Campanha Nacional contra os Feminicídios no Brasil é lançada nesta quinta, 25

O Levante Feminista Contra o Feminicídio lança nesta quinta-feira, 25 de março, às 10h a Campanha Nacional contra os Feminicídios no Brasil #NemPenseEmMeMatar. Formado por uma articulação de 340 coletivos, movimentos e organizações feministas do país que se uniram para denunciar o contexto de guerra às mulheres que hoje toma o país. O lançamento acontece ao vivo, em transmissão no canal do Levante Feminista no Facebook, que pode ser acessado pelo link: https://www.facebook.com/LevanteFeminista2021.

No Manifesto da Campanha #NemPenseEmMeMatar, que já tem mais de 35 mil assinaturas e segue aberto para adesão até esta quinta-feira, o movimento enfatiza: “A matança de mulheres é um verdadeiro genocídio que se soma ao genocídio negro e indígena, e ao genocídio sanitário no contexto da pandemia que ceifa milhares de vidas sob o descaso do desgoverno.”

Conheça o manifesto #NemPenseEmMeMatar: http://bit.ly/3vvuIVy

CAMPANHA #NEMPENSEEMMEMATAR DENUNCIA CULTURA FEMINICIDA E NÚMERO ALARMANTE DE MORTES NO BRASIL

Mulheres de Norte a Sul do país se mobilizam em frente feminista para dizer que está em curso uma guerra sangrenta contra as brasileiras. Embora o crime de feminicídio esteja no Código Penal desde 2015, o assassinato de mulheres– apenas por serem mulheres – cresce diariamente no Brasil. No primeiro semestre de 2020, ano em que a pandemia de Covid-19 se alastrou pelo mundo impondo a necessidade de isolamento social, foi registrado um aumento de 1,9% desse crime de ódio. Naqueles primeiros seis meses, foram mortas 648 brasileiras, a maioria negras e vivendo em desigualdade social. No Brasil, 89,9% dos feminicídios de mulheres cisgêneras são cometidos por companheiros e ex-companheiros das mulheres por razões terríveis: 45% fim do relacionamento; 30% ciúmes e 17% discussões.

As mulheres negras são mortas em maior número: 66,6%. Em Pernambuco, os homicídios contra mulheres cisgêneras tiveram um aumento da ordem de 19,1%, quando comparados os períodos de janeiro a dezembro dos anos de 2019 e 2020. De acordo com dados não oficiais, existe uma grande chance de os registros de feminicídio da Secretaria de Defesa Social estarem sendo feitos de maneira errônea: notificações de homicídios e lesões corporais graves seguidas de morte praticados contra as mulheres, quando, na verdade, deveriam ser registrados como feminicídio. Nesse caso, Pernambuco ocupou um alarmante 2º lugar, em 2020, atrás apenas de São Paulo, em casos de feminicídio. Dados como esses, além da falta de políticas públicas são ainda mais graves em um país que já ocupava o 5º lugar entre as nações que mais matam suas mulheres antes da pandemia. Com o objetivo de denunciar a omissão do Estado e exigir a proteção da vida delas, nasce o Levante Feminista contra o Feminicídio, frente suprapartidária que lançará, no próximo dia 25, a campanha “Nem Pensem Me Matar”, apoiada nesta ideia: “Quem mata uma mulher mata a humanidade! “

Cruéis, brutais e desumanos são também os casos e dados de transfeminicídio no Brasil. País que mais mata travestis e transexuais no mundo, os assassinatos da população trans têm gênero feminino. Em 2019, 97,7% dos assassinatos desta população foram de travestis e mulheres trans; sendo 100% em 2020***. Verificou-se também que 77% desses crimes se caracterizaram por requintes de crueldades, sendo por armas de fogo, armas brancas, espancamento, estrangulamento, asfixia, afogamento, violência sexual, degola, mutilações, esquartejamento, associação cruzada, tortura e carbonização. Tal associação revela que assassinatos de travestis e mulheres trans são a mais evidente expressão de ódio ao gênero feminino. Coração arrancado por cacos de vidro, e substituído por uma imagem de santa, como em uma macabra e bizarra cena de exorcismo de demônios.

Os assassinatos contra travestis e mulheres trans não aumentaram apenas percentualmente, mas em números absolutos: de 121 em 2019 para 175 em 2020. Tais números também nos trazem os recortes de 78% de pessoas pretas e pardas, 56% de jovens e 72% de profissionais do sexo. Com 90% destas mulheres na prostituição, e 13 anos a idade em que são expulsas do ambiente familiar, se escancara o ciclo de exclusões, violências e violações de direitos que leva à precarização e vulnerabilização das suas vidas.

Sem o acolhimento familiar e hostilizadas no âmbito escolar, 72% não possuem o ensino médio, e apenas 56% possuem o ensino fundamental, o que potencializado pelo estigma social, compele este recorte a se prostituir como única forma de renda, expondo-as a todo tipo de violência psicológica, social, institucional, física e morte.
A queda na idade da vítima mais jovem registrada por ano (de 15 anos em 2019/20, para 13 anos em 2021) revela um projeto de transfeminicídio precoce, precarizando e aniquilando vidas cada vez mais cedo.

A articulação foi iniciada por Vilma Reis, socióloga, referência dos movimentos negros no país, integrante da Coalizão Negra Por Direitos, Marcia Tiburi, filósofa, escritora e artista, e Tania Palma, pesquisadora e assistente social. O Levante, que rapidamente ganhou corpo, é formado por cerca de 200 pessoas que se articulam remotamente para a construção de uma ação conjunta pela vida das mulheres. Entre elas, estão mulheres negras, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, das águas, das florestas, antiproibicionistas, parlamentares, dos movimentos LBTQIA+ e de outros segmentos das organizações populares e da sociedade civil.

Em manifesto construído de forma coletiva e tornado público no dia 12 de março, a frente pontua, de forma contundente, que a existência de uma “cultura de ódio” direcionada às mulheres brasileiras precisa chegar ao fim, e que a prática do crime de feminicídio “nunca esteve tão ostensiva e extremista” quanto agora, no governo de Jair Bolsonaro e sobretudo no contexto da pandemia do novo coronavírus. Em três dias, o documento obteve mais de 8 mil assinaturas.

Entre as denúncias, o Manifesto afirma que “ideias e atitudes misóginas transformaram-se em comportamento aceito e legitimado pela sociedade, contaminando o Executivo, o Legislativo e o Judiciário capaz de sentenças sexistas e de ressuscitar arcaicos argumentos da ‘legítima defesa da honra’ e da ‘passionalidade’ como uma espécie de ‘mérito’ para absolver criminosos. Isso confirma a negligência e inoperância do Estado Brasileiro no enfrentamento à violência contra as mulheres”.

Traça também o perfil dos matadores: “são homens que não admitem a autonomia, a igualdade e a liberdade das mulheres. São machistas, violentos que querem a redomesticação e o afastamento das mulheres da vida pública…”; “usam a violência física, psicológica, moral, sexual e patrimonial contra mulheres e seus filhos até o extremo, que é o ato do feminicídio”.

Um Levante pela vida das mulheres e pelo fim do feminicídio

Márcia Tiburi conta que a ideia de se juntar a outras mulheres contra este crime de ódio surgiu exatamente pela urgência em combater o desamparo e a negligência. “O patriarcado é um juramento de morte contra as mulheres pelos mais diversos motivos, sempre torpes”, afirma.

A filósofa espera criar, com suas companheiras, condições para superar a velha cultura feminicida. “Trata-se de uma guerra sangrenta que precisa parar. O que desejamos com a nossa campanha é estancar esse banho de sangue que vem sendo promovido pelo machismo e pela espetacularização da violência que dele faz parte.”

A campanha, que está em ebulição nas redes sociais, terá ações pontuais em cada estado, organizadas pelas mulheres que vivem e conhecem a realidade específica do feminicídio em cada lugar. Para isso, estão sendo criados materiais de comunicação, exaltando a imagem dos girassóis amarelos, símbolo do Levante, que figura como sinal de esperança e celebração da vida. Com a hashtag #NemPenseEmMeMatar, a frente busca atingir um público amplo, e disseminar a ideia de que a violência contra a mulher é um problema que afeta não só as famílias, mas a sociedade inteira.
Em Pernambuco, a campanha também está a todo vapor.

Segundo Ingrid Farias, pesquisadora, membra da Rede Nacional de Feministas Antiproibicionista e da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, “A campanha nacional contra o feminicídio surge no contexto onde o Brasil sofre as violações de todos os direitos das populações que são vulneráveis historicamente.” A pesquisadora fala ainda que, mesmo com alguns avanços de políticas e de direitos, a violências contra as mulheres “é um fenômeno que está cada vez mais crescente, especialmente entre as mulheres negras”. A importância da campanha reside, então, na “necessidade de preservar a vida das mulheres; preservar, inclusive, a possibilidade de a gente poder estar em rede, fazendo mobilizações e organizar redes de apoio para poder garantir a vida de todas as mulheres de todos os lugares do Brasil.” “É uma campanha de todas as mulheres; das mulheres em suas diversidades.”

Interessada/e/o em apoiar financeiramente? Acesse: http://bit.ly/2OE7mMS

*Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
**Fonte: Pesquisa do Ministério Público de São Paulo.
***Fonte:http://observatorioseguranca.com.br/category/feminicidio-e-violencia-contra-mulher/
****Fonte: O Brasil aparece no quinto lugar em uma lista da Organização Mundial da Saúde (OMS)de países com maior número de feminicídios, atrás apenas de El Salvador, Colômbia, Guatemala e da Rússia.
*****Fonte: Dossiê dos assassinatos e da violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2019 / Bruna G. Benevides, Sayonara Naider Bonfim Nogueira (Orgs). – São Paulo: Expressão Popular, ANTRA, IBTE, 2020 80p.
******Fonte: Dossiê dos assassinatos e da violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2020 / Bruna G. Benevides, Sayonara Naider Bonfim Nogueira (Orgs). – São Paulo: Expressão Popular, ANTRA, IBTE, 2021 136p.

LEVANTE FEMINISTA CONTRA O FEMINICÍDIO

Campanha #NemPenseEmMeMatar #QuemMataUmaMulherMataAHumanidade
Lançamento nacional: 25/03/2021, a partir das 10:00 horas
Local: Canal do Levante Feminista no Facebook: https://www.facebook.com/LevanteFeminista2021

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