPE. Ana Benedita é cantora, atriz e ativista do movimento de mulheres negras e antirracista, integrante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, idealizadora e articuladora da Feira das Mulheres Pretas e afro-empreendedora da Iyá Sabores, marca de alimentos que trás o amor pra seu paladar.
A mediação do bate-papo será de Rivane Arantes, educadora e pesquisadora do SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia, militante do Fórum de Mulheres de Pernambuco e Rede de Mulheres Negras de Pernambuco.
A Ação Cultural Feminista, que integra a agenda coletiva da 11ª Edição do Julho das Pretas, que em 2023 tem como tema Mulheres Negras em Marcha por Reparação e Bem Viver, contará ainda com exposição de obras das autoras e bazar do Fórum de Mulheres de Pernambuco.
Contamos com a presença de todes vocês!
SERVIÇO:
Ação Cultural Feminista Julho das Pretas – Autoria de Mulheres Negras na Literatura
Quando: 24 de julho (segunda-feira)
Hora: 18h30
Local: SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia
Rua Real da Torre, 593, Madalena – Recife.
Informações: 81 3087-2086 ou 81 99852-0202
Instagram: @soscorpo.feminista
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