“A pobreza não é fruto da pandemia, assim como não é fruto da pandemia o surgimento de 20 novos bilionários no Brasil”

2

“A pobreza não é fruto da pandemia, assim como não é fruto da pandemia o surgimento de 20 novos bilionários no Brasil”

Mulheres do MTST de Pernambuco constroem uma horta comunitária. Foto Larissa Brainer/MTST PE

A pandemia da covid-19 no Brasil fez surgir um novo conjunto de demandas na sociedade, consequências diretas da pandemia. O uso de máscaras, a higienização constante das mãos, distanciamento social e respeitar estas e outras recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) passaram a ser as principais e praticamente as únicas medidas para nos protegermos contra o coronavírus. Contudo, essa nova demanda encontra um Brasil desestruturado, extremamente desigual, uma vez que o acesso à água potável não existe para uma grande parcela da população. O alargamento da situação de fome, apesar da influência direta com as consequências da pandemia, não é fruto dela, como salienta o militante do Movimento das/os Trabalhadoras/es Sem Teto (MTST) em Pernambuco, Rud Rafael. 

“A pobreza não é fruto da pandemia, assim como não é fruto da pandemia o surgimento de vinte novos bilionários no Brasil durante a pandemia. São as raízes do Brasil e as medidas do que agiu em favor dela, em favor da morte, em favor da fome, em favor da pobreza, que geraram o cenário que a gente tem hoje. O cenário que é de volta da carestia, de uma fome absurda voltando às periferias, atingindo as classes populares”, analisou. O MTST é uma das organizações que desde antes da pandemia tem lutado para tirar milhares de famílias das situações de vulnerabilidade que são consequência de estruturas excludentes. 

“Na sociedade brasileira, a pandemia de alguma forma se agravou por um contexto de desigualdade dos mais brutais do mundo. Esse é um elemento de crise política, de crise socioeconômica que tava dado na sociedade brasileira, fruto de elementos históricos como patriarcado, como o colonialismo, o neoliberalismo e agora com esse assentamento fundamentalista e autoritário. Então, encontrou no Brasil, um momento extremamente dramático, que fez com que a pandemia tivesse consequências ainda mais graves. A pandemia encontrou o Governo Federal, com sua perspectiva negacionista, de subestimar o seu impacto e de agir concretamente pra que ela se tornasse um genocídio”, emendou o educador.

De acordo com Rud, a pandemia tem colocado como aprendizado para os movimentos sociais a urgência e a necessidade real de uma revolução solidária no Brasil. O MTST, que coloca a solidariedade de classe como política de atuação do movimento, alia a defesa e fortalecimento de políticas públicas com ações como a campanha Periferia Sem Fome, lançada em 2019. Desde o início da pandemia, o movimento construiu um fundo que arrecadou recursos que possibilitaram distribuir mais de duzentas toneladas de alimentos às famílias das ocupações e das periferias, além de ter criado cooperativas de produção de máscaras e  de ampliação das cozinhas solidárias. 

“Agora a gente está com a campanha que visa tornar as cozinhas solidárias uma política territorial do MTST, pautando a questão dos direitos, de que a vida deve estar acima do lucro e de que a gente precisa pensar e retomar um pensamento sistêmico por parte dos movimentos sociais. Não dá pra passar por essa pandemia sem sepultar o neoliberalismo, sem sepultar o patriarcado, sem sepultar o colonialismo. A gente entende que ser solidário hoje é ser solidário na perspectiva de classe, de raça e de gênero, enfrentando essas desigualdades estruturais e criando uma outra lógica de viver em sociedade. Não dá mais para pensar que a gente quer um novo normal, de voltar às condições que a gente vivia antes. A gente quer resgatar um sentido de esperança, de utopia, que mostre que os movimentos sociais são capazes de pensar um novo sistema focado e calcado na ideia de vida, na ideia de comuns, na ideia de coletividade e de solidariedade”, enfatizou.

Sobre a Campanha Cozinhas Solidárias:

Em Pernambuco, a primeira Cozinha Solidária está em fase de construção. O MTST está arrecadando utensílios de cozinha e eletrodomésticos para equipá-la. Para saber como doar, acesse o perfil do MTST PE no instagram: @mtstpernambuco. Na segunda fase do projeto o MTST Brasil quer ampliar a meta para abertura de 10 cozinhas, chegando a um total de 26 Cozinhas Solidárias em todo o país. Para contribuir com a campanha, acesse o link:
apoia.se/cozinhasolidaria.

2 thoughts on ““A pobreza não é fruto da pandemia, assim como não é fruto da pandemia o surgimento de 20 novos bilionários no Brasil”

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Next Post

Movimentos populares organizam debate sobre conjuntura política no Nordeste

sex maio 7 , 2021
A proposta do evento é construir um posicionamento político unitário dos movimentos sociais do Nordeste, no tocante ao desmonte das políticas públicas e contra a postura genocida do Governo Federal em relação à pandemia e a perseguição aos defensores/as dos direitos humanos.